Capítulo XXIV

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André

Não era justo que essa vida estivesse me impondo uma escolha tão dura quanto essa, meu filho doente ou o meu amor por Consuelo. Dois dias passaram, nada de Consuelo me responder aquela mensagem, ela é jovem para compreender o que está acontecendo na minha vida e eu sequer posso julgá-la como imatura. Dezoito anos não deram ainda a ela a experiência de vida necessária para saber lidar com uma situação assim, sou que preciso ser franco com ela e ouvir sua decisão. Resolvi fazer uma chamada de vídeo, sei que pelo fuso horário deve ser por volta das 20:00 e ela me atenderia.

Como previa, ela atendeu. Estava bela, com o rosto um pouco mais cheio e meio pálida acredito que pela falta de sol daquele lugar bem menos quente do que aqui. Pude ver que ela estava em quarto decorado com ilustrações infantis e unissex, coelhos de cor branca em um papel de parede amarelo claro.

Consuelo – Como estão as coisas por aí?

Consuelo

Assim que atendi sua chamada eu percebi que ele está de novo em casa, reconheço o mal gosto e os móveis da casa da minha tia Fabiana de longe. Ele está lá e aposto que ela com aquele jeito envolvente e manipulador já deve ter saído do resguardo diretamente para a cama dele.

André – Não muito bem e esse é o motivo de ter te ligado a essa hora.

Consuelo – Eu recebi sua mensagem, sinto muito pelo seu filho!

André – Eu senti falta de uma mensagem sua para me dizer isso.

Consuelo – Você me deixou por dias sem dar notícias, o que eu deveria ter pensado?

André – Não me julgue Consuelo, estou passando pelos dias mais difíceis da minha vida.

Consuelo – Eu também estou sofrendo, se imagine esperando um filho aos dezoito anos e sendo praticamente obrigada a estar em um país que não é o meu. Não está fácil para nenhum de nós!

André – Eu não posso amarrar a sua vida para sempre e muito menos te pedir que espere por mim. Meu filho requer muitos cuidados e eu não poderia levá-lo para uma viagem tão longa...

Consuelo – Não continue André, não precisa dizer mais nada. Espero que Deus te ajude a cuidar dele e (respirou fundo) que você possa ser feliz!

André – Isso não é um adeus Consuelo, o amor que sinto por você vai ficar aqui. Independente das escolhas que você faça aí, vou dar tempo para que as coisas se organizem e antes do nosso filho nascer eu estarei aí.

Consuelo – O filho não é seu, André é seu filho e dedique-se a ele! Adeus André!

André

Ela desligou e sei que assim como eu chorou, nunca imaginei que pudesse sentir isso por alguém, esse amor e vazio ao mesmo tempo. Compreendo que ela esteja sentida com o rumo que as coisas tomaram nas nossas vidas, mas eu não vou abandoná-la, nunca!

Consuelo

Eu não posso esperar por ele, sei que o filho precisa dele agora e quem sabe tenha sido Deus a nos afastar, para que André pudesse estar mais presente na vida do filho doente. Estou me retirando do caminho dele definitivamente, isso é o melhor para nós dois agora.

Meu pai chegou mais tarde do que de costume para jantar em casa, minha mãe que já estava desconfiada, ficou ainda mais. E eu com o rosto inchado de chorar não poderia disfarçar a tristeza deles, mesmo que eu quisesse.

Elaine – Dessa vez eu não vou te perguntar o que aconteceu, já posso imaginar.

Carlos – Vamos jantar em paz e depois vocês conversam.

Te quero, te devoro...Tekila!Onde histórias criam vida. Descubra agora