- Temos trabalhado isso em terapia, mas parece que não está ajudando nenhum pouco.
Mallory e Michael estavam sentados diante de seu terapeuta de casais, ambos remexendo em seus próprios dedos e levemente afastados um do outro no sofá de cor creme e material fino. De vez em quando, Mallory mexia no detalhe de madeira do estofado, visivelmente ansiosa com alguma coisa.
- Mallory, você considera que a culpa do bebê de vocês ter morrido seja sua? - pergunta o homem, mexendo nos óculos.
Ela afundou-se contra o recosto, encolhendo os ombros próximo das orelhas.
- E-eu sinto que sim. - responde ela, desanimada. - Sinto que falhei na única coisa que não deveria, que eu sou um tremendo fracasso. Era tudo que eu mais queria e agora eu só tenho expectativas idiotas que nunca mais vão acontecer.
- Michael, como você se sente? - o homem passa a observar a figura desanimada de Michael, que tinha os ombros caídos e os cabelos curtíssimos e quase colados no couro-cabeludo de tão lisos.
- Que eu não consigo consertar nada na porra da minha vida.
- Como tem sido o convívio de vocês em casa?
Michael pega fôlego, olhando-a de lado e não recebendo a mesma reciprocidade.
- Difícil, estamos juntos há pouco tempo, menos de um ano. - ele cruza os braços, cansado. - Nos casamos pouco antes do nascimento... da morte, de Filippo e...
- Para de falar assim dele! - Mallory reage, raivosa. - Você fica dizendo isso como se eu não tivesse carregado ele morto dentro de mim por dias sem perceber.
- Mas, Mal, eu nunca disse que...
- Você nunca diz nada! - ela grita, abrindo ambas as mãos. - Você só fica calado como uma maldita porta, você não fala comigo e, quando fala, é só pra ficar dizendo esse tipo de coisa. Eu odeio isso.
- Viu? - Michael aponta, suspirando e passando uma das mãos no rosto. - A verdade é que e-eu não sei mais o que dizer. Doutor, eu já não sei mais o que fazer pra tentar amenizar as coisas entre nós, é muito difícil conversar sem brigar.
- Por que odeia as coisas que ele fala, Mallory?
- Porque me faz lembrar que eu não consigo olhar pra ele sem ter vontade de vomitar. - chora ela finalmente, recebendo um olhar de horror de Michael em resposta. - Eu olho pra você, Michael, e tenho vontade de vomitar. Me perdoe.
Ele levou uma mão a boca, apertando o maxilar sem emitir um som sequer.
Era nítido o quanto aquelas palavras haviam machucado seu coração, o quanto doeu pra ele ouvir que Mallory tinha nojo dele. Michael não entendia o que tinha feito de tão grave para receber o ódio dela depois de enterrarem Filippo, queria ele mesmo desaparecer se pudesse naquele instante.
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Contrato: mãe por escolha ✔️
RomansaLIVRO 01 Um casinho em uma noite sórdida com um homem sedutor deveria terminar em ambos seguindo cada um a sua vida. Desde os primórdios da humanidade duas pessoas com desesperança e desejo se encontram e, deste encontro, surge uma história única qu...