Capítulo Cinco

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A primeira coisa que vi ao abrir os olhos foi uma lareira. Uma lareira de verdade. Não dessas de gás. Uma com madeira e fogo estalando. Olhei ao redor não reconhecendo onde estava. Uma coisa eu sabia, meu corpo todo doía. Sentei, percebendo que eu estava só de camisa. Uma camisa masculina, e que não era minha. Uma camisa que nunca havia visto na vida.

Pavor me tomou.

Onde eu estava?

Olhei em volta, atordoada. Um movimento vindo de um corredor me alarmou. Uma grande sombra surgiu e recuei. Me preparei para gritar quando um rosto familiar, mesmo estranho, apareceu. Nos entreolhamos. Podia ouvir meu coração batendo em meus ouvidos. Ele andou até a lareira, se agachando na frente e atiçando o fogo. O cheiro de madeira queimada atingiu meu nariz.

--O que aconteceu?—perguntei. Ele se virou pra mim, pensativo.

--O que você lembra?—perguntou. Pisquei, tentando me lembrar. Meu corpo dolorido era um bom começo. Então a visão de um lobo enorme surgiu na minha cabeça. Arregalei os olhos, olhando inconscientemente em volta.

--Um lobo enorme e assustador!—engasguei. Suas narinas alargaram, e notei os músculos de seus braços se esticando.—Eu caí e estava chovendo. O lobo tentou me atacar, e...

--Atacar?!—ele me cortou, um tom de deboche em sua voz—Você deve ter batido a cabeça.

--Eu sei o que vi.--contrapus. Ele bufou, se aproximando da cama. Recuei, encostando na cabeceira, incerta do que esperar.--O que aconteceu?--repeti a pergunta.

--Eu a encontrei desmaiada na floresta.

--E me trouxe pra cá?--balancei a cabeça, confusa.--Por que não me levou para o hospital?

--Uma tempestade estava para chegar, não havia tempo para conseguir um carro e levá-la ao hospital. Quando chove assim, as estradas ficam muito perigosas.--ele explicou. Assenti, sabendo que ele tinha razão. Vi seus olhos sobre minhas pernas descobertas e corei, pegando o cobertor que estava enrolado e me cobrindo. Seus olhos seguiram meus movimentos, parecendo mais escuros.

--Hum... a tempestade já passou?

--Não. Receio que esteja presa comigo até que passe.--ele disse num tom baixo. Engoli em seco, me abracei, notando novamente minha ausência de roupa.

--Onde estão minhas roupas? Por que estou usando isso?--perguntei.

--Estavam sujas, você parece ter caído feio lá.--disse--Mas não se preocupe, eu não a toquei. Minha irmã, Hanna, esteve aqui e cuidou de você.

Assenti, um pouco mais aliviada. Um silêncio desconfortável se seguiu. Podia sentir sua presença no quarto, e seus olhos sobre mim. Incapaz de olhar para ele, foquei minha atenção nas chamas da lareira.

--Você gosta?--sua voz me sobressaltou. Por um segundo não sabia ao que ele se referia, mas então ele gesticulou para onde eu mantinha minha atenção.

--Eu sempre achei que uma lareira de verdade é algo que um lar deve ter.--confessei. Ele me encarou em silêncio. Eu não fazia ideia do que se passava em sua mente. Sua expressão era como na primeira vez que o vi, séria.

--Por que se mudou para cá?--sua pergunta me surpreendeu.--Nova York é uma cidade grande, com oportunidades. Você é nova, e pelo que ouvi ao redor, sua comida conquistou toda a cidade. Você poderia ser uma grande chef.

--Hum, não havia nada mais para mim em Nova York.--admiti, tentando assimilar seus questionamentos..--Quando eu era pequena visitava meu tio, e seu restaurante era o melhor lugar do mundo pra mim. É onde a maioria das minhas boas lembranças estão. Cozinhar para poucos, e conhecer cada cliente, é o suficiente para mim. Ter meu próprio lugar, é ter a liberdade de criar minhas receitas. Nunca poderia ter isso em Nova York.

O Tempo de RoanOnde histórias criam vida. Descubra agora