Episódio: Boas pessoas.
Os sinos soaram e um vento frio arrepiou a nuca de Harry.
Olhou para frente, e Louis passava pela porta, com as mãos no bolso e olhos brilhando.
_ Oi, Anjo. - sorriu ao chegar no balcão.
_ Oi, Lou. - Harry sorriu de volta,sentindo os machucados secos se esticarem em seu rosto. - O que quer experimentar hoje?
_ Beijo quente nesse frio congelante deve ser bom. - O mais velho brincou,rindo quando o sangue subiu nas bochechas do cacheado. - Um frappucino, pode ser.
Harry murmurou um 'okay' baixo, se levantando para preparar a bebida do menor.
Louis se sentou na mesa de sempre, com seu livro dentro da mochila que Harry não notou quando ele chegou. Observou o mais novo preparar sua bebida, com os lábios em uma linha fina de concertação, quando terminou, escreveu algo na tampa do copo e caminhou calmo até a mesa.
_ " Lou♡" - Leu em voz alta, logo em seguida olhou para o cacheado. - Isso é tão brega e tão fofo...
Harry riu, olhou em volta para se certificar de que podia se sentar ali uns minutinhos com o de olhos azuis.
_ Como está se sentindo? - Louis perguntou, dando um gole generoso em sua bebida quente, aquecendo-o por dentro.
_ Bem, eu acho. - Harry suspirou - Obrigado por ontem e pelos presentes.
_ Não precisa agradecer. Vai fazer algo mais tarde?
_ Vou pra casa, então acho que não. Você vai? Niall comentou que teria alguma festa hoje.
_ É verdade. - Louis pareceu pensar um pouco, com um vinco entre as sobrancelhas. - É aniversário de um dos goleiros.
Harry já estava convencido de que Louis iria. Matou todas as suas borboletas de esperança que tinha sobre passar a noite com ele.
Até Louis dizer:
_ 'Tá afim de companhia a noite?
_ A companhia é você? - Acentiu - Então eu quero.
Um moça de roupas claras e cabelo cacheado entrou no estabelecimento, fazendo Harry suspirar e sorrir fraco para o mais velho, se levantando e, sorrindo, atendeu a moça. Logo após entrou mais algumas pessoas, Louis aceitou que não teria companhia por algum tempo.
-∆-
Já passava das 19h,Harry estava sentado em sua cama lendo um conto de Poe no celular, quando três batidas fracas em sua porta o fez se levantar para ver quem era. Se surpreendeu ao encontrar olhos azuis.
_ Por que não avisou que vinha? - Perguntou, dando espaço para um Louis sorrindo passar,e assim que o fez fechou a porta atrás de si.
_ Foi surpresa, mais ainda quando sua mãe abriu a porta para mim. - Sorriu.
_ Se tivesse avisado eu teria dado um jeito nessa bagunça. - Disse abrindo os braços para indicar as pilhas de roupas espalhadas, junto com alguns copos e embalagens de comida.
_ Parece que está vivendo em cativeiro,Anjo. - Louis riu, voltando seu olhar para o cacheado que brincava com a barra de seu moletom. - O que está acontecendo?
Harry sorriu fraco, andando de volta para seus cobertores quentinhos, sendo seguido pelo mais velho, que tirou seus sapatos antes de entrar.
_ Antes de contar... Posso pedir um beijo? - Harry disse baixo, quase em um sussurro.
Louis chegou mais perto, tentando não demonstrar a ansiedade em que estava por aquele sentimento novamente.
_ Um, dois... Quantos quiser, Anjo.
Louis tomou os lábios do mais novo numa fração de segundos, sentindo sua barriga gelar e suas pernas virarem gelatina quando Harry o puxou para o mais perto quanto conseguiu.
A sensação de vida correndo em seu sangue ainda era a mesma da primeira vez.
A mão firme de Harry em sua cintura era sentida mais do que nunca naquele momento, como descargas elétricas percorrendo todo o seu corpo a cada puxão mais forte que o cacheado dava.
Era como estar flutuando.
E por falta de ar, separaram suas bocas, em selinhos demorados até pararem mesmo.
_ Já me sinto muito melhor. - Harry disse sorrindo grande, e Louis sorriu também.
_ Vem cá. - Louis deitou debaixo das cobertas, chamando o outro para se aconchegar ali também, e quando o fez, continuou: - podemos só ficar aqui quietinhos, ou você pode me contar o que está te deixando assim.
Harry acentiu. Nunca imaginaria o mais velho tão compreensível e paciente consigo.
_ Eu discuti com Anne. Pode não parecer muita coisa mas eu senti cada letra do que ela disse. "Agradeça ao meu emprego que mantém você confortável e pare de reclamar de coisas bestas!"
Harry fez uma pausa para respirar antes de continuar.
_ Ela mais do que ninguém deveria saber que não é coisa besta. Não quando o pai dela a abandonou a própria sorte quando descobriu que ela estava grávida de Gemma. Ela reclama tanto da falta de amor familiar que esqueceu de dar para seus filhos. Ao invés de tempo de qualidade, ela nos deu dinheiro, presentes caros, milhares de coisas fúteis, mas não deu aquilo que a gente mais precisava. Gemma foi embora por isso, já não aguentava mais a cobrança de algo que nunca recebeu. Ficaram brigadas por meses até que finalmente Anne deu o braço a torcer e chamou Gemma para conversarem novamente. Acho que ela não quer perder aquele pouco contato que temos, mas ela realmente não sabe como fazê-lo, porquê tudo o que ela faz é dizer que não nos deu amor de verdade para nos dar conforto. Mas se ela tivesse nos dado o amor, teríamos conforto.
Louis soltou o ar que não percebeu que prendia, enrolando os dedos nos cachos grossos de Harry que agora tinha os olhos tristes e voz baixa.
_ Anne é uma boa pessoa, só não soube ser uma boa mãe.
Louis não sabia como confortar o cacheado, pois também sabia como era não ter o carinho materno que parece tão bobo mas é tão importante para os seres humanos.
_ Jay foi embora levando minhas irmãs. Conheceu um empresário logo após que.... - Engoliu seco. Era a primeira vez que falava aquilo em voz alta para alguém. Ainda doía. - logo após que Fizzy se foi em um acidente. Levou Lottie, Phoebe e Dayse com ela e as fez de modelos junto com o novo namorado. Agora ela me manda dinheiro todo o mês para que não morra sozinho e sem condições de viver, e vêem no final do ano me ver. Mas mesmo antes de tudo acontecer, ela não ligava muito pra gente. Trocava de namorado sempre que podia, nunca estava disponível para a gente. Aprendemos a viver assim. Mas ela também é uma boa pessoa.
Louis sorriu fraco e triste. Nunca achou que contaria aquilo para alguém nem tão cedo. Muito menos que encontraria compaixão nos olhos de quem ouviu, e não pena.
_ Um brinde às boas pessoas. - Harry tentou animar um pouco o clima, levantando a mão no ar com uma taça imaginaria. Louis riu, e se juntou a ele em seu brinde. - Quer fazer algo agora?
O mais velho analisou o ambiente e a situação, mas sendo cortado por um bocejo longo, concluiu:
_ Sinceramente, se dormirmos agora eu ficaria muito feliz. - respondeu, voltando o sorriso ao rosto.
Harry riu também, murmurando um "certo" baixinho antes de enlaçar a cintura de Tomlinson e inalar seu perfume forte de cigarro e sabonete.
Caíram em um sono profundo e quente, envolvidos pela atmosfera confortável e segura que havia ali no meio.
Tinha jeito de Casa.
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Eroda - Como Se Fosse A Última Vez
Fiksi PenggemarEroda, a cidade das tempestades. Nessa cidade onde o sol mal aparece, e as nuvens carregadas tomam conta de todos os dias, Harry e Louis carregavam suas próprias tormentas e, principalmente, não se davam nada bem. Por uma provocação, Louis e Harry...