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- Não vejo a hora de ter minha própria família

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- Não vejo a hora de ter minha própria família. - digo, segurando o filho de Gina nos braços.

Ela o trouxe após voltar para buscar um contracheque na empresa, ainda durante a licença maternidade. Era um bebê loirinho, quase careca, de olhos preguiçosos, boquinha diminuta e dedinhos curiosos que apertavam firmemente meus dedos sempre que eu os movimentava para cima e para baixo.

- É lindo o seu bebê, Gina. - elogio-a, sorrindo. - Nem quero mais largar ele.

- Você vai ser um pai muito bom Giancarlo, fica bem com bebês. - Gina ri, pegando-o de volta em seus braços acolhedores. - Só falta uma namorada agora.

- Ele não tem namorada porque é chato. - Michael me alfineta, rindo também. - Parabéns pelo bebê Gina, é uma graça mesmo.

- Obrigada, queridos, por tudo mesmo. - agradecendo, ela o coloca de volta no carrinho e ajeita a bolsa por sobre os ombros. - Até junho!

Eu e Michael ficamos acenando e de mãos nos bolsos, observando a figura dela e de seu pequeno embrulho desaparecerem além das paredes do saguão do prédio.

- Cara, dá pra acreditar que somos capazes de fazer coisas assim? - me viro, batendo no peito dele de modo animado. - Um dia, irmãozinho, vai ser você.

Acordo angustiado, olhando a figura adormecida de Mallory ao meu lado

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Acordo angustiado, olhando a figura adormecida de Mallory ao meu lado.

Eu comecei a ter sonhos com Giancarlo, lembranças vívidas e boas, e aquilo me deixava perdido e saudoso ao mesmo tempo. Me levantei com cuidado, tampando-a até acima dos ombros e aconchegando seus cabelos no travesseiro macio, dando passos silenciosos e calculados no piso até a cozinha. Pego um copo de água fora da geladeira e o bebo avidamente, me sentando nas banquetas da ilha após enchê-lo pela segunda vez e passar a observá-lo mesmo no escuro.

- Eu só queria poder conversar com você uma última vez. - murmuro, passando a mão no rosto.

Diferente dos filmes ou dos livros, o meu irmão não apareceu mágica e misteriosamente ao meu lado para que possamos bater um papo após um calafrio e uma onda de emoção, não. A casa continuou silenciosa, a neve continuava a cair lá fora, a solidão que eu sentia ao pensar nele não foi embora e aquela injustiça tremenda continuava a se perpetuar.

- Michael?

- Deus! - grito de leve, botando uma mão no peito ao ver a figura de Mallory totalmente desgrenhada parada no batente da porta com as mãos na barriga.

Ela parecia uma assombração e eu me amaldiçoei baixinho por ter ficado implorando pra ver um fantasma logo segundos atrás.

- Acho que a bolsa estourou. - sussurra ela, de olhos arregalados e a boca retorcida.

- Bolsa? - cerro os olhos, pensativo. - Oh.

Um telão se acende em minha cabeça, daqueles de estádio de beisebol, e imediatamente me levanto e aproximo-me dela.

- Vamos pro hospital? - peço, vendo-a concordar e estar mais surtada do que eu. - A bolsa de maternidade já está pronta?

- Aham. - murmura Mallory, catatônica. - Eu não pensei que ia ser tão rápido assim, pensei que íamos ter mais tempo. Não é cedo demais pra ele nascer?

- Calma, tá tudo bem. - digo, guiando-a para o quarto novamente. - Vem cá, vamos botar uma roupinha seca em vocês, agasalhar bem pro frio que vai estar lá fora. Eu pego a bolsa e você fica aqui quietinha, tá bom?

- Ok. - sua cabeça balança devagar, me observando de longe.

Eu tento fazer tudo o mais rápido possível, até mesmo dando um banho rápido nela e secando seu corpo de modo delicado para que pudesse colocar suas roupas limpas e ficasse confortável. Calço os sapatos em seus pés, um ritual muito nosso pois ela já não alcançava-os mais, prendo seu cabelo e a ajudo a entrar na minha caminhonete - ou, para Mallory, A Carroça.

- Quer botar uma musiquinha no rádio? Bota amor, pra você relaxar um pouquinho. - ofereço, batendo com o dedo de leve na tela.

- Eu só vou relaxar se eu expelir ele pra fora de uma vez. - arfa ela, passando as mãos pela barriga. - Bebê Gojou, você manchou meu lençol favorito. Vou te botar pra trabalhar logo que sair da minha barriga.

Nós trocamos um olhar ao pararmos no sinal vermelho, gargalhando após meio segundo. Seus dedos se entrelaçam nos meus por cima do apoio de braço de couro caramelo, respirando fundo e ritmado, e aquilo se parecia em muito com os portões do paraíso.

- Vamos mesmo fazer isso então. - digo, mordendo o lábio inferior. - Estamos prestes a nos tornar pais.

- Isso tá me deixando com vontade de cagar na calça. - confessa ela, fazendo uma careta. - Eu não prestei muita atenção nas aulas daquela parteira, não li livros o suficiente pra saber como fazer isso direito.

- Calma, vai dar tudo certo. - asseguro-a, beijando as costas de sua mão a qual ainda estava colada à minha. - Vamos nos sair bem, seremos ótimos nisso e teremos sempre o apoio um do outro não importa o que acontecer.

- Deus, eu quase te odeio por me fazer cagar no meio da sala de parto com uma equipe gigante vendo tudo. - choraminga Mallory, me fuzilando com os olhos.

- Como assim? - arregalo os olhos, fazendo uma careta de nojo. - Ninguém me avisou de cocô nenhum no meio do parto.

- Ahá! Então não fui só eu a única a não prestar atenção nas aulas. - seu dedo se lança acusatório em minha direção, quase alegre por poder me condenar por algo. - É muito normal que as mulheres façam cocô durante o parto normal por causa da força que fazem ao dar a luz.

- Isso parece uma visão do inferno. - boto a língua pra fora, simulando vomitar. - Será que já somos tão íntimos pra isso?

- Michael, você caga de porta aberta todo dia. - ela arqueia a sobrancelha, empinando o nariz. - E sem falar que até mesmo quando eu estou tomando banho às vezes, e você solta gases debaixo do cobertor sempre que estamos vendo filmes pois diz que isso é o "aquecedor" ligando.

Seus dedos fazem aspas, me julgando em silêncio e voz alta ao mesmo tempo.

- Ok, acho que somos íntimos o suficientes pra aguentar sua cagada no meio de todo mundo então mozão. - ri, recebendo um soquinho no ombro como resposta. - Aí! Violenta.

- Você é muito bobo, nem parece o mesmo cara que me obrigou a casar com ele. - Mallory apoia a cabeça no encosto do banco, fechando os olhos.

- É que eu sou assim, pique C.E.O canalha e ao mesmo tempo o último romântico da face da Terra. - brinco, vendo o hospital chegar em nosso campo de visão. - E aí, pronta?

- Não. - nega ela, vendo-me parar na porta do mesmo. - Bebê Gojou... Por que você é mau com sua mamãe?

- Agora não tem mais volta. - beijo seus lábios de leve, afagando sua bochecha. - Vamos lá, vamos conhecer nosso bebê.

Contrato: mãe por escolha ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora