LIVRO 01
Um casinho em uma noite sórdida com um homem sedutor deveria terminar em ambos seguindo cada um a sua vida. Desde os primórdios da humanidade duas pessoas com desesperança e desejo se encontram e, deste encontro, surge uma história única qu...
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Eu me mantive tensa o dia todo por conta daquele baile estúpido só pra ser zombada por aquele mauricinho besta.
Michael sequer prestou atenção em mim ou me elogiou durante a noite toda, o que fez o sangue ferver em minhas veias. Logo que chegou, nós jantamos sem trocar uma palavra enquanto os riquinhos da mesa dele e ele conversavam de modo robótico sobre negócios. Não foi surpresa que eu ansiei por algo, qualquer coisa, que me tirasse do tédio, e então aquele treco em forma de gente apareceu. De início Caesar parecia alguém divertido, chegou conversando sobre o bebê e nos parabenizando, ele soava amigável e a conversa não tinha tom de malícia algum, por isso foi bom me abrir apenas por cinco minutos como se fosse uma pessoa normal. Logo que Michael chegou, o comportamento dele mudou e eu percebi que tudo que ele fazia tinha o intuito de provocar Michael, eu sentia a intenção dele por trás de cada sílaba proferida, e sentia a irritação crescente do pai do meu filho conforme o silêncio predominava.
Era passada das três da manhã quando um barulho de algo se quebrando me acordou e fiquei sentada na cama, atenta.
De início eu pensei que poderia ser o vento, mas os resmungos indistinguíveis fizeram o meu coração acelerar ao passo de que me botei de pés e fui até a origem dos sons. O cerne era o único lugar daquela casa aonde eu ainda não havia estado, o escritório de Michael. Por razões próprias, eu jamais havia sequer me atrevido a tocar naquela maçaneta lustrosa e dourada, com a porta escura me convidando para ser entreaberta, não. Eu apenas passava reto e fingia que nada existia além dela, e verdade seja dita: nada do que estava atrás dela me dizia respeito, aquele era o mundo dele e se Michael não havia me convidado a fazer parte dele ainda então não seria eu quem iria quebrar a confiança dele ao espiar por detrás da cortina.
- Michael...? - sussurro, terminando de abrir a porta ao ouvir mais um barulho.
Ele estava murmurando coisas sem nexo, ajoelhado ao pé da mesa enquanto tentava catar os cacos de vidro de um porta-retratos aparentemente antigo.
- Tá tudo bem, eu só quebrei isso. - a voz dele é embolada, distante.
- Me deixa ajudar. - ajoelhei-me ao lado dele, longe dos cacos mais próximos.
- Não posso. - balbuciou Michael, respirando pesadamente. - O Giancarlo não vai conseguir.
- Ele não vai conseguir o quê? - pergunto, decidindo deixá-lo falar.
- Ele não vai conseguir conhecer o meu filho, e agora eu quebrei o único porta-retratos que eu tinha de nós dois.
Fico em silêncio, aguardando-o terminar.
- Eu estou fracassando, estou desapontando o meu irmão. - continuou ele, fungando de leve. - E olha só o que eu virei, um fracassado. Eu virei um fracassado Gian.
- Você não é fracassado, Michael. - digo, pegando em sua mão e tirando os cabelos bagunçados de sua testa.
- Não era pra ter sido ele, era pra ter sido eu.
Congelo com aquela frase, travando meus olhos com os dele.
A trilha de lágrimas que se forma é intensa, as pálpebras estão super inchadas - denunciando que chorava há horas, e tem olheiras se formando. Sua voz tornou-se cavernosa, o vazio estampado de sua alma escancarava o quanto ele está nu ali diante de mim, como se não conseguisse me encarar.
- Não. - falo, não querendo dar corda para aqueles sentimentos negativos dele.
- É verdade, era pra ter sido eu. - Michael se agarrou em meus braços, os olhos arregalados. - Era pra ser ele vivendo tudo isso agora, era pra ser ele! Se eu não tivesse dado a ideia de irmos pra praia uma última vez, de dar um último mergulho.
- Michael, para! - seguro-o com força, tentando trazê-lo para a razão. - Isso não é justo consigo mesmo, você sabe. A culpa não é sua, foi um acidente.
- Então por que eu sinto que sou o responsável por isso Mal? - ele chora, crescendo por cima de mim ao ficar apoiado nos joelhos. - Por que eu comecei a pensar nele de novo depois de ter te falado do que houve? Por que eu só penso em como todos nós seríamos felizes juntos, que o meu irmão iria ser seu melhor amigo assim como era o meu e agora eu estou sozinho e não posso sequer pedir conselhos sobre como te conquistar pra ele.
- Do que é que você está falando Michael? - tento raciocinar, respirando fundo e ignorando o coração galopante dentro do meu peito.
- Acho que vou vomitar. - murmurou, se botando de pés de vez.
Conforme tudo aquilo aconteceu, logo acabou.
Com o balançar suave de uma cortina por conta da brisa noturna, Michael acabou com tudo e deu descarga naquilo após algumas gorfadas no vaso sanitário. Eu voltei a me deitar depois de ajudá-lo a tirar suas roupas e se jogar na cama, deixando um balde ao seu lado.
Tenho certeza de que tudo que está acontecendo é somente fruto da sua imaginação fértil e da bebida, e que ele não tinha intenção em nada do que falou. Um coração partido como o dele podia ferir outro desavisado mesmo sem intenção, principalmente quando o desavisado começava a reagir sempre que ele estava por perto.