16.

5.2K 459 29
                                    


- Aí meu Deus

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

- Aí meu Deus... - sussurro pra mim mesma, rolando os olhos pela tela e vendo como minhas histórias haviam explodido na internet. - Michael! - gritei, dançando pela sala enquanto segurava o celular.

- Mallory! - ele veio correndo, escorregando no tapete no corredor e caindo em um baque surdo num piscar de olhos. - Estou chegando!

Continuei dançando até vê-lo se levantar, a camisa social amarrotada e a gravata pro outro lado. O topete bagunçado e a expressão de susto dele não conseguiram acompanhar a minha alegria, e logo eu estava pendurada no pescoço dele - praticamente esfregando meu telefone em sua cara.

- Eu estou famosa. - agarro ambos os lados do seu rosto, espremendo-o entre meus dedos e vendo sua feição se parecer com um peixe. - Não se preocupe mozão, eu vou te bancar agora.

Rio sozinha, soltando-o e olhando para a tela do aparelho outra vez.

Nada podia ser melhor do que aquilo, ver aquele reconhecimento ainda maior, mais pessoas comentando e recomendando. Então o paraíso era aquilo? Era ver o seu trabalho ganhar espaço entre tantos outros, ter seu nome marcado na cabeça de alguém para fazer referência de algo extraordinário. 

- Eu preciso contar isso pro meu avô, ele vai pirar. - gargalho, abrindo a agenda de contatos para discar o número dele.

- Vamos comemorar Mal, é uma conquista espetacular. - Michael sorriu genuinamente, o semblante sempre sério agora demasiadamente suave, tranquilo. As mãos dele apertaram meus ombros e eu sorri de volta pra ele com alegria, me esquecendo totalmente de todas as nossas diferenças e situações constrangedoras. Ele era ele, eu era eu, nós éramos duas pessoas que compartilhavam de algo em comum e estava tudo bem. - Estou feliz em saber que você vai me bancar agora, eu sempre quis uma sugar mommy.

- Mas você é mesmo um bobão, hein. - rolo os olhos, vendo o número da minha prima me ligar.

Ela era uma das únicas pessoas que sabia do meu segredinho sujo na internet, me apoiava tremendamente e, se eu a conhecia bem, havia visto o que aconteceu.

- Oi, Lin! - me alegro, fechando um punho e balançando a cabeça em excitação. 

- Mal, oi. É o Laurence. - a voz do marido de Aislin soou pelo outro lado do telefone, me deixando interessada de primeira. 

- Oi Laurence, tudo bem? 

Eu olho para Michael, este que me olha de volta com curiosidade ao ver a animação murchando imediatamente.

- Mallory, não tem outra forma de te dizer isso. - Laurence soluça do outro lado da linha, me deixando nervosa instantaneamente. - O vô morreu.

Os meus olhos correm por todos os lados da sala e eu sei que em algum momento as minhas mãos começaram a tremer. Michael dá um passo pra frente, estendendo a mão em minha direção novamente e dizendo coisas que não chegam até os meus ouvidos.

- O quê você disse? - gaguejo. - Não, Laurence, não. Eu ia ver ele quinta-feira, não tive tempo de ir porque estava resolvendo umas coisas com o Michael.

- É verdade Mal, eu e a Aislin acabamos de chamar a ambulância, você é a primeira pessoa que está sabendo disso. - uma fungada alta é soltada, demonstrando a realidade das palavras de Laurence. - A Lin precisa de você, Mal. Você é a melhor amiga dela, eu não sei se consigo ajudar ela sozinho.

- Laurence, não fala isso pra mim. - começo a chorar depois de repetir isso mil vezes, sendo amparada pelos braços firmes de Michael, que estava assustado. - Eu ia ver ele na quinta, eu não tive tempo. Laurence, é mentira né. Fala pra mim que é mentira Laurence, ele não.

Não sei quando, mas em algum momento o telefone saiu das minhas mãos e foi parar nas de Michael, que terminou a ligação em meio a minha crise iminente. Eu balançava a cabeça de um lado pro outro e tudo parecia um borrão, não tinha forças pra me manter em pé mas também não queria ficar sentada. Eu só queria que nada daquilo fosse verdade, eu iria ver ele na quinta, por Deus! Por que eu não havia ido mesmo? Tenho certeza que era algo que podia ser deixado pra depois, que podia esperar.

- Mal, fica calma, por favor. - são as mãos dele que apertam o meu rosto agora, me obrigando de modo gentil e suave a encará-lo só um pouco. - Respira fundo, vai ficar tudo bem.

- Como vai ficar tudo bem, Michael? - soluço, apertando os olhos com força. - Ele morreu e a culpa é minha, eu não fui ver ele.

- Isso não é verdade Mal, não é culpa de ninguém. - sua voz é calma e controlada em contraste com o meu caos que estava se formando. - Nós vamos arrumar as nossas coisas e vamos pra lá, vamos ver a sua família.

- Ele nem sabia que eu ia me casar. - balbucio, incoerente. - Eu queria tanto que ele estivesse no meu casamento, meu vô... - minha lamúria é intensa, a cabeça leve e aleatória ao que acontecia ao redor, nada fazia sentido.

- Mãe, eu não sei o que fazer. - Michael falava no telefone de longe, logo depois de me sentar obrigada no divã. 

Não sei quanto tempo ficamos assim, mas depois de umas cinco ou seis piscadas eu vejo a mãe de Michael ajoelhada em minha frente com uma xícara de chá entre os dedos.

- Aqui, querida, toma. - ela o coloca em minhas mãos e guia a xícara até meus lábios, paciente e atenciosa. - Respire fundo, não pode ficar tão nervosa agora, não é bom pro bebê.

- Maria... - sussurro, os ombros caídos em sinal de derrota. - Eu sou uma pessoa horrível.

- Não, meu amor, você não é. - os dedos compridos e esguios dela, assim como os do filho, botam uma mecha rebelde atrás da orelha e então acariciam gentilmente minha bochecha e queixo enquanto uma lágrima veloz caiu como uma bala em direção ao meu colo. - Não é justo, e eu sei que te parece uma culpa tremenda agora, mas isso é algo que não dependia de ninguém. Não precisa sorrir hoje, talvez nem semana que vem, mas se prometer que vai sorrir quando estiver pronta, então vai ficar tudo bem.

- Mas eu não consigo. - sou negativa, soluçando. - Meu Deus, o que eu vou fazer?

- Você vai viver, Mal. - o abraço apertado, a princípio indesejado, torna-se bem-vindo quando eu inspiro seu perfume floral e me sinto instantaneamente melhor, algo que só uma mãe poderia fazer. - Eu tomei a liberdade de arrumar uma mudinha de roupas pra você, querida. O Michael está te esperando, pode ser?

Concordo fracamente, me levantando a contragosto e indo na direção dele.

- Vem mozão, eu cuido de você agora. - Michael sorriu tristemente brincalhão, fazendo algo que eu não sabia que ia mexer comigo fortemente ainda.

Mozão... Até que não parecia tão estranho assim.


Contrato: mãe por escolha ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora