28. O SEGREDO DE BRENO

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PASSAR PELO PORTEIRO FOI MAIS FÁCIL DO QUE ELA IMAGINOU. De fato, no meio de uma tarde de domingo, um calor dos infernos, o homem dormia o bom sono dos justos na guarita refrigerada quando deu um pulo ao ver o rosto da garota no vidro. Grogue, os olhos cheios de cansaço, limitou-se a perguntar o nome do morador que ela queria visitar. Depois, ligou para a casa de número 9 e permitiu a entrada de Tássia. Ao constatar que Breno estava em casa, suas pernas tremeram, mas apressou-se em passar pelo portão e foi em frente.

"E pensar que em outros tempos eu estaria em casa desesperada por ter perdido o simulado...", constatou ao parar em frente ao gramado da residência.

Não havia como negar que aquela era a casa de um garoto solteiro de pouco mais de dezoito anos. As casas vizinhas, reformadas e expandidas, ainda mantinham resquícios do padrão de quando foram entregues aos donos. Já a casa de Breno era o básico do básico do básico. Sem contar que o gramado estava alguns centímetros mais alto do que os demais e a fachada apresentava falhas na pintura aqui e ali. Havia uma bicicleta jogada na varanda e latas de cerveja vazias.

"Muito responsável... Sei!"

Caminhou até a porta, tomou fôlego, tornou a se questionar o que fazia ali e bateu três vezes. Escutou som de correria e de arrastar de móveis. Logo, cabelo molhado e expressão na defensiva, Breno escancarou a porta. Estava na cara que havia tomado banho às pressas, talvez na hora em que o porteiro ligou. A camiseta, sempre de mangas compridas, estava molhada e vestida do avesso. O calção florido, amarrotado. O cheiro de sabonete recendia. Ele estava com meia em apenas um dos pés.

Depois de medir a colega de cima a baixo, fez uma pergunta de boas-vindas:

— O que você tá fazendo aqui?

"Mais caloroso, impossível."

— Eu... Eu só queria conversar. É que... Bom, tu não aparece no cursinho há dias, faltou ao simulado...

— E você também, né? — Cruzou os braços e encostou-se ao batente. — Decidiu seguir o meu conselho e ficar menos paranoica?

— Pior que foi — ela admitiu.

A resposta fez o rapaz se desarmar. Descruzou os braços e tirou o sorriso de ironia do rosto.

— E agora cê pensa que a culpa é minha? Por isso veio aqui assim, do nada?

— Não! É que... Ah, sei lá. Aquela nossa conversa na biblioteca me ajudou. De alguma forma, eu quero dizer. Mas o negócio é que parece que tu não parece seguir mesmo as coisas que diz. E aí, o Fernando...

— Claro.

— Que foi?

— A mania dele de analisar as pessoas é meio irritante, não acha?

— Muita gente gosta.

— "Muita gente" não é todo mundo — coçou atrás da orelha e olhou para as latas de cerveja. Só aí pareceu se lembrar do lixo deixado ali. — Ãh... Bem, o que ele disse?

— Que acha que tu está com depressão.

Breno balançou a cabeça e sorriu. Tássia se preparou para a chegada de algum comentário sarcástico, mas errou rude.

— Filho da mãe desgraçado! — Olhou para cima, displicente. — Acertou, o miserável.

— E tu diz isso assim? — ela se exasperou. — Nessa calma?

Amor em Tempos de ENEMOnde histórias criam vida. Descubra agora