16. PROVOCAÇÕES

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TÁSSIA GOSTAVA DA SENSAÇÃO DE RESOLVER PENDÊNCIAS. O fato de querer fazer Jornalismo era um indicativo de seus objetivos futuros. Algo que gostava era de ir em busca de soluções e, principalmente, de mostrar às pessoas ao seu redor qual era o caminho certo a ser tomado. O intuito de resolutividade a impulsionava, mas também a deixava cega para algumas coisas.

Nos três dias seguintes à conversa com Patrick, apesar de o assunto já ter esfriado e dado lugar aos burburinhos em torno dos participantes de um novo reality show musical com artistas mascarados, ela fez questão de conversar com todo mundo que conseguisse. Nessas oportunidades, expunha a versão que escutara da boca do namorado e defendia o garoto a todo o custo, sem esquecer de apontar para o modo como Breno tentara a envenenar contra o outro. Os colegas de cursinho escutavam ansiosos pela continuidade da treta, algo que servia para amenizar o clima de estresse daqueles dias rumo ao ENEM. Contudo, decepcionaram-se.

Diferente do esperado, Breno escutava as acusações apenas com o seu velho sorrisinho de canto. Raquel chegou a dizer que ele parecia planejar alguma coisa, mas Tássia rejeitou a opinião. Para ela, a atitude do novato só reiterava o quanto a versão de Patrick era a verdadeira. O garoto Ceres, segundo Tássia, estava apenas "se fingindo de forte para não dar o braço a torcer".

No lado oposto do ringue, Patrick Forin se mantinha calado. Aquele ar de cansaço que recepcionara Tássia dias antes havia se tornado uma roupa constante. Como se quisesse se manter invisível, o garoto nem mesmo falava. E, para piorar ainda mais a situação constrangedora, nem se dava ao luxo de andar com a namorada. Intervalo após intervalo das aulas, enfiava a cara nos livros e ficava na sala. Nas raras vezes que se sentava na mesma fileira que Tássia, Fernando, Hilton e Raquel, limitava-se a abrir a boca apenas quando algum professor fazia perguntas. E era nesses momentos que o tão aguardado combate entre os dois tinha alguma razão de existir.

Patrick e Breno pareciam ter concordado em, por hora, transferir as hostilidades para uma disputa aparentemente saudável para ver quem respondia às questões dos professores mais rápido.

Tudo começou no dia seguinte à ida de Tássia à casa do namorado. Ao chegar ao cursinho, ela deu de cara com Breno. Sem se importar se alunos e professores escutariam ou não, partiu contra ele. Com direito a dedo em riste e tudo, falou sobre a "verdadeira versão dos fatos", acusou Breno de falsidade e de "usar máscara de bom moço". Finalizou dizendo que "diante do fato de ele viver em festas e bêbado pelas sarjetas de São Luís, Patrick daria o troco sendo melhor no ENEM".

"Ele vai mostrar pra todo mundo que tua fama de grande estudante e atleta é só mentira!"

"Ah, vai, é?", Breno provocou.

"Pois sim. E eu faço questão de ajudar ele a conquistar isso."

"E faz questão também de mimar o teu namorado igual a mãe dele faz? Ou você também vai começar a obrigar ele a fazer as coisas?"

Tássia titubeou.

"Que besteira... O Patrick é independente."

"É mesmo? Pelo que eu lembro, antigamente, o Hélio sempre brincava que, 'se tudo desse errado', ele ia se alistar na Legião Estrangeira. E o Patrick dizia a mesma coisa." Breno sorriu de lado e acrescentou: "Você não conhece o namorado que tem, Tássia. Mas eu vou te ajudar a desmascarar ele, pode deixar."

E foi desde então que as provocações veladas começaram dentro da sala de aula.

Tássia, confessava para si mesma, culpava-se por ter contribuído do seu modo para isso. Disposta a calar a boca daquele que proclamara como seu rival, começou a, como de costume, levantar a mão assim que o professor fazia uma pergunta. Quando era escolhida, porém, fingia-se de burra para passar a oportunidade para o namorado ao seu lado e obrigar Patrick a responder.

Amor em Tempos de ENEMOnde histórias criam vida. Descubra agora