Capítulo 8

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Obviamente, Gabriel não ficou nada feliz. De novo. Dois encontros com a mesma mulher e nos dois ele terminava com a camisa molhada.

Durante toda a semana, ele esteve nervoso com os exames anuais que estavam marcados para aquela manhã. Havia acabado de sair da clínica médica e precisava aliviar um pouco da tensão. Resolveu parar para tomar café naquela banca simpática, tão movimentada e alegre, antes de passar no escritório para rever uns relatórios. Ele havia se mudado recentemente para região, para um apartamento maior e mais próximo do trabalho e ainda estava explorando os melhores locais ao seu redor.

Optou por um expresso para cortar todo aquele nervosismo que se passava em sua consciência, mas percebeu que não estava disposto a algo tão forte. Voltou para o balcão para colocar um pouco de creme em seu copo. Já havia dado um passo para longe do balcão, quando sentiu um líquido quente em seu abdômen. Quando olhou para baixo, viu os mesmos cabelos castanhos avermelhados, porém olhos verdes bem vivos encarando-o em puro terror.

— Você de novo.

Sofia ficou em dúvida se o tom dele sugeria uma afirmação ou uma pergunta, mas resolveu assentir para confirmar. Algo impedia que sua língua funcionasse, ela não conseguia responder.

— Vejo que nos encontramos em circunstâncias similares. É um hábito seu abordar as pessoas dessa forma?

O tom irônico de Gabriel despertou Sofia do seu torpor e seu rosto rapidamente passou de branco como um papel para vermelho vivo.

— Posso garantir que não foi a minha intenção derrubar outra bebida em você — Pelo menos ela tinha encontrado a voz novamente e ela nem tremeu. Soou firme, totalmente ao contrário do que ela sentia internamente.

— Bom, desculpas aceitas então.

— Eu não pedi desculpa.

— Não acha que deveria? — O canto da boca de Gabriel se levantou em um leve esboço de sorriso.

— Deveria, mas como não foi intencional, você também não precisa ser tão rude.

— Tenho certeza de que perdi minha gentileza entre o vinho gelado e o café escaldante. Vou me esforçar mais na próxima vez em que você derrubar algo em mim. Espere que encontre alguma bebida com temperatura não tão extrema, por favor.

Sofia estava indignada e não sabia como responder a tanto sarcasmo. Logo ela que nunca ficava sem palavras. O melhor era resgatar o que restava da sua dignidade e sair dali o quanto antes.

— Eu sinto muito pelos dois episódios e, com certeza, tentarei não repeti-los. Tenha um bom dia.

Sofia não deu chance para que Gabriel respondesse e saiu em disparada para a loja. Quanto antes chegasse na confeitaria e focasse no trabalho, antes esqueceria aquele terrível encontro com aquele terrível homem. Contudo, Gabriel era alto e, com suas pernas longas, era rápido. Ele gritou e estendeu a mão para pegar em seu braço.

— Espere.

Sofia voltou-se para ele sem dizer uma palavra.

— Eu aceito suas desculpas e sinto muito pela minha reação — Gabriel estava sendo injusto com ela e descontando sua tensão em alguém inocente. Colocou seu melhor sorriso no rosto, aquele que conquistava qualquer mulher. Contudo, aparentemente não estava funcionando com Sofia. Ele tentou novamente.

— Bem, você parece um pouco familiar.

— Eu estava no jantar ontem à noite, do outro lado da taça de vinho, caso não se lembre — Sofia ironizou.

— Não estou falando desse — ao verificar o olhar de Sofia, tomou mais cuidado nas palavras — encontro não intencional.

Sofia não pode acreditar que ele ainda estava brincando com toda a situação. Virou-se novamente para ir embora.

— O que eu quero dizer é que você lembra alguém que eu conheço.

— É mesmo? E quem seria? Uma de suas ex-namoradas? — Sofia caçoou.

— Não, acho que não, você não é exatamente o meu tipo — explicou Gabriel.

— Grata pelo esclarecimento. Até mais. — Gabriel não gostava de se esquecer das coisas, ou pessoas, e estava fazendo um esforço enorme para assimilar aquela moça a alguém.

— Ali! — exclamou — Você tem os mesmos olhos de Alice. Você é parente da noiva?

— Irmã. — Sofia esclareceu. E Gabriel foi incapaz de esconder sua surpresa.

— Oh.

— O que foi esse "oh"? — Sofia não gostou nada do tom que ele usou, parecia muito com desagrado.

— Vamos nos ver bastante então — e acrescentou ironizando — para felicidade de ambos.

— E você é...? — Sofia aguardou.

— Gabriel Lanvini, um dos melhores amigos do noivo e provável padrinho a seu dispor — Ele fez uma reverência galante e pegou na mão dela. — Muito prazer.

— Desprazer, você quer dizer. — Sofia apontou.

— Eu estava tentando ser educado. Diferente de algumas pessoas — censurou Gabriel. Ele estava fazendo um esforço hercúleo para ser agradável com a moça, ainda mais agora que sabia que ela seria parte da família de Tomás, porém ela não facilitava. — Veja bem, acredito que o melhor a se fazer é mantermos distância. Assim todo o casamento será mais tolerável para os dois. Não concorda?

Sofia não teve como negar que ele estava certo, mas também não queria admitir isso.

— E também mais seco — Gabriel não resistiu em acrescentar com um sorriso. Ele era exasperante e Sofia desistiu de tentar ser civilizada com ele. Dessa vez foi embora sem olhar para trás e ele não a seguiu.

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