Capítulo Dezesseis

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Me arrastei até Kate quando a porta fechou e a escuridão voltou a nos envolver. Ela ainda não havia se mexido e com medo de tocá-la, preferi sentar ao seu lado até que ela retornasse. Pensei no quão cruel Beur soava e no que ele dissera. Não queria pensar em suas ameaças. Na sua determinação. Não podia dar voz a suas palavras e lhe permitir sentir meu medo. Por que eu estava com medo e de alguma forma distorcida, estava feliz por eu e Roan não termos consumado nossa união, por que isso lhe daria uma chance de lutar pelo seu clã. Por Kate. Por Hanna. Nos conhecíamos a pouco tempo, mas eles, Kate, Hanna e seu clã. Viviam nessa situação, nessa guerra, nesse terror por anos. Se minha morte significasse o fim do sofrimento deles... bem, minha morte teria um propósito.

–Charlie...–a voz de Kate me fez virar para ela.--Você o enfrentou.

–Sim.--falei.

--Você é uma mulher forte.

–Não, Kate. Você é.--peguei sua mão.--Você está aqui, respirando. E por mais que doa, você está sobrevivendo e te prometo que em breve você estará livre. Todos que te machucaram irão pagar!

–Mas Charlie, como?--ela suspirou.--Você ouviu o alpha. Ele irá matar todos. Não posso enfrentá-lo, não posso enfrentar nenhum deles. Se eu ficar quieta, baixar a cabeça, talvez eu tenha uma chance.

–Eu não posso imaginar pelo que passou. Mas te asseguro que a força vem de diferentes formas. Não é por que uma pessoa não levanta a voz e não luta com seus punhos que não é forte! Eu estou com medo, sabe?--confessei.--Deve saber, afinal, eu seria louca se não tivesse. Mas Roan, eu o conheço. Ele não é impulsivo e sua maior prioridade é o clã. Ele não vai colocá-los em risco por minha causa. Ele virá me salvar, eu sei. Mas ele não irá fazer isso às cegas. Ele virá com um plano.

–Seu Roan... me parece um homem bom.

–Ele me assustou no começo, pra falar a verdade, ainda assusta as vezes.--falei, sorrindo.--Ele é intenso e sério. Ele me quer, mas me deu todo o espaço que pedi. Nunca achei que fosse me sentir assim tão rápido por alguém, mas é assim com ele.

-- Companheiros.--ela disse, como se fosse a palavra chave. E era.

–Nós vamos sair daqui. Juntas.--reafirmei.

–Não posso.--ela negou.--Eu tenho alguém que depende de mim.

–Você tem?--perguntei, surpresa.

–Sim.--ela confirmou, sua voz carregada de uma leve felicidade.--Eles são tudo para mim, meu único motivo para aguentar tudo isso.

–Vocês vão ser felizes.--falei.--Nós iremos sair dessa. Juntos.

–Você é uma alma gentil, Charlie.--ela sussurrou.--Queria acreditar em você, queria, juro.

–Kate, há quanto tempo está nesse quarto?

–Ah, talvez quatro dias? Só consegui ficar consciente após sua chegada.

–E você estava... pior?--estremeci.

–Sim, eu... nós nos recuperamos rápido.--ela respondeu.

–Oh.

–Então, você disse que tem um restaurante?--ela desconversou. Suspirei, mal escondendo minha tristeza sobre sua situação.

–Sim, me formei em Gastronomia em Nova York, mas vim para Mayce. Meu tio possuía um restaurante por décadas na cidade, mas após um tempo, ele não era mais o mesmo me disseram.--dei de ombros.--Ele me ensinou minha primeira receita, sabia? Uma simples receita de panquecas de mirtilo. Quando ele disse que estava se aposentando, eu não pensei duas vezes. Nunca quis trabalhar em um grande restaurante. Sou muito caseira, adoro receitas de família, no fim, acho que era apenas para ser.

O Tempo de RoanOnde histórias criam vida. Descubra agora