TÁSSIA DECIDIU APROVEITAR O FINAL DE SEMANA PARA FICAR LONGE DAS REDES SOCIAIS. Desligou o celular, passou longe do computador e relaxou. A única coisa que se permitiu fazer foi enviar uma mensagem para Patrick:
"A gente precisa conversar segunda-feira. É urgente. Não pode passar."
A qual obteve como resposta uma pergunta:
"É o que eu estou pensando?"
"Não sei. O que tu está pensando?"
Porém, não houve mais contato. Em prol da própria sanidade, ela decidiu ignorar e se manteve afastada. Sentia-se muito mais confiante diante das suas decisões, mais assertiva. A conversa com o pai a deixara mais tranquila em relação ao que deveria fazer em relação ao namoro. O resultado imediato foi que, pela primeira vez em semanas, conseguiu estudar sem que a mente pendesse para os problemas. Até chegou a pensar que o seu objetivo, enfim, estava nos trilhos. E foi com essa certeza na mente que ela foi para o cursinho naquela segunda-feira.
Há certos dias em que o trânsito de São Luís parece disposto a colaborar para moldar o destino dos ludovicenses. Foi Tássia entrar no ônibus, passar pelo cobrador e sentar-se para entrarem em um engarrafamento de desafiar a paciência até do mais tranquilo dos seres humanos. Enquanto esperava junto aos outros passageiros desolados e resmunguentos, ela até tentou aproveitar para ler alguma coisa. Não deu certo. Decidiu estudar e até mesmo jogar no celular. Contudo, nada a deixou confortável. E não era por causa da situação urbana ao seu redor.
Saiu de casa disposta a resolver a situação com Patrick. Ponto final. Encerraria o namoro naquele dia. Já até tinha preparado um discurso de "não está dando certo" e "espero que tu saiba que continuo de braços abertos". Quando terminassem as aulas, convidaria o garoto para se sentarem na praça Gonçalves Dias, um lugar apaziguador banhado pelo pôr-do-sol, e abriria o jogo. Se ele quisesse se abrir também, ótimo. Ela estava disposta a escutar, sempre de mão aberta. Senão... bem, paciência.
A cidade, porém, não estava disposta a contribuir. À medida que o relógio corria e o atraso se tornava evidente, Tássia começou a sentir um incômodo, uma vontade até de descer do ônibus e correr pelas ruas em direção ao cursinho. Pensou se não seria o indício de uma nova crise de ansiedade, quando o celular pescou algum sinal de internet e vibrou diante da chegada de uma mensagem.
"O que tá acontecendo aí?"
Fernando tinha enviado a mensagem há cerca de trinta minutos. Um gelo caiu pelo estômago dela. Era aprovável que o amigo pensasse que ela já estivesse no Geração. Abriu o grupo do cursinho. Ficou surpresa ao ver que havia várias fotos enviadas quase no mesmo horário que Fernando tentara falar com ela. Tássia tentou abrir uma, mas os dados móveis não ajudaram. Entre as imagens, havia mensagens que só serviam para a confundir ainda mais.
"Não acredito que ele fez isso!"
"Gente, esse menino tem um problema!"
"Isso é um cursinho ou um ringue?"
"Espero que seja expulso"
Ela olhou para o lado de fora. Estavam parado a pelo menos vinte minutos sobre o Elevado do Trabalhador. Nas avenidas, os rios de veículos apontavam para a gravidade daquela situação. Ninguém andava nem um metro sequer, a não ser as motos.
Tássia tornou a olhar para o a quantidade de mensagens nos grupos. Balançou a cabeça. Quando deu por si, já tinha descido do ônibus e corrido para a faixa divisória entre as vias. O que estava fazendo? Se os pais a vissem ali, pensariam que tinha enlouquecido. Nunca fora de ter rompantes como aquele. A questão é que, a depender do que a vida impõe, é preciso fazer coisas impensadas para tentar se adaptar e sobreviver.
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Amor em Tempos de ENEM
Teen Fiction🏆 Vencedor Wattys 2022, Jovem Adulto Às vésperas do ENEM, Tássia, uma garota de 17 anos, se vê diante de uma difícil decisão: terminar o namoro com Patrick, já que o namorado não parece disposto a largar os jogos de videogame para estudar. Contudo...