31. O CENTRO HISTÓRICO

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PARA UMA NOITE DE SÁBADO NA VÉSPERA DA PROVA MAIS IMPORTANTE PARA ALGUMAS PESSOAS, O CENTRO HISTÓRICO ESTAVA LOTADO DE ADOLESCENTES DEMAIS. Já no ônibus, ela encontrou colegas do cursinho indo para o shopping. Depois, deu de cara com mais outros no Terminal de Integração e, ao caminhar pelas ruas históricas, foi como se ver rodeada por todo o cursinho Geração. Pior era que, enquanto todos olhavam os rostos conhecidos como se fossem a coisa mais banal do universo, era só olhar para ela e reconhecer o rosto por trás da máscara para sobrancelhas se arregalarem. Era como se esperassem encontrar todos ali, menos por ela.

Afinal, se até o "deus dos estudos", Breno Ceres, a própria reencarnação de Atena e todo o seu conhecimento olimpiano, estava fazendo festinha na véspera da prova, o mínimo que esperavam como bastião de responsabilidade seria Tássia.

Quebraram a cara.

Ela ergueu a cabeça e caminhou pelas ruelas de calçamento no maior esplendor que conseguiu emanar. Não podia mentir: sentia-se meio culpada, ainda mais ao saber que Fernando, Hilton e Raquel estavam em casa, descansando para o dia seguinte. E provavelmente na certeza de que a amiga estaria fazendo a mesma coisa.

"E daí?"

O pensamento foi como um choque. Ela parou em frente ao museu Casa do Maranhão. Ali, as pessoas, muitas de sua idade e, possivelmente, também prestes ao ENEM, se divertiam com as instalações artísticas. Cada um tinha o seu modo de viver. Ponto. O pai tinha razão.

As rédeas de sua vida pertenciam somente a ela.

Arrumou o cabelo e foi em direção ao bar ali perto. O vento corria pelo Cais da Sagração e abraçava as pessoas naquela ponta do Centro Histórico, vizinha ao oceano azulado da capital maranhense. Talvez por esse clima praiano, talvez por já estar com algumas doses de caipirinha no corpo, Breno estava em uma mesa na calçada, rodeado por colegas, um deles com baquetas de bateria nas mãos. Porém, diferente da banda, todos de preto, o aniversariante vestia camisa florida, bermuda branca, sandália rasteira e arrematara o visual com um chapéu Fedora branco onde equilibrava o óculos de sol.

Os braços com suas cicatrizes nos pulsos estavam à mostra, sem medo.

— Tu está aqui desde que horas?

Breno quase cuspiu a bebida. Assustado, olhou para trás e não acreditou no que viu.

— Você veio!

— Pois é, né? Não fui convidada, mas decidi vir mesmo assim.

— Er... — Olhou para os colegas, curiosos com a recém-chegada. — Bom... Galera, essa daqui é a Tássia, uma amiga minha do cursinho. E esses são a Banda Juba de Leoa.

Tássia olhou para os cabelos dos garotos. Ou eram raspados ou muito bem arrumados.

— Por que Juba de Leoa?

Um dos músicos sorriu e apontou para dentro do bar. Tássia esticou o pescoço. Lá no fundo, ajeitando algo sobre o palco, estava uma garota com um cabelo todo rastafari, armado e cheio de fitas douradas.

Uau, ela é incrível!

— Pois é, filhinha — o baterista assentiu. — Lena é sussa. Senta aí, bebe alguma coisa.

— Ah, não. Eu só vou querer uma água mesmo. Nada de álcool. Amanhã tenho compromisso.

— ENEM? — O garoto que perguntou anotava algo em algumas folhas onde, Tássia reconheceu, estavam impressas algumas partituras. — Eu também vou fazer, ó. Tamo junto.

Breno se adiantou.

— Razinho, a Tássia estar aqui é uma vitória, cara. Sério! Ela é a mina mais estudiosa do cursinho; do estado! Ela é incrível!

Amor em Tempos de ENEMOnde histórias criam vida. Descubra agora