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- Como está sendo isso pra você, Michael? - pergunta meu terapeuta

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- Como está sendo isso pra você, Michael? - pergunta meu terapeuta.

Eu comecei a fazer psicoterapia logo no dia seguinte ao que aconteceu, sentia que precisava conversar sobre meus problemas com alguém que pudesse me ajudar e que eu mesmo não pudesse magoar ao expressar meus pensamentos.

- Eu sinto tanta raiva de mim mesmo que nem consigo explicar. - suspiro, cruzando os braços bem próximo ao peito. - Tudo está desmoronando ao meu redor, inclusive o meu casamento.

- Por que sente raiva de si mesmo? Você acredita que poderia ter feito algo para mudar as coisas?

- Sim! - concordo de modo altivo, balançando a cabeça. - Acho que, mesmo que mínima coisa, eu poderia ter feito algo para ajudar o meu filho.

- Mas como faria isso se nem mesmo os médicos conseguiram? Não acha que está sendo muito duro consigo mesmo?

- Não sei. - lágrimas começam a brotar, fazendo-me olhar pra cima instintivamente. - Tem que ter alguma razão. Tem que ter alguém pra culpar, não é possível que algo assim seja justo.

- O que aconteceu? Só precisa responder se estiver confortável em fazê-lo. - o homem se ajeita na poltrona, movimentando o lápis brevemente sobre o papel na prancheta.

- Ela teve um descolamento da placenta. - peguei fôlego, sentindo que talvez tiraria um peso absurdo das costas ao falar daquilo pela primeira vez. - Aconteceram alguns sangramentos, pareceu que a bolsa tinha rompido, tinha rompido. Nós fomos pro hospital, o coração do bebê não estava batendo mais há alguns dias, não tinha nada que pudessem fazer por ele. Se não fizessem o parto prematuro, a Mallory poderia ter morrido.

- Por que não havia nada que pudessem fazer? - instiga-me ele.

- Não, Filippo já tinha morrido um ou dois dias antes do parto prematuro. - choro novamente, incrédulo das minhas próprias palavras pois aquilo parecia absurdo para qualquer pessoa ter que repetir em voz alta. - Ele parou de receber oxigênio e nutrientes, a Mallory não percebeu a ausência de movimentos dele porque às vezes ele era assim mesmo, quietinho. Aposto que teria sido totalmente o contrário quando nascesse.

Ri de mim mesmo ao pensar naquilo, secando algumas lágrimas com o lencinho que me foi oferecido.

- Percebe, nas suas palavras, o quão ausente de qualquer responsabilidade pelo que aconteceu ao Filippo vocês são?

Balanço a cabeça em negativo, querendo me castigar mais um pouco com aquela dor.

- Michael, o que você, sua esposa, o que ambos estão passando é pelos estágios do luto. Algo comum entre todas as pessoas que perderam entes tão queridos. - elabora ele, ajeitando a armação de seu óculos. - Se me permite dizer, pelo que me relatou há três sessões atrás, a sua esposa já está passando por elas de um modo muito mais intenso do que o seu. Ela aparenta estar, pelo que me relatou, entre a negação e a raiva constantemente.

Contrato: mãe por escolha ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora