Capítulo 86

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 Fico um tempo olhando para o teto do meu quarto, no escuro que as cortinas fechadas me permitiam ficar, apenas com alguns simples raios de luz entrando por frestas bem pequenas. Me enrolo mais na coberta tentando refletir sobre meus sentimentos e pensamentos, tentando organizar tudo que sinto. Já era véspera de Natal, e eu estava sim empolgada principalmente pelas tradições e pelos dias "preguiçosos" que eu teria, mas tinha Bela... 

 Que por me ver cansada e exausta tinha insistido em dormir em seu quarto de hóspedes para que eu pudesse dormir MESMO e não ficar a tentando - o que provavelmente aconteceria - e acabássemos indo dormir mais tarde do que já estávamos indo, e apesar de eu dizer que dormir com ela era muito muito bom, ela preferia me dar alguns cochilos durante a tarde em seus braços, o que tenho que admitir, vinham me revigorando. E claro... tinha o sexo. Por vezes, era bem selvagem, vamos assim dizer, e em outras vezes fazíamos amor... carregado de carinho. Mas o Natal me lembrava o primeiro natal longe do Brasil mas que passei ao lado dele... o mesmo em que ele tinha me presenteado com aquele anel que era quase uma jura de amor... aquele mesmo que eu ainda usava. O bendito anel que por alguma razão, eu não conseguia tirar e quando o fazia, me sentia vazia, como se faltasse algo ou que estivesse muito errado. 

 O relógio soou me avisando que eram 07h30, e que eu deveria estar acordando naquele momento mas com esses pensamentos, acordei um pouco mais cedo e desde então, estava tentando organizar tudo isso para não surtar durante o dia ou entrar em uma crise de ansiedade. Bom... Ele é uma lembrança, querendo ou não, ele sempre vai ser! E eu não posso ficar lutando contra isso. Bela também tinha seus fantasmas dos natais passados, grande parte passados em um quarto de hospital, o pior deles com a angústia da mãe em cirurgia, e alguns natais "mal sucedidos" com ex amores da adolescência nos quais ela tentava preencher uma necessidade de algo que ela mesma já tinha admitido não saber o que era até sua carreira começar a crescer e ela perceber que era aquilo que ela buscava o tempo todo. Não podia continuar negando à Enzo... Eu tinha que parar de achar que em algum momento ele deixaria de fazer parte da minha vida, sendo que momentos mais do que importantes para a construção de quem eu era, tinha ele presente. Apagá-lo seria como apagar uma parte gigante de mim, e bom... isso era crescer afinal. Saber lidar com seus traumas e lembranças. 

 Levantei da cama indo até o banheiro e preparando meu banho, enquanto escovava os dentes e limpava os óculos. Tirei o pijama, entrando na banheira com água quente e espuma logo em seguida, relaxando os meus músculos. Observei um hematoma que tinha se formado na minha perna pela aula de luta no dia anterior, mas não me abalei, já tão acostumada com algumas aqui e ali. Alonguei os braços sentindo os músculos doloridos, mas com eles torneados, e descansei por fim na banheira, sentindo a água quente manter a temperatura do meu corpo. Respirei fundo algumas vezes esvaziando a mente, e me animando aos poucos pelo dia que teríamos. Visitas às casas, entrega de quitutes e presentes, preparação para a ceia de natal - que eu tinha que admitir, eu amava me arrumar -, a troca de presentes e lembrancinhas pelo Palácio todo, a comida e o tempo com a família no Grande Salão com cantoria, piadas e esperança. Isso foi o suficiente pra não prolongar tanto o banho e me arrumar o mais rápido que pude, colocando um vestido de manga longa, meia calça, botas, separando meu casaco, cachecol, luvas e touca para pegar na saída, penteando os cabelos e fazendo uma maquiagem rápida, saindo do quarto saltitando e descendo as escadas correndo e cantando. 

- BOM DIA FAMÍLIA! - Falo alto e animada entrando na Sala de Jantar e todos me olham com animação e surpresa. 

- Bom dia filha... - Meu pai responde erguendo uma sobrancelha. Havia dias que eu não acordava com toda aquela disposição, com animação sim, mas não com TUDO aquilo. Beijo os meus avós que sorriem e me abraçam com vontade, beijo Piet, beijo Bela, até Matteo entrou na história, e abraço meus pais com vontade. 

O Destino me Aguarda - O FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora