20. O TÉRMINO (PARTE 3)

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FORAM QUASE QUARENTA MINUTOS DE AGONIA ENQUANTO A REUNIÃO PROSSEGUIA NO SEGUNDO ANDAR. Tássia ficou agradecida por Breno ter permanecido ali para lhe dar apoio moral. Entretanto, a cada vez que flagrava o garoto olhando para ela, a vontade era de gritar com ele e mandá-lo embora. Desistiu da ideia quando ele fez a gentileza de lhe trazer um copo de suco de maracujá. Estava uma pilha de nervos.

De vez em quando, algum aluno fingia interesse em alguma coisa fora da sala só para espiar a situação. E não era para menos. Pelo que Breno havia contado e as fotos nos grupos de WhatsApp confirmado, a briga chamou a atenção de todos. Movimentou o cursinho mais do que a situação caótica de São Luís.

Ao pensar no que Hilton ou Raquel diriam se tivessem conseguido chegar, Tássia se sentiu um pouco perdida. Desde a escola, mesmo com Patrick ao seu lado, só se sentia confortável quando estava junto do trio. Era interessante agora, naquela situação, pensar como o fato de estar em algum lugar com o namorado ao lado nunca lhe dera garantia de nada, nenhuma sensação de segurança. Olhou para o seu companheiro de agonia e foi terrível pensar como até com Breno, com quem não tinha intimidade alguma, se sentia mais tranquila do que com Patrick.

Então, uma porta gritou. Passos tremeram pelos degraus e segundos depois um furacão chamado dona Gigi passou a toda rumo à saída. Bateu o portão da entrada com tal força que muitos alunos e professores correram para espiar o que tinha acontecido.

Em seguida, escolhendo a pior hora possível para dar as caras, veio Patrick.

O garoto, que nas últimas semanas ganhara músculo a olhos vistos, parecia agora um mero menino, de volta ao estigma do nerd viciado em videogames. Os olhos estavam inchados e não escondiam o choro. Pior ainda, havia uma marca vermelha na bochecha esquerda dele como se tivesse recebido um tapa. Tássia já imaginava de quem seriam as marcas daqueles dedos.

Ela e Breno se levantaram para se aproximar do menino. Porém, a um olhar de súplica de Tássia, o atleta entendeu o recado e a deixou ir sozinha.

— Patrick...

Ele parou a um degrau de pisar no térreo. Respirou tão profundamente que a garota teve receio de que caísse no choro ali, nos ombros dela. Olhou para os lados. Uma professora, ao perceber a situação delicada dos jovens, ergueu as sobrancelhas para Tássia e ofereceu a sala dos professores, vazia àquela hora.

Quando entraram e foram deixados sozinhos, Patrick mal conseguia olhar para o rosto da sua acompanhante. E foi nesse ponto que Tássia, o coração apertado, abraçou o amigo.

— Calma. Eu... Eu já sei de tudo.

— Desculpa... — ele pediu com a voz embargada, os braços frouxos ao lado do corpo sem retribuir o carinho.

— Olha — ela se afastou e olhou para ele olho no olho —, se eu disser que está tudo bem, que eu não fiquei sentida com tudo, eu estaria mentindo. Mas... Mas eu entendo; entendo de verdade. Eu imagino como tu deve estar se sentindo agora que as coisas tomaram esse rumo.

— A minha mãe não me quer em casa — a frase saiu sussurrada, sofrida.

— Não. Ela te ama. Sempre fez tudo por ti.

— Agora ela me odeia, Tássia.

— Patrick...

Só então, ele tomou coragem para encarar a amiga.

— Por que tu acha que eu fiz essa besteirada toda? Usei teu nome, menti pra todo mundo, pensei que mudar de aparência ia me deixar mais... mais...

Amor em Tempos de ENEMOnde histórias criam vida. Descubra agora