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Tem algo na tristeza dos outros, de Mallory, que me deixa especialmente vulnerável

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Tem algo na tristeza dos outros, de Mallory, que me deixa especialmente vulnerável.

Eu nunca fui o estilo bilionário bad boy, isso definitivamente não era pra mim. Eu não era o cara dos joguinhos, da tensão sexual que podia comer você apenas por estarem em um quarto fechado. Eu era... só eu. Michael, um cara nerd, viciado em jogos on-line em segredo, de pouquíssimos amigos e muita vontade de ficar em casa isolado do universo. Quando os holofotes do mundo se viram pra você, quando você começa a namorar uma blogueira gostosa e famosa, todos esperam algo de você, não só um nerd esquisito. Não foi diferente comigo, eu construí essa imagem de lobo solitário, capa de frases motivacionais de homens meio fracassados e mais covardes do que eu nas redes sociais, exemplo de sucesso.

A verdade é que eu só trabalhava duro por um sucesso que já havia sido concretizado, eu trabalhava pela honra da minha família, pela paixão em design de joias que eu havia herdado da minha mãe. Oitenta por cento das nossas coleções éramos eu e ela que desenhávamos, e eu amava aquilo, amava geologia, amava aquele mundo brilhante e descomplicado. Com essas pedras preciosas era bem mais fácil de se lidar do que com uma mulher fogosa como a escritora de romance erótico Mallory Mimieux.

Ela não era como as outras, não ligava para o que a blogueira X e Y ditava, ela vivia em um mundo diferente até pra mim. A mente ardilosa dela pegava tudo que lhe vinha e construía uma fantasia envolvente, ela era a rainha da sedução. Quando eu a vi desiludida naquele barzinho sujo não houve nada que me atraísse nela de cara, isso é a mais pura verdade, mas Mallory era dona de um magnetismo que provavelmente nem ela mesma sabia que tinha. Era a forma como ela segurava o copo de cerveja desiludida, o jeito cheio de luxúria que me encarou mas logo desviou, a maneira como não negou a minha investida e sugeriu que fôssemos ao motel que me surpreendeu.

Entre quatro paredes ela era uma loucura, ela incendiou aquele quarto e em partes o meu coração. Eu nunca tinha ficado com uma mulher que fizesse as coisas do jeito que ela fez, que implorou pra eu não ter pudor na hora de pegá-la pelo pescoço e... sabe. Eu ficava vermelho e tossia de vez em quando toda vez que me lembrava daquelas coisas, ela era boca suja pra caralho naquela hora, e eu só consegui ser seu escravo com prazer. O poder era todo dela, era tudo por ela e pra ela.  E eu amei aquilo, eu poderia me viciar naquilo se ela me deixasse provar só mais uma vez e garanto que jamais me arrependeria.

- Droga. - suspiro, afrouxando a gravata ao terminar de ler o novo conto dela em meu escritório.

É claro que era fácil lê-la também, ela não conseguia esconder suas emoções um segundo sequer. Seu rosto era o espelho delas, e seu perfil de escritora a porta da sua mente. Ela escreveu sobre o sonho que teve, mas só duas semanas depois do enterro de seu avô. A mais nova lição que a minha querida mademoiselle Mimieux me ensinou sobre si mesma é a de que quando ela precisa de espaço de verdade, que está triste de verdade, tudo que ela quer é silêncio e ficar só. Eu fiz o meu melhor para apoiá-la de longe, apenas deixando claro que estaria ali pra ela quando precisasse, e ela pareceu me agradecer com aquela leiturinha sacana.

- O que houve, Mike? - digo pra mim mesmo, dando um tapa em meu rosto corado ao me imaginar fazendo aquilo de verdade com ela. - Para com isso seu pau mole, é só um conto erótico.

Eu não conseguia me controlar, logo que eu lia essas maluquices dela a minha vontade era de correr pra casa e estapeá-la direto naquela bunda gostosa. De botá-la em cima do balcão da cozinha e fazer o bairro todo escutar os gritos dela, e só de pensar isso minhas orelhas esquentavam como um maldito pote de tinta vermelha.

Estou ficando absolutamente maluco.

Observei a paisagem de fora da janela, a selva de pedra que era Nova Iorque e que se erguia por entre os outros prédios. Todos lá corriam dia após dia em busca de um sonho, de um objetivo, e eu sempre vivia acima deles, vivendo aquilo que talvez jamais pudessem. Por que eu não conseguia ser feliz apenas com aquilo? Por qual maldita razão eu passara a sonhar como um maldito escravo, sonhar com uma família com uma mulher que não me amaria jamais. Eu sabia que Mallory não ia se apaixonar, ela não era mais criança e também nenhuma tola, tinha os pés no chão e quando o bebê nascesse ia me deixar.

Por que essa ideia não me fazia bem? Eu só ansiava cada vez mais por chegar em casa e vê-la fazendo suas besteiras, tendo seus surtos por bloqueios criativos, cozinhando coisas aleatórias, cutucando as pontas duplas do cabelo em frente ao espelho ou coçando o bumbum ao andar sem calças pela casa.

O que essa mulher estava fazendo comigo, por que eu me sentia assim?

Tudo que conviver com Mallory estava me provando é de que talvez o meu amor por Val não tenha sido tão forte como eu pensei que era. E não é que eu talvez não tivesse amado Valéria, mas que esse sentimento tivesse sido totalmente diferente caso eu tivesse me relacionado com outras pessoas antes do nosso casamento. Val foi minha primeira namorada, o meu primeiro tudo, e apesar do carinho especial que eu tinha por ela, talvez a mulher que estivesse tomando os meus pensamentos agora fosse outra...

- Mal, oi. - gravo um áudio no telefone, enviando-o pra ela. - Bota uma roupa bacana, ou fica pelada mesmo... - ri no meio da gravação, decidindo provocá-la um pouco. - Vamos fazer algo divertido hoje de noite.

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