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Eu conheci Michael Corleone em um barzinho fedido no meio do nada, numa noite particularmente deplorável eu admito, quando nós dois tínhamos chegado no fundo do poço de nossas vidas

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Eu conheci Michael Corleone em um barzinho fedido no meio do nada, numa noite particularmente deplorável eu admito, quando nós dois tínhamos chegado no fundo do poço de nossas vidas.

Ele tinha o nome do Poderoso Chefão, e aquilo era meio sexy pra minha cabeça bêbada, então porquê não dormir com ele em um motel sujo de beira de estrada? Nós fomos no meu sedã velho até lá, não trocamos números de telefone ou nada do tipo, era algo casual. Fizemos o que eu vou chamar de O Melhor e o Pior Sexo da Minha Vida, e mais pra frente eu explico o motivo. Depois disso, eu larguei ele no barzinho e segui com a minha vida monótona e chata de escritora de conteúdo erótico - algo do qual eu na verdade me orgulho e ao mesmo tempo me envergonho. O nosso casinho virou um conto, é claro, e o público adorou por que se identificou com aquilo, meio cena de pornô "old-school".

É claro que, alguns meses depois, Michael Corleone e eu nos encontramos outra vez.

Eu, na verdade, não me lembrava nadinha dele, mas ele sim se lembrava bem de mim. Seus olhinhos caídos e escuros me encararam como se estivessem me esfaqueando na cara, e o meu mega barrigão de grávida pareceu nocauteá-lo para o espaço.

O Melhor e o Pior Sexo da Minha Vida: grávida de um desconhecido que poderia até então ser um psicopata maluco.

Depois de fazer exames e constatar o meu pesadelo de quatro meses, eu aceitei a realidade e a abracei. Eu já queria ser mãe há anos mas nunca tinha achado a pessoa certa pra isso. Tinha uma vida financeira estável, uma carreira de fundo de quintal que ia engatinhando aos passinhos de um filhote de gato, e tudo mais que uma mulher poderia querer aos vinte e nove anos. Eu não era mais nenhuma novinha safada, e queria sossegar o facho faz tempo. Quem sabe ficar de quatro para o Poderoso Chefão não havia sido a vida me dando limões para que eu fizesse uma limonada?

Ao contrário do que parece logo de cara, eu não sou uma pessoa doida. Eu nunca tinha feito esse tipo de coisa, mas naquela noite fatídica e miserável em específico eu estava tendo um dia MUITO difícil. O meu cachorro havia morrido, e eu me senti no direito de fazer aquilo depois de beber todas, o Bob merecia aquilo! A minha vida sempre foi pacata, eu nunca saí do país e costumo ir e vir sempre nos mesmos lugares, mas o Bob precisava de uma despedida digna, então depois de cremá-lo eu fui pra sua parte favorita da estrada e bom, o resto já estamos sabendo como foi.

Como todo livro de romance sacana, ele tinha uma cara de possessivo, cabelos boi-lambeu pra trás naquele estilo de galã de 1960 e uma aura surpreendentemente tranquila - o que contrariava sua cara de possessivo, só que esse definitivamente não era o meu tipo de cara. Depois de oito anos de um relacionamento dolorosamente fracassado com um homem incrível e sensível, eu tinha quase certeza de que não daria certo com mais ninguém.

- Você, eu te conheço. - dissera ele, me encarando com uma expressão de poucos amigos.

Eu segurava um latte, tinha os cabelos bagunçados e totalmente amassados em um coque podre pois havia dormido com ele molhado na noite anterior. Acho que as minhas olheiras o encararam de volta com tanta profundidade que até mesmo poderiam ser comparadas com um abismo, onde a realidade e dignidade se perderam há muito.

- Não, você deve estar me confundindo com outra pessoa. - neguei, piscando lentamente com uma paciência de dar inveja. - Dá licença, eu preciso desesperadamente ir pra casa pra alimentar a outra pessoa que vive dentro de mim.

- Eu sei que conheço você. - insistiu Michael, dando um passo para o lado e me impedindo de passar. - Você é a mulher do bar, nós fomos juntos para um motel de beira de estrada em Nevada meses atrás.

- Qual é cara, nós estamos em Nova Iorque. - arqueei a sobrancelha, ficando irritada. - Como você sabe que eu sou de Nevada? Você é algum stalker maluco por acaso?

- Diferente de você, eu não estava tão bêbado assim naquela noite. - ele continua, dando passos pequenos e eu o acompanhava sem querer para o canto da cafeteria. - Esse bebê é meu?

- Eu não sei que tipo de pessoa você é, mas vou te dar um papo reto amigão. - falei, agora borbulhando pela ousadia dele. - Cai fora ou eu vou te dar um choque tão forte que vai te desacordar com a porra do meu taser. - Michael parecia dividido pela minha ameaça, mas assim que eu o tirei de dentro da bolsa e apertei o botão, o barulho de choque ecoou ameaçador na direção dele. - Vai pagar pra ver, Casanova?

- Pode ser que eu te confundi. - sibilou ele, visivelmente contrariado.

- É, eu imagino que deve ser muito normal abordar uma mulher grávida que você não conhece e perguntar se o filho dela é seu. - rolei os olhos, apertando o botão de novo só pra garantir enquanto me afastava e fazia uma careta. - Seu esquisito.

Isso tudo faziam duas semanas, e eu quase tinha esquecido da existência dele enquanto comia doritos e bebia refrigerante de maçã, até a manhã em que eu abrir o meu e-mail e vi uma foto minha e dele bastante reveladora, ambos refletidos no espelho do teto daquele motel vagabundo.

O que o e-mail dizia?

" Acho que somos mesmo nós dois aqui, sua surtada.

É melhor vir até o meu escritório amanhã às 09:30, temos muito o que conversar.

Atenciosamente, Michael Corleone.

Ou, um dos possíveis pais do seu filho. "

- Filho da puta! - gritei, me engasgando e socando a mesa do notebook.

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