3. DECISÃO

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— A GENTE PRECISA CONVERSAR.

A aula havia acabado de terminar. Os alunos já saíam da sala, alguns poucos ainda em torno da professora para jogar conversa fora. Fernando e Hilton ainda chegaram a olhar para ela e acenar, porém, ao perceberem a situação, foram embora. Tássia viu os dois conversando logo após o intervalo, daquele jeito que ela sabia (e até invejava) que faziam quando tinham conversas mais serenas.

Sabia muito bem qual era o assunto que pautava o diálogo entre os dois.

Olhou para Patrick. O namorado ainda arrumava as coisas dele como se o mundo pudesse e tivesse de esperar sua boa vontade. Ela buscou algum resquício de paciência e repetiu a afirmação que tinha feito a pouco.

— A gente precisa conversar.

— Sim, sim, tô sabendo. Calma aí — jogou o caderno de qualquer jeito na bolsa, deu uma olhada no celular e sorriu para a namorada daquele jeito de menino sem preocupações. — Bora pro cinema?

— Quê? Cinema?

— É. Tu não quer conversar?

— Sim, Patrick. Conversar sério, cara a cara, olho no olho. Não no cinema.

Os ombros do garoto despencaram.

— Cara, hoje tu tá difícil, viu? Porra, é só uma nota, Tassinha. Relaxa!

Tássia sentiu um arrepio correr das pernas para as costas.

— É exatamente sobre isso que eu quero conversar.

— Sobre a tua nota?

— Não, Patrick. Não sobre a minha nota. Isso é algo que só tem a ver comigo. É minha responsabilidade. — O namorado bocejou e esfregou os olhos. — Eu quero conversar sobre a gente, sobre nós.

— Tá legal. Fala. Tô te escutando. Mas já aviso que se for coisa de grupo de estudo de Física, tô fora viu? Já te disse que, pra mim, não faz sentido. Física não entra na minha cabeça e ponto final. Dessa vez, tu vai ter que estudar sozinha porque...

Dessa vez, Patrick?

— É.

Tássia olhou ao redor e descobriu que os dois estavam sozinhos, apenas o ronco do ar-condicionado como testemunha daquela conversa.

— Tu nunca me acompanhou em nada e agora quer vir com graça de que, "dessa vez" eu vou ter que estudar sozinha? É sério isso?

— Tássia, eu já disse que pra mim algumas coisas não fazem sentido. Além disso, esse cursinho meio que é só pra fazer graça, né? Eu já te perguntei um milhão de vezes o porquê de tu não ir pra mesma faculdade que eu. Seria mais simples e a gente podia aproveitar mais.

— Aproveitar mais o quê? Os teus jogos? Patrick, eu quero ir pra UFMA! Ponto. Eu vivo dedicada a isso: passar na Universidade Federal. Essa é a minha prioridade — e acrescentou: — Minha prioridade acima de tudo.

— Beleza. É tua decisão. É sobre isso que tu queria conversar? — Ergueu o celular e apontou para a tela. — Olha, ainda dá tempo de ir pro cinema. Tem uma sessão que começa... deixa eu ver... às treze e dez. A gente pode ir, almoçar e depois...

— Eu quero terminar.

Patrick não pareceu escutar. Havia acabado de entrar no YouTube para ver os trailers e as análises sobre os filmes em cartaz nos cinemas de São Luís.

Amor em Tempos de ENEMOnde histórias criam vida. Descubra agora