— E TU RESPONDEU O QUÊ?
Tássia encarou Fernando com ar de cansaço.
— Pelo sim, pelo não, eu prometi pensar no assunto. Eu ia responder mais o quê?
— Bom, sejamos sensatos que terminar nunca foi uma decisão que tu tomou com certeza absoluta, né, Tássia?
Ela assentiu.
— A conversa que eu tive com ele ontem me deixou com ainda mais dúvida.
— Sobre voltar?
Ela deixou um grupo de meninas passar por eles até se sentir mais segura para falar.
— Não só sobre voltar. Também tem a questão de saber se as mudanças que ele aparenta são por vontade própria ou se são só pra chamar atenção.
— Ou esconder alguma coisa...
O comentário saiu boca afora sem Fernando conter.
— Esconder o quê, por exemplo?
— Esconder medos, Tássia. Pode parecer besteira minha, mas eu tendo a desconfiar quando alguém entra nesse desespero de aparentar alguma coisa — garantiu que não tinha ninguém por perto e baixou o tom de voz. — Ainda mais indo atrás de anabolizante pra acelerar o processo.
— Isso é o que mais me preocupa, Fê.
— Tássia — Fernando pegou a mão da amiga —, promete que tu não vai voltar só por pena?
— Fê...
— Tássia, por favor. Promete.
A garota se limitou a reforçar o aperto de mãos. Agradeceu ao universo quando Hilton chegou e abraçou o namorado. Pegou suas coisas e tratou de se afastar com a desculpa de deixar o casal sozinho.
Às vezes, tinha a impressão de que Fernando conseguia ler mentes.
***
NAQUELA TERÇA-FEIRA, TÁSSIA DECIDIU SE MANTER BEM DISTANTE DE PATRICK. Por sorte, o próprio garoto parecia disposto a dar o espaço que ela precisaria para pensar. Contudo, como Raquel disse para ela durante o intervalo, até isso parecia calculado.
O garoto passava por ela com tamanha formalidade que soava até como piada. Ao invés de sentar nas cadeiras do fundo da sala, no canto, dessa vez ele escolheu o meio, algo que o deixou com a ex-namorada em seu campo de visão. Sempre que Tássia, incomodada por sentir vigiada, virava-se para ele, porém, Patrick estava ou de cabeça abaixada ou tão atento à aula que ela mesma se sentia culpada por desconfiar dele. Após a oitava ou nona virada de cabeça, ela já estava até com o pescoço dolorido. Quando chegou ao ponto de ser chamada a atenção pela professora, desencanou. Assim, o resto do dia no cursinho transcorreu sem maiores intercorrências.
No cursinho, apenas.
Tássia estava na parada sozinha. Hilton e Fernando tiveram a sorte de pegar o ônibus assim que pisaram na plataforma. Até nisso os dois tinham vantagem: além de namorados e de se conhecerem há séculos, ainda eram vizinhos. Parecia que de fato o destino queria que ficassem juntos de qualquer jeito. Raquel, por sua vez, moradora da área Itaqui-Bacanga, tinha a vantagem de poder pegar qualquer ônibus que passasse no Terminal de Integração. De lá, era só pegar uma van ou um carro pequeno, os chamados "carrinhos", e chegar em casa. Tássia, porém, moradora de um bairro de classe média atendido por uma única linha de ônibus, precisava contar com a boa vontade do busão. Parecia que as empresas rodoviárias esqueciam de que os moradores desses bairros tidos como "nobres" também precisam de transporte público, um direito de todos.
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Amor em Tempos de ENEM
Teen Fiction🏆 Vencedor Wattys 2022, Jovem Adulto Às vésperas do ENEM, Tássia, uma garota de 17 anos, se vê diante de uma difícil decisão: terminar o namoro com Patrick, já que o namorado não parece disposto a largar os jogos de videogame para estudar. Contudo...