Roan desacelerou e mudou de forma ao chegar na cabana de Kor, que ao vê-lo, franziu o cenho. Kor não era social, nem mesmo com seu alpha. Mas sempre o recebia e fazia sua parte. Roan subiu os degraus e sentou ao seu lado. Ele parecia mais velho e seus olhos estavam sem brilho. Estava mais magro também.
--Sentimos sua falta, irmão.—Roan disse. Kor não disse nada.
Roan suspirou.
--Precisa de algo?—perguntou a contra gosto.
--Tenho novidades.—Roan disse tentando soar positivo, mas ele mesmo não se sentia assim.—Encontrei minha companheira.
Kor sugou o ar, surpreso. Era a maior reação que ele tivera em meses. Roan sentiu-se egoísta e desejou tirar toda a dor de seu irmão.
--Você não me parece feliz com isso.—Kor observou. Ele sempre fora o mais perspicaz. O mais observador. Era muito inteligente. Costumava ser o executor da matilha, seu braço direito. Mas muita coisa mudou.
--Ela é humana.—anunciou.
Kor empalideceu, e fechou os olhos com pesar.
--Ela é boa?—perguntou ao invés. Roan olhou à sua frente, pensativo.
--Ela parece um sonho.—admitiu.
--Então deve ser o suficiente.—Kor disse.
--Mas estamos em guerra, irmão. Se os Mancoy descobrirem podem vir atrás dela para tentar nos atingir.
Viu Kor enrijecer e suas mãos apertarem os braços da cadeira.
--Stone acha que posso fazer isso. Que posso reivindicá-la.
--Ele não sabe de nada.—Kor rosnou.—Ela seria papel nas mãos deles. Ela seria papel nas mãos de qualquer lobo.
--Acha que posso machucá-la?—Roan quis saber, irritado.
--Acho que humanos não são capazes de lidar com o acasalamento. Somos animais antes de tudo.
Roan não disse nada. Sentia que nada do que poderia dizer iria mudar a mente de Kor. Ele estava muito perdido no luto. Ele não era mais o homem que conhecia.
--Estou sem tempo, irmão.—disse depois de alguns minutos.—Eu preciso dela, não tenho escolha.
--Eu sei.—ele falou, levantando.—Ela é nossa alpha e serei leal a ela enquanto viver.
--Obrigada.—Roan respirou aliviado.
--Vou entrar.
--Apareça, as mulheres sentem sua falta, Hanna sente.—Roan pediu antes dele desaparecer dentro da cabana. Kor hesitou, mas não disse nada.
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Suas patas absorviam o impacto de sua corrida. Sentia uma urgência dentro de si desde que deixara a cabana de Kor. Seu corpo doía e seu coração estava cheio de medo. Nunca havia se sentido assim. Seu lobo não se sentia assim. Estava no limite do território quando sentiu seu inconfundível cheiro. Seus pelos se arrepiaram e quase tropeçou. Virou bruscamente em direção ao aroma, mas quanto mais se aproximava mais desesperado ficava. Foi quando a viu. Ela estava coberta de lama e grama. Podia sentir seu cheiro misturado com sangue mas foi seus grandes olhos que o congelaram no lugar. Ela o fitava com medo e incredulidade. Sua cabeça pendeu e ela perdeu a consciência. Se aproximou de seu corpo inerte e a cheirou. Ela estava bem machucada. Não havia nada quebrado, mas não era bom. Lambeu seu rosto e choramingou. Ela não acordava.
Seu lobo sabia que não podia ajudá-la. Mas o homem dentro sabia. Lentamente voltou a sua forma e a pegou nos braços em uma missão.
Assim que chegou em sua casa, colocou Charlie no sofá desacordada, pegou o celular e discou para sua irmã. Ao segundo toque ela atendeu.
--Hanna.—ele chamou.
--Hey...—ela percebeu logo que havia algo estranho.
--Preciso que venha aqui.—falou com urgência, olhando para o corpo desacordado de sua companheira.
A parte irracional dele estava em desespero ao vê-la tão machucada e inconsciente. Se inclinou em sua direção e endureceu ao sentir o cheiro acre de sangue. Investigando mais, viu que vinha de uma de suas pernas. Com apenas uma mordida poderia curá-la. Mas não podia fazer isso sem sua permissão. Quer dizer, podia. Mas se o fizesse corria o risco de os ligar e se ela o rejeitasse ele poderia morrer. Encontrar sua companheira era o sonho de todo lobo, mas as consequências e implicações disso eram severas. Correu para o banheiro e encheu a banheira com água quente, e a levou para seu quarto bem a tempo de Hanna bater na porta da frente.
--O que aconteceu?--ela perguntou.
--Eu...--ele engoliu em seco, sabendo que assim que contasse para Hanna, toda alcateia saberia. Ela era a líder das mulheres na ausência de sua alpha.--Encontrei minha companheira.
Hanna sugou o ar chocada e gritou pulando nos braços do irmão. Lágrimas em seus olhos, ela sorriu sem conter sua alegria.
--Uma benção.--falou com a voz embargada.
--Ela é humana.--ele revelou.
--Oh.--ela recuou, franzindo o cenho.--Ela sabe sobre nós?
--Não. Ela é nova na cidade, sobrinha de Ernie. Seu nome é Charlie.
--Ela é bonita?
--Isso importa?--ele deu de ombros.--Ela é minha companheira. Ela é perfeita aos meus olhos.
--Então ela é linda.--ela revirou os olhos para o comentário pragmático de seu irmão.--Me chamou por isso? Por que não convocar uma reunião com todos?
--Ela está aqui.--falou. Hanna olhou ao redor a procurando.--Ela se machucou, não consigo acordá-la. Desmaiou quando me viu no pelo.
--Meu Deus Roan. É muita informação.--ela avançou passando por ele e indo até seu quarto encontrando a humana. Suspirou a ver o estado sujo dela.--O que raios ela estava fazendo?
--Acho que correndo.--ele disse atrás dela.
--Nesse tempo?!--Hanna balançou a cabeça.--Bem, o que quer que eu faça?
--Ela precisa de um banho e roupas limpas.--falou.--Não queria invadir sua privacidade. Só nos vimos uma vez e não quero assustá-la a despindo sem permissão. Você é uma mulher, se ela acordar ficará mais confortável ao vê-la.
--Bem pensado irmão.--ela concordou com a lógica dele.--Vou cuidar dela. Por que não vai fazer algo quente para comer? Ela vai precisar.
--Certo.
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O Tempo de Roan
WerewolfQuando Charlie se mudou para a pequena cidade de Mayce para assumir o restaurante do seu tio, não esperava que sua vida fosse mudar. Mas quando conheceu Roan, todo seu mundo virou de cabeça para baixo. Ele parecia odiá-la, mas a encarava como se qu...