Capítulo Seis

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Não fui muito longe.

Contra minha vontade, admiti que Roan não havia mentido quanto à tempestade. O vento era cruel, e o frio insano. A chuva estava amena quando saí da casa dele, mas depois de caminhar por 10 minutos, isso mudou, e agora chovia sem misericórdia. Senti vergonha por ter sido tão impulsiva. E olha onde eu estava agora. Toda encharcada dos pés a cabeça e sem qualquer sinal de carros na rua. Outra surpresa foi o quão poucas casas encontrei no caminho. A maioria com a luz apagada, então descartei a ideia de pedir ajuda.

Encontrei um ponto de ônibus e corri para me abrigar. Esfreguei os braços tentando me aquecer, mas o vento era impiedoso. Fechei os olhos, me sentindo cansada e estúpida. Um barulho do outro lado da estrada me fez erguer a cabeça assustada. Do outro lado, havia uma forma relativamente grande, mesmo com a chuva notei seus dentes abertos. Gelei, levando a mão à garganta, engasgando. Era um lobo. De alguma forma notei que não era o mesmo que tinha visto na floresta. Esse parecia mais ouriçado e selvagem. Era de pelagem mais clara também. Olhei para os lados, pensando em qual me daria melhor probabilidade de sobreviver.

Escolhi correr para direita, na esperança de chegar perto o suficiente para que Roan ouvisse meus gritos. Levantei e sem pensar duas vezes comecei a correr. Podia ouvir seu rugido e as patas contra o asfalto me perseguindo. A chuva encharcou meus ossos, o vento cortava minha pele. Pude ver a primeira casa a frente. Mas nada me preparou quando algo sólido bateu em minhas costas me levando ao chão, e uma dor que jamais senti na vida, se estendeu por meu ombro. Gritei, e rolei tentando me desvencilhar dele. Com toda minha força dei um soco onde alcançava e ele me soltou. Podia sentir o sangue escorrendo pelo meu braço. O lobo não desistiu, mordendo minha panturrilha. O grito que soltei feriu minha garganta. Era isso, iria morrer estraçalhada por um lobo.

Comecei a ver pontos pretos, e a náusea ameaçou me fazer vomitar com a dor. Um trovão explodiu nos céus iluminando toda a rua, e ao longe avistei uma grande figura sem camisa correndo em minha direção. Fúria em seus olhos, seu peito brilhando molhado. Ele abriu a boca e um rugido monstruoso saiu dele. Eu devia estar delirando. A perda de sangue estava me levando. Vi Roan pular por mim, se jogando contra o lobo. Me virei, tonta, tentando sentar e gritar por socorro. Mas ao cortar meus olhos em Roan vi que ele não estava mais lá. Em seu lugar um lobo. Haviam dois. O novo lobo era o mesmo da floresta. Ele era ainda maior do que me lembrava e estava lutando contra meu atacante, e ganhando.

O lobo claro não tinha chance. O lobo maior foi direto em seu pescoço, mordendo forte e pude ouvir o momento que ele venceu. Meu atacante caiu inerte na água, morto. Cai contra o asfalto, fraca. Olhando para o céu, para os trovões e raios. Senti algo me tocando no rosto, e ao me virar visualizei olhos lupinos, escuros. O lobo chorou contra meu pescoço. Ergui minha mão, estranhamente não sentindo medo. Toquei sua face e ele lambeu minha mão, rosnando. Podia jurar que ele queria dizer algo.

--Obrigada por meu salvar.--falei.--Por favor, seja um dos bons.

Minha mão caiu, fraca demais para sustentar. Um barulho de algo se quebrando, e um gemido de dor depois, e Roan surgiu na minha visão, no lugar do lobo preto. Pisquei, incapaz de processar o que estava vendo.

--Droga, Charlie.--ele disse, com pesar.--Você vai ficar bem, eu prometo.

--Roan...--gemi de dor, quando ele me ergueu no colo.--Me desculpe, eu devia ter... te escutado.

--Eu deveria ter lhe impedido.--ele negou. Podia sentir ele correndo. Era impossível, ele não podia correr me carregando. Eu não era mais gordinha, mas ainda assim, não era a pessoa mais leve.

Devo ter desmaiado, por que ao reabrir os olhos, senti ele me colocando em algo macio. Estava de volta em seu quarto. Meu corpo todo tremia. Meus dentes batiam com violência um no outro. Meu braço e perna, agora estavam dormentes.

O Tempo de RoanOnde histórias criam vida. Descubra agora