Capítulo Quinze

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A primeira coisa que percebi quando minha consciência começou a retornar, foi a dor pulsante no fundo dos meus olhos. Tentei me mexer, sentindo todo o meu corpo dolorido, prova da minha luta anterior. Estremeci quando as memórias começaram a voltar. Uma lágrima solitária deslizou. Pelo menos não caí sem lutar. Pensei, a contragosto. Sentei devagar, minha visão se adaptando ao local escuro e com cheiro de mofo. Não parecia haver alguma janela onde eu estava. Encostei contra a parede, meus movimentos duros fazendo um barulho alto no chão áspero. Gemi, sentindo minhas costelas doerem. Não sabia se estavam quebradas, mas a dor era muito real.

Eu sabia o que tinha acontecido comigo. E talvez isso me impediu de pirar. Quer dizer, eu estava com medo, seria idiota se não estivesse. Mas eu não era uma pessoa que foi uma vítima aleatória de sequestro. Eu não estava sozinha. Roan saberia quem me levou. Ele viria por mim. Meu corpo tremia de exaustão e dor. E me permiti derramar mais algumas lágrimas. Me permiti sentir. Não demorou muito para os soluços preencherem o silêncio.

Queria ver onde estava, odiava estar no escuro.

Uma pancada do outro lado de onde estava me fez saltar, seguido de algo se arrastando e um choro suave. Tentei ver o que ou quem podia ser, mas estava muito escuro.

–Oi?--sussurrei. O silêncio me retornou, o choro cessando. Uma respiração ruidosa se seguiu, quase como se a pessoa sentisse dor ao soprar ar para dentro e fora do pulmão.--Oi?--insisti.--Eu não posso ver você. Meu nome é Charlie.

–Oi.--uma voz baixa respondeu. Era uma mulher, soava um pouco jovem, mas sua voz sinalizava que havia algo de errado.--Você disse que não pode ver?

–Não. Você pode? Está muito escuro.

Ouvi ela inalar ruidosamente.

–Seu cheiro é confuso.--ela murmurou.--Você cheira como humano, mas tem cheiro de shifter também.

–Sou humana.--revelei.--Mas meu companheiro, é lobo.--completei, não sentindo a estranheza da sentença, mas certa paz.

–Não entendo. Isso não é possível.--ela disse.

–Estou me acostumando com a ideia também.--falei.--Até poucas semanas atrás não sabia que vocês existiam.--ela não comentou nada. Ficamos em silêncio por alguns minutos, ainda podia ouvir sua respiração. De repente um mal estar me tomou e me dei conta que se ela estava aqui, não podia ser um bom sinal.--Hey, você não me disse seu nome.

–Kate.

–Kate.--repeti.--Quantos anos tem?

–Vinte e dois.

–Tenho vinte e sete.--informei.--Hum, por que está aqui Kate?

–Eu... disse não.--ela sussurrou, dor quebrando sua voz no final. Um frio afundou meu estômago e forcei a continuar.

–Como assim?

–Ele... o alpha.--ela disse.--Ele não gosta quando dizemos "não". Um dos sentinelas estava me tocando e eu... tentei afastá-lo. O alpha não gostou.

–Não.--meu coração doeu por ela e ardeu de ódio pelo que ouvi.--Ele te machucou?

–-Não. Sinceramente, não faço ideia quem foi.--ela murmurou.--Depois de um tempo parei de me importar. Só queria... não sentir.

–Sinto muito Kate.--falei.

–Sinto muito também Charlie.

Acho que ambas sabíamos pelo que sentíamos muito. Uma espécie de conexão se formou entre nós. Sua presença ali me fez perceber que eu deveria continuar forte, não só por mim ou por Roan. Mas por Kate. Eu iria sair dali e levaria Kate comigo. A tiraria desse lugar.

O Tempo de RoanOnde histórias criam vida. Descubra agora