SÃO LUÍS É UMA CIDADE COM PROBLEMAS GRAVES DE DEMOCRACIA CLIMÁTICA. A situação é tão peculiar que muitas das vezes acontece de, em um mesmo bairro, chover em uma rua e na rua vizinha não. A rotina de sair de casa com chuva, chegar a um lugar com o sol a pino e, metros adiante, encarar um paredão de tempestade era bem conhecida dos habitantes. Seria algo normal se a cidade fosse grande, como São Paulo ou Rio de Janeiro. Porém, por ser uma ilha mediana, essa característica fazia a capital ficar ainda mais diferenciada.
Tássia acordou com o sol no rosto. Era o anúncio de um sábado de céu bonito, clima tropical e brisa fresca. Assim que acordou, mandou mensagem para os amigos perguntando se estava tudo de pé para o encontro na Biblioteca dali a algumas horas. Todos confirmaram. Todos menos Breno. Na madrugada, ele havia publicado uma foto no Castelo do Rock, casa de shows no Centro Histórico. Para o quarteto não foi surpresa e, sem remorsos, se aprontaram para o grupo de estudos.
Quando saiu do quarto, a garota vestia uma bermuda jeans pouco acima do joelho, camiseta, chinelos e um boné. Foi dona Selma olhar para discordar da escolha.
— Tu vai assim?
— Sim, ora essa! Num calor desses, pegando ônibus e ainda de máscara... Eu preciso respirar. E, depois do estudo, a gente tá combinando de almoçar lá no Centro Histórico.
— Com essa chuva que tá vindo?
Tássia olhou pelo basculante da cozinha.
— Chover? Onde?
— Tássia, me escuta. Tua avó mesma já dizia que aqui em São Luís até São Pedro mente. Procura é levar teu guarda-chuva.
— Ah, não! Já tô levando as apostilas e ainda vou andar com um trambolho desse tamanho?
— Mas vocês não tão indo pra uma biblioteca, gente de Deus?
— Sim, mãe. E a senhora já viu biblioteca pública ter tudo o que cai no ENEM? A gente precisa se virar como pode. A Benedito Leite é grande, mas não é garantia ter o que a gente realmente precisa.
— É, faz sentido — bebericou o café e espiou a filha. — O Patrick vai?
— Ai, de novo esse assunto?
Desde que contara para a mãe que o namoro havia terminado, dona Selma parecia ter desenvolvido todo um amor especial pelo ex-genro. Se já gostava dele antes, depois que soubera sobre a sexualidade do menino e a barra que passava em casa devido ao fanatismo religioso da mãe, ela virara fã de carteirinha de Patrick. Chegou até a brigar com a filha ao alegar que Tássia "não se deu nem ao trabalho de chamar o coitadinho para morar com eles".
— Mãe, o Patrick tá cuidando da vida dele. E ele mesmo disse que universidade não é prioridade pra ele.
— Eu fico indignada, sinceramente. Ele era um menino de ouro. Sempre te tratou muito bem, muito respeitoso, delicado, sem passar dos limites...
— Ou seja: a senhora está feliz porque o Patrick não transou comigo.
Dona Selma quase se engasgou com um pedaço de pão. Foi preciso Tássia correr para lhe dar um abraço por trás e forçar o estômago a expelir a comida. Quando se recuperaram do susto, a mulher tomou longos goles d'água, esbaforida.
— Que coisa para se dizer, menina! Eu hein...
— É a verdade. E uma verdade bem mentirosa. Nada garante que um homem gay não transe com uma mulher. Quem pensa assim, não sabe nada sobre sexualidade.
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Amor em Tempos de ENEM
Teen Fiction🏆 Vencedor Wattys 2022, Jovem Adulto Às vésperas do ENEM, Tássia, uma garota de 17 anos, se vê diante de uma difícil decisão: terminar o namoro com Patrick, já que o namorado não parece disposto a largar os jogos de videogame para estudar. Contudo...