LIVRO 01
Um casinho em uma noite sórdida com um homem sedutor deveria terminar em ambos seguindo cada um a sua vida. Desde os primórdios da humanidade duas pessoas com desesperança e desejo se encontram e, deste encontro, surge uma história única qu...
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Foi uma noite nebulosa, eu não conseguia dormir e fiquei caminhando pela casa de Aislin no escuro.
Nós duas fomos, acompanhadas de Michael e Laurence, limpar as coisas do vovô. Minha mãe e meu pai apareceram horas depois, mas nós não tivemos tempo de conversar ainda. Eu ainda estava absorvendo o cheiro da última blusa do vovô, molhando-a com as minhas lágrimas copiosas enquanto observava de modo falho os seus óculos desgastados cuidadosamente colocados na cômoda. Tudo havia estado como no momento de seu último suspiro, o tapete do box ainda tinha água de seu banho, no cabideiro antigo suas peças de roupa que não o pijama...
- Mal... - Michael tocou meu ombro, me vendo virar assustada com sua presença.
Ele havia ajudado no encaixote dos pertences, me deixando limpar apenas coisas que não me fizessem pegar peso.
- Não consigo, não. - me lamurio, o choro profundo abafado pela sua camiseta cinza. - Não era pra ser assim. Ainda tem o cheiro dele aqui, tão cheiroso. Por quê?
Ao contrário dos outros, que tentavam dizer justificativas, que foi Deus quem quis aquilo, que o vovô estava em um lugar melhor, Michael só me apertou mais forte entre os seus braços. A segurança que aquele abraço tinha, o conforto que ele trazia, eu não me lembrava de sentir algo como aquilo antes, nem mesmo com meu ex. Eu quase sentia que tudo era curado com aquele simples gesto, que aquilo me acalmava, e isso podia ser errado amanhã, mas hoje era certo e eu não ia reclamar disso agora.
- Vamos descansar um pouco Mal, você não parou um minuto desde hoje cedo. - seus dedos acariciam suavemente a parte de trás de meu pescoço, fazendo um arrepio bom me percorrer.
- Não tenho sono, não quero dormir. - respondo-lhe, triste. - Se eu dormir, acordar e nada mudar, isso significa que tudo é real. Eu não quero que seja real.
Minha voz não passava de um sussurro, um frangalho.
- Eu posso massagear as suas pernas, vi um vídeo sobre o alívio que isso pode trazer pro inchaço nos pés. - sugeriu Michael, tentador.
- Você me ama, não é? - faço um beicinho, jurando que aquilo havia sido uma provocação engraçada em uma tentativa de amenizar a nuvem negra que me seguia. - Ama a sua mozinha, vai fazer uma massagem no pézinho dela e mimar ela bastante.
- Já não está mais tão tristinha, mozinha? - provoca ele, arqueando a sobrancelha enquanto voltamos para o quarto que Laurence havia arrumado para nos acomodar. - Acho que não preciso mais me esforçar pra ser legal com você hoje então.
Eu me deito desengonçada na cama, erguendo de modo falho uma perna na direção dele, que se posicionou na ponta da cama.
- Massagem. - digo, mexendo o pé de um lado para o outro.
Michael agarrou o meu pé com força medida, aplicando pressão sobre o calcanhar e o meio do solado dos meus pés, arrancando um suspiro relaxante de mim.
Observei-o graças à luz da lua, aquela penumbra gloriosa que me permitia vê-lo em seu moletom - uma visão muito sexy eu devo afirmar, e a forma como ele parecia gloriosamente concentrado em nada além de mim fez com que uma cambalhota acontecesse em meu estômago. Aquela cambalhota me fez corar, e agradeci por ele não perceber isso. Quando havia sido a última vez que eu tivera uma cambalhota daquela? Um... bater de asas de borboleta?
Uma vez que a massagem terminou, Michael voltou para sua caminha improvisada no chão, onde dormiria com o intuito de respeitar o nosso espaço pessoal e não misturar muito as coisas. Eu sei que essa era a ideia, mas conforme eu me remexia de um lado para o outro e não conseguia dormir, voltando a chorar um pouquinho, Michael lagarteou de modo sutil para o lugar vazio atrás de mim, abraçando-me uma vez mais entre seu corpo quente. Ele não disse nada pois não havia nada a ser dito, e eu não queria que ele falasse nada.
- Você tem cheirinho de gente velha, Mal. - sussurrou ele em meu ouvido, me fazendo virar pra ele.
- Volta pro chão. - fecho a cara, sussurrando de volta.
- Qual é, feri o seu orgulho ao não dizer que você tem gostinho de mel e cheirinho de lavanda?
Abri a boca em sinal de protesto, arrancando uma risadinha dele.
- Que negócio é esse de gostinho de mel, Michael? - ralho, sabendo exatamente ao que ele se referia.
Crescendo por cima de mim, ele me prende no colchão com um braço de cada lado.
O rosto dele vai se aproximando e logo eu sinto a ponta gelada de seu nariz contra meu pescoço, a respiração profunda dele na curva e contra o cabelo, o ar quente que saiu de sua boca quando ele a abriu contra a pele arrepiada. Seu nariz foi roçando do pescoço até minha bochecha, e eu involuntariamente esfreguei minhas coxas uma contra a outra - um sinal claro de que eu estava adorando até demais tudo aquilo.
- Você sabe muito bem de qual gostinho eu estou falando, mozão. - a voz rouca e perversa dele é hipnótica ao pé da minha orelha, me encantando. - E se quiser saber, é muito melhor do que mel.
- Michael. - digo, fechando os olhos e me afundando ainda mais de modo involuntário no colchão, quase miando seu nome. Eu parecia estar no cio, e quando os lábios dele beijaram o meu pescoço de modo passional e demorado eu não pude me controlar e joguei minhas mãos direto em seus cabelos, agarrando-os com desespero.
- Já assim pra mim? - ele me provoca, e em resposta eu mordo minha própria língua.
Não queria que ele parasse, eu estava há meses na seca.
E então o alarme do despertador tocou e eu acordei em um susto, nos braços dele, percebendo que havia tido um sonho extremamente caliente e sem conclusão detalhada. Pela forma que acordamos, percebo que devo ter pegado no sono logo quando ele subiu na cama, e pela forma como me senti bem com aquilo, acabei delirando durante o sono.
- Bom dia pra você também, necessitada. - resmungou ele, se virando para o outro lado e desligando o despertador.
- Como assim necessitada? - coço a cabeça, ajeitando os cabelos.
- Você gemeu meu nome a noite toda. - ele abriu um olho de modo preguiçoso ao passo que um sorriso diabólico se desenhava. - Eu sou tão bom e tão irresistível que até dormindo consigo te deixar satisfeita.
- Aí meu Deus, como eu te odeio. - soco um travesseiro contra meu rosto, soltando um gritinho abafado pelo objeto.
- Nós podemos fazer isso Mal, eu posso te levar pro céu. - o sussurro real dele foi plantado ao passo que seu rosto se colou perigosamente do meu. - Mas só quando você pedir, eu não vou fazer nada que não seja te deixar louca até lá.
- Nem se chover vacas do céu eu vou implorar pra você sobre isso, Michael. - arqueio a sobrancelha, vendo-o se levantar.
- Vamos ver então, Mal. - respondeu-me ele, depositando um aperto firme na minha coxa antes de ir.
Aquele cara ia era me levar pro inferno, isso sim.