15. CONVERSA CARA A CARA

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COMO SE PREVISSE A CONFUSÃO QUE A FOTO FARIA EM CIMA DO NOME DELE, PATRICK NÃO APARECEU NO CURSINHO NAQUELE DIA. No intervalo, sob olhares de esguelha, Tássia tentou primeiro mandar mensagem para ele, sem sucesso. Ele nem as recebeu. Depois, mesmo sob a insistência de Fernando e de Raquel para não prosseguir naquelas tentativas de entrar em contato, ela ligou. Primeiro, para o celular. Nada. Depois, para o telefone da casa dele.

E foi atendida.

Hello! — A voz de dona Gigi fez um arrepio lamber a coluna da garota. Começar o dia daquele jeito, e logo com aquela pessoa, não era um bom presságio. Afastou-se do trio de amigos e foi para um canto afastado da recepção do Geração. A mulher, sem obter resposta, insistiu. — Hello, bom dia, quem é?

— Dona... Dona Gigi, sou eu, a Tássia.

— Ah, claro que é... — se o objetivo era demonstrar desgosto, a senhora conseguiu. — Tu queres falar com o Patrick, prevejo.

— Si-Sim. Sim, é isso. Ele não veio para a aula e eu queria saber se está tudo bem...

— Deveria estar tudo bem?

Tássia pensou que seria uma pergunta retórica, mas o silêncio cortante da ligação indicou que não era.

— Eu... Eu creio que sim — mentiu. — Ontem nós nos falamos e ele estava tão bem. Nós até combinamos de...

— Parou aí. — A ordem foi dita com tal secura que, por muito, muito pouco, a garota não mordeu a língua ao ser interrompida. Nunca ouvira aquele tom de voz na sogra. — Tu tá pensando que eu sou idiota? É isso?

— Não. Nunca...

— Pois não é o que parece. Naquele dia, no carro, quando eu disse que vocês deveriam voltar, eu fiz isso mais pelo Patrick do que por algum tipo de apego a ti. Certo? Quero deixar isso bem claro. Ainda mais que, desde que ele inventou de namorar contigo, Deus sabe o quanto ele ficou ainda mais esquisito. Parece que tu despertou nele uma vontade bem grande de se isolar, parar de jogar e ficar de cochichos com as pessoas — Tássia fez uma anotação mental de mais uma informação sobre o namorado que ele não sabia. Se Patrick não estava com a cara enfiada nas cores de algum jogo, o que estaria fazendo, afinal? — Eu pensava que uma namorada serviria ao menos para estimular o namorado a mudar.

— Namoros não fazem milagres, dona Gigi.

— É. Foi o que vi mesmo — a mulher desdenhou. — Ainda mais quando uma das partes não parece de fato empenhada com a relação.

Tássia agradeceu por estar apoiada à parede. As pernas fraquejaram.

— Eu posso falar com ele?

— Não. Ele não está disponível.

— Ele... Ele tá doente?

A pergunta, contudo, foi feita para o silêncio. Sem perceber, a sogra havia desligado. Ao voltar para perto dos amigos e contar os detalhes, Hilton colocou as mãos na cintura ao escutar como havia sido a conversa.

— Rá, mas comigo nunca que uma cobra sucuruju dessas ia passar por cima de mim! Eu ia fazer era bolsa, sapato e carteira com o couro dela!

— Ôxi, agora eu vi mesmo! E tu faria o quê, Zé Coragem?

— Raquelzinha, meu amor, tu não me conhece mesmo, né? Eu pegava era um UBER agora mesmo e ia é na casa dessa ousada! Invadia e dizia umas verdades na cara dela, assim, ó, a um palmo de distância que era pro meu cuspe bater bem nas bochechas dela.

Amor em Tempos de ENEMOnde histórias criam vida. Descubra agora