Capítulo 13

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 A vinícola onde seu pai e Angélica moravam ficava a duas horas de distância de Azevedo, porém há apenas 20min da cidade mais próxima, então eles tinham tudo de que precisavam há uma curta distância e nunca vinham para a cidade grande.

Como a viagem era longa e ele estava indo para um jantar em que não escaparia de experimentar diversos vinhos, optou por contratar um motorista. Ainda que gostasse de dirigir em estradas, não precisaria se preocupar em controlar a quantidade de álcool ingerida e com a sua segurança no retorno para casa. Afinal, ainda estavam no meio da semana e amanhã precisava estar novamente no escritório. Dessa forma, saiu no meio da tarde para chegar à casa do pai cedo e não voltar tão tarde.

Toda vez que o carro se aproximava do caminho ladeado de frondosas e antigas árvores que levavam até a sede da vinícola, as memórias da infância de Gabriel retornavam. Não aquelas felizes que passou com a sua mãe, mas as confusas e dolorosas que não o impediam de soltar um profundo suspiro.

Talvez parte dele quisesse que o seu pai não o tivesse deixado tantas vezes sozinho para lidar com as angústias da sua juventude. Como a vez em que seu professor chamou Raul na escola para falar das notas baixas de Gabriel após a morte da mãe e que ele não conseguiria ingressar em nenhuma universidade se continuasse seguindo aquele caminho. Tudo que Raul fez foi lhe dar mais espaço, ainda mais espaço.

Gabriel não queria espaço, ele queria um pai presente e dedicado como outrora havia sido. Aquele que lhe ensinou a andar a cavalo nas fazendas, lhe contou tantas histórias sobre tempos antigos e brigou com ele quando ele acertou uma bola de futebol na janela do vizinho. Aquele pai partiu no mesmo dia em que sua mãe. E o que ele estava prestes a encontrar era uma versão reservada e distante, ainda que extremamente carinhosa com Angélica.

Ele suspirou novamente, mais alto, fazendo com que o motorista olhasse para ele pelo retrovisor. Talvez ele só quisesse ter o que seu pai tinha com Angélica, alguém para se abrir e compartilhar. O que era impossível para o futuro que lhe cabia. Então porque pensar nisso? Em poucas horas estaria em sua casa novamente e esqueceria todas essas reflexões que a ida ao campo lhe proporcionava.

O veículo parou na entrada. A casa era grande e pertenceu a uma antiga família italiana, mas como nenhum filho quis assumir o negócio, o proprietário vendeu tudo para seu pai. E assim Raul Lanvini tornou-se vinicultor e produtor de vinhos famosos que figuravam nos melhores restaurantes do país. Claro que seu pai teve que estudar e se dedicar muito para entender sobre o negócio, porém, com a ajuda de Angélica, logo dominou a plantação de uvas, os tipos de barris e armazenamento, e as características e processos que tornavam seu vinho tão único e desejado.

Quando saiu do carro, seu pai e Angélica já o esperavam na base da escadaria. Com suas roupas simples e sorrisos, eram o retrato da feliz vida no campo.

— Seja bem vindo, filho.

— Obrigado pai. — Deu aquele abraço misturado com tapinha nas costas do pai. Ele nunca sabia exatamente como cumprimentá-lo.

— Angélica, encantadora, como sempre. — Elogiou e deu um beijo no rosto dela. Não importava a idade, ele sempre teve jeito com as mulheres.

— Obrigada Gabriel. Vamos entrar que o jantar está quase pronto. E seu pai quer lhe apresentar um novo produto em que está trabalhando.

Raul sempre se empolgava quando falava sobre seus produtos. Ainda que houvesse distância entre pai e filho, Gabriel dava toda atenção para o negócio que preenchia os dias de seu pai.

— Estou trabalhando em uma nova combinação de uvas e encomendei outro tipo de barril de carvalho que pode mudar bastante o sabor da composição. Gostaria que você provasse e desse a sua opinião detalhada do que sente.

Angélica revirou os olhos e foi para a cozinha verificar o jantar, enquanto os homens se dirigiram para o pequeno bar que Raul montou em um canto da sala. Segundo ele, a finalidade era facilitar a degustação dos vinhos para seus convidados, contudo Angélica sabia quais eram as reais intenções dele.

— Angie, aceita uma taça? — Raul gritou quando ela cruzava a porta da cozinha.

— Não, obrigada, prefiro ficar na água hoje.

— Tudo bem — Raul respondeu e se voltou para Gabriel — Às vezes ela tem crises de dor de cabeça, melhor não abusar do vinho mesmo.

Gabriel observou a cena, identificando o carinho entre os dois. Nunca se aproximou de Angélica, mas era evidente que ela fazia seu pai feliz e eles cuidavam um do outro. Se era amor verdadeiro, ele não sabia reconhecer.

— Muito bem, prove com atenção. — Raul entregou a taça ao filho.

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