Eu recebia mensagens constantes de Michael sobre o bebê.
Pra minha surpresa, até que ele não era tão maluco assim. Nós nunca nos desviávamos do assunto, ele pedia como as coisas estavam, eu lhe respondia, mandava updates da barriga, mas nunca passava disso. Era tudo sobre o nosso pãozinho.
Acho que Michael estava mais empolgado com a paternidade do que qualquer outro homem que eu conheci, tanto que ele me deu certeza de que viria no primeiro ultrassom do bebê. Eu confesso que parecia legal ter a ajuda dele nessa coisa de ser mãe, e que havia lá no fundo uma faísca de excitação ao imaginá-lo segurando o nosso filho. Não é todo dia que a gente descobre que o cara que engravidou a gente em um motel barato de beira de estraga é um cara legal, mesmo que ele não seja de fato uma pessoa incrivelmente divertida.
Eu, por outro lado, continuava a mesma de sempre, só que mais cheinha agora. O meu corpo clamava por comida, e eu o atendia sempre que ele queria, eu devia isso para o meu bebê. A nutricionista diz que não devo comer muita besteira, mas será que picles temperados com requeijão é algo considerado besteira? Não acho que seja. Entre um devaneio e outro, eu continuava a escrever meus livrinhos e a deixar meus leitores anônimos felizes, o salário era bom e os royalties me permitiam ter a tão sonhada vida pacata americana.
- Janine, oi. - abro a porta de entrada, recebendo ela e o irmão Spencer. - E aí Spencer, quanto tempo.
Os dois me cumprimentam alegres, nós não nos víamos desde que ambos decidiram fazer um mochilão pelo mundo antes de começarem sua terceira faculdade deles. Eles eram gêmeos, o puro suco de estereótipo se me permite opinar, faziam tudo juntos, se vestiam parecidos, era bem bizarro.
Spencer e Janine eram gênios, e eu quase podia imaginá-los amigos de Michael, que parecia meio inteligente também. Eles eram formados em literatura, física e geologia, mas tudo que eu conseguia ver era: faculdade de livros, faria; faculdade de matemática? Jamais. Faculdade de pedras? Não. Eles eram assim, interessados de verdade em tudo que o mundo podia oferecer, e agora iriam desbravar os caminhos da administração de empresas.
- Uau Mal, olha ela aí. - Spencer brinca, arregalando os olhos. - É uma santa barriguinha.
- Eu mal posso esperar para conhecer o bebê da titia. - Janine suspira, sonhadora. - Como está sua mãe Mal?
Janine era uma ótima pessoa, e eu juro que ela não fazia as coisas por mal.
Eu e minha mãe não nos dávamos exatamente bem. Ela e o meu pai se divorciaram depois de uma série de traições, e eu odeio dizer que a culpa era toda dela. O meu pai era um cara na dele, mas digamos que as coisas não terminaram bem depois daquilo. Ele só teve uma única mulher na vida, era cego de amores por ela e a idolatrava cegamente. Não havia nada que Herb Monroe não faria por Lena, e não houve nada que ela fez que não fosse capaz de partir o coração dele.
- Nós continuamos não nos falando muito. - mordo a língua, me lembrando do pior dia da minha vida antes do rompimento com meu ex. - As coisas continuam iguais.
- Janine! - Spencer rola os olhos, repreendendo-a silenciosamente. - Ei Mal, eu trouxe uma lembrancinha pra você. É um totem que os nativos daquela região fazem para abençoar a fertilidade das mulheres da tribo.
O Spencer era cheio dos misticismos e espiritualidade, e eu achava isso meio fofo mesmo não compreendendo bolhufas de nada daquilo.
- Ãh, obrigada Spence. - agradeço, pegando um monte do que eu acho que é madeira com mofo e algo de cheiro não identificado. - É lindo. Eu amei, muito obrigada mesmo.
- E então, vamos falar do baby daddy? - Janine desconversa, vendo meus olhos cruzados em uma tentativa de identificar outras coisas daquele totem estranho. - Quem é? Quero dados na minha mesa agora.
- O nome dele é Michael.
O "cri,cri,cri" que se seguiu e as caretas ansiosas por um prato recheado de fofoca foi logo transformando-se em surpresa por eu não estar derramando essas informações valiosas para eles.
- E...? - Spencer arregala os olhos, mexendo as mãos enquanto implorava por mais.
- A gente ficou bem bêbado no bar do Kennedy, parou em um motel que deve estar interditado pela polícia ou pela vigilância sanitária hoje, e agora estamos aqui. - sorri, dando de ombros envergonhada. - Não tem nada demais.
- Você sabe pelo menos qual o sobrenome dele? - Janine roí uma unha, ansiosa. - Se ele tem STD? Um histórico? Qualquer coisa...
- Janine, eles nunca mais se viram! - Spencer a cutuca, batendo em uma das mãos que ela intercalava para roer as unhas.
Eu peguei o celular, dividida entre mostrá-los a foto de Michael ou não.
- É ele aqui. - levanto a tela, pensando que eles nunca o reconheceriam. - O nome dele é Michael, o sobrenome eu não lembro direito, foi algo que eu achei muito legal na época.
- Aí. Meu. Deus. - Janine arranca o celular da minha mão, babando na tela. - Quem é esse GOSTOSO. Ele parece um galã dos anos 60, definitivamente o meu tipo de cara.
- Janine, é o Michael Corleone. - Spencer não sorri, pelo contrário. Ele tem o cenho franzido e pega o celular dela, aproximando ainda mais a foto.
- Não é o Corleone, não. - Janine nega.
- É ele sim. - Spencer mostra a tela de novo, uma página de rede social exibindo-o em um terno num evento de gala e cercado de seguranças e uma modelo de morrer de beleza. - Mallory, você é mãe do único herdeiro legítimo dos Corleone?
- Gente, meu Deus, por quê tanto alarde assim? - me sinto nervosa, respirando mais rápido do que o normal. - E-ele é um cara com grana, isso eu já percebi, mas não é pra tanto assim.
- O sobrenome Corleone é o maior nome do mundo das joias hoje. - Janine está séria agora, observando enquanto é a minha unha vai parar no canto da boca desta vez. - Eles são donos de grandes incorporadoras, tem as maiores porcentagens de marcas de luxo do mercado. São bilhões por ano.
- E daí gente, ele é só uma pessoa comum mesmo assim. - justifico, tentando me acalmar.
- Ele é uma pessoa muito importante Mal, muito mesmo. - Spencer me devolve o celular. - Ele nunca teve filhos, a mídia nunca descobriu a razão. O maior desejo dele, em todas as entrevistas que ele dá, parece ser ter filhos.
- Tem boatos que o casamento dele foi por água à baixo por que a ex-mulher não queria filhos, mas ela engravidou logo que começou a se relacionar com Nero Marge. - Janine se remexe em seu lugar. - Coitado. As outras namoradas parecem que não eram boas o bastante pra carregar essa criança de ouro.
- Mas a nossa amiga é. - Spencer bate algumas palminhas, alegre. - Parabéns Mallory, de verdade agora.
Aquele parabéns quase soava como uma sentença de prisão, mas eu me recusava a acreditar naquilo. Eu ainda veria do que Michael Corleone era capaz.
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Contrato: mãe por escolha ✔️
RomanceLIVRO 01 Um casinho em uma noite sórdida com um homem sedutor deveria terminar em ambos seguindo cada um a sua vida. Desde os primórdios da humanidade duas pessoas com desesperança e desejo se encontram e, deste encontro, surge uma história única qu...