Tomei meu tempo me vestindo. Por mais que quisesse respostas, estava apavorada de quais seriam. Meu lado racional, não conseguia aceitar essa possibilidade. Mas eu continuava ali, com uma cicatriz no ombro e no tornozelo. Eu continuava na casa de Roan, e ao menos que eu tenha um cérebro muito criativo, tudo que eu vivi nas últimas 24hs tinham de fato acontecido. Engoli em seco, sabendo que teria que enfrentar a verdade, seja lá qual fosse.
O encontrei na cozinha, terminando o café. Sentei na mesa, tentando ao máximo controlar minhas emoções. Não queria ter um surto na frente dele. Roan se movia tenso pela cozinha, colocando a refeição completa na mesa. Quando sentou na minha frente, contabilizei a comida e franzi.
–Espera mais alguém?--perguntei, pegando uma tira de bacon.
–Não.
–Fez tudo isso para nós?--arqueei a sobrancelha, surpresa. Ele deu de ombros.
–Não sabia o que gostava.
–Tudo, óbvio.--falei, sem jeito.--Eu gosto de comer como pode ver.
Ele me encarou, confuso.
–O que isso quer dizer?
–Ora, Roan. Eu não sou nenhuma modelo. Gosto de comer e minhas gorduras extras mostram isso.
–-Você é perfeita.--ele me cortou, irritado. O olhei, chocada e desconcertada.--Coma, vai esfriar.--continuou, imperturbável.
Me forcei a comer, ignorando o que ele dissera. Ninguém nunca me chamou de perfeita, e eu sabia que não era. Lutei muito para chegar ao meu tamanho atual. Meus quadris ainda me incomodavam e gostaria de ter menos seios também. Mas estava saudável e encontrei o perfeito equilíbrio entre comer e me exercitar. Estava feliz.
–Estou satisfeita. Podemos conversar agora?--perguntei, dez minutos depois. Ele engoliu um grande pedaço de bacon e levantou, gesticulando para o sofá. O segui até lá e me sentei no lado oposto, gesto que não passou despercebido por ele.
–Como já sabe, sou um lobo. Shifter, metade homem, metade lobo. Podemos mudar nossa natureza como e quando quisermos. Não sabemos quantos de nós existem no mundo, mas somos consideravelmente, em menor quantidade que os humanos comuns. Vivemos sempre entre os nossos, por isso nossa identidade é desconhecida para vocês. E em maior parte, vivemos em cidades pequenas, com grande área florestal, para que nosso lobo possa viver livre.
–Ok. Então, Kyan, Foxy, Hanna, e Stone são?
–-Claro. E dezenas mais que vivem aqui perto.--ele afirmou. Engoli, tentando assimilar tudo que me dizia.
–Mas agora eu sei sobre vocês, como eu me encaixo nessa história?--quis saber, nervosa.--Vocês vão me prender? Eu não irei contar para ninguém, prometo. Ninguém acreditaria certo?--dei uma risada sem graça.
–Charlie, preciso que entenda que nós vivemos diferente dos humanos. Temos nossa própria crença, nossa própria lei.--ele disse.--Em nosso clã, existe o líder, o alpha, e seus sentinelas e vigias. Shifters, que são como soldados em nosso mundo, e que servem ao alpha e protegem o clã.
–Entendo.--quer dizer, eu não entendia, mas entendia.
–Dentro de nosso mundo, existem as companheiras.--ele hesitou, de repente, sem jeito.--Companheiras de lobos são raras. Achamos que é por isso que somos poucos. Os shifters vivem... relativamente mais que os humanos, mas caso não encontremos nossa companheira até determinado tempo, morremos logo. Muitos não acham.
–O que isso quer dizer, Roan?
–Eu sou um alpha.--ele revelou. Arregalei os olhos, surpresa. O olhei, o olhei de verdade. Havia uma força sobre ele diferente daquela que havia nos outros que conheci brevemente.--Meu clã depende de mim, um clã sem um alpha não sobrevive por muito tempo. Quando o alpha morre, a matilha costuma se separar, alguns encontram outra família, outros sucumbem.
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O Tempo de Roan
WerewolfQuando Charlie se mudou para a pequena cidade de Mayce para assumir o restaurante do seu tio, não esperava que sua vida fosse mudar. Mas quando conheceu Roan, todo seu mundo virou de cabeça para baixo. Ele parecia odiá-la, mas a encarava como se qu...