Achámos um bar que parecia seguro para passar a noite.
Escondemos os carros e a moto, protegemos as portas e janelas do bar e, por sorte, existiam velas ali que poderiamos usar para iluminar o ambiente.
Aaron improvisou camas enquanto eu pegava as velas e a mochila com os cuidados médicos primários.
Levei até o banco alto, junto do bar, onde mandara Daryl sentar, e sentei no banco do lado dele. Estiquei a mão.
- Me dá o seu acendedor.
Ele franziu o cenho. - Para quê?
Revirei os olhos. - Vou acender as velas com quê?
Ele retirou o acendedor do bolso, me entregando.
Acendi as velas e depois entreguei de novo a ele, sua mão roçando na minha. Indiquei o braço dele.
- Me deixa ver.
Ele colocou o braço sobre o balcão e eu tirei o pano, observando o ferimento.
Peguei o que precisava da mochila e comecei a limpar, olhando Daryl de canto, pois percebi ele fazendo careta de dor.
Sorri discretamente. - Desculpa.
Ele me olhou. - Pelo quê?
Indiquei o braço. - Estou magoando.
- Hum.
Sorri. - Essa resposta foi ótima.
- Quer que eu diga o quê?
Ergui o olhar e vi que ele já me olhava, segurando meu olhar.
- Um obrigado seria bom.
Ele riu fraco. - Obrigado por estar machucando? Ou por eu estar ferido por culpa sua?
Respirei fundo, olhando a mochila e procurando uma bandagem.
- Você também gritou. - Falei, abrindo a embalagem.
- Não vou brigar de novo com você. Não vale de nada.
Estreitei os olhos. - Caso não esteja percebendo, eu estou ajudando aqui.
- Eu não pedi nada.
- Ah, mas você é um idiota, mesmo!
- Já estão brigando de novo? - Perguntou Aaron.
Olhei ele e depois continuei a curar o ferimento do caipira.
Fiquei em silêncio, mas conseguia perceber o olhar dele em mim, observando cada movimento meu. E isso estava mexendo com os meus nervos.
- Obrigado.
Parei o que estava fazendo e ergui o olhar.
- Quê?
Ele deu de ombros. - Obrigado, por cuidar do ferimento e por ter salvo minha vida lá na loja.
Suspirei e assenti, terminando o curativo.
- Está pronto. - Olhei ele. - Não precisa agradecer, Dixon, eu estava só irritando você. E não iria deixar você morrer.
- Hum. Tá.
Sorri. - Mas foi legal você ter confiado em mim o bastante para lutar do meu lado. Você confiou em mim, a irresponsável.
Daryl mordeu o lábio. - Você não é uma irresponsável.
Assenti, coloquei tudo na mochila e levantei. - Tá.
Fui na direção do bar e fiquei olhando as garrafas. Peguei duas cervejas, abri e coloquei uma na frente de Daryl.
- Só dessa vez, Dixon. Tá perdoado.
Ele ficou me olhando, mas pegou a garrafa e assentiu, bebendo um gole.
Sentei no banco de novo, bebendo a minha cerveja e olhando a garrafa.
- O que você fazia antes? - Perguntou. Depois indicou o curativo. - Era médica?
Eu ri. - Não. - Suspirei. - Eu não era ninguém.
- E onde aprendeu tudo isso?
Percebi Aaron, sentado na sua espécie de cama, mas sabia que ele estava escutando.
- Sozinha. - Rodei a garrafa. - Eu vivia sozinha com o meu pai, mas ele bebia bastante e não ligava para nada. - Dei de ombros. - Meu irmão saiu de casa bem cedo, nunca mais voltou. Deixei a faculdade, arrumei um emprego e cuidava da minha vida. Aprendi a curar meu próprios ferimentos, por causa das brigas que arrumava. Aprendi a atirar para me defender, e a usar uma katana. Claro que nunca usei elas no meu velho, apenas tentava parar ele com as mãos.
Daryl franziu o cenho. - Ele... machucava você?
Assenti. - Ele me batia, ou tentava, pelo menos. Normalmente só conseguia dar o primeiro soco.
Vi Daryl assentir, pegar na garrafa e me olhar de novo. - Sei como é. - Bebeu um gole.
Fiquei olhando ele, naquele olhar bruto, e entendi que ele deveria ter passado por uma vida difícil também... Não que isso fizesse com que eu passasse a gostar dele.
Respirei fundo, bebendo o resto da minha cerveja. Depois levantei.
- Boa noite, Dixon. - Passei por ele, fui na minha cama e deitei. - Boa, noite Aaron.
Ele sorriu. - Boa noite, Lara.
Cobri os olhos com o braço e adormeci.Daryl:
Ele se manteve ali algum tempo, olhando o nada e depois seus olhos acharam Lara.
Parecia que ela não era quem ele pensava.
Como eles poderiam ter tido uma infância tão semelhante? Os dois com um pai idiota, irmãos que sumiam, e sem mãe... Os dois tendo de aprender a se virar, praticamente deixados sozinhos no mundo.
Lara não parecia ser esse tipo de garota. Apesar da aparência, Daryl achara que ela era uma princesa, que sobrevivia sob a proteção de Alexandria e que pensava que, só por sair em busca de suprimentos, achava que era forte.
Só que Lara era forte.
Respirou fundo, levantou e foi na sua cama, deitando de costas e erguendo uma das pernas, ficando a olhar o nada.
- Ela te pegou de surpresa, não foi?
Daryl olhou para baixo, vendo Aaron, mais na frente, sentado na sua cama.
Deu de ombros. - Pensei que fosse diferente.
Aaron assentiu, sorrindo. - Sempre pensam. Sabe aquela cicatriz dela?
Daryl franziu o cenho. - Hum?
- Não foi depois do apocalipse. Foi o pai dela.
Daryl sentou. - E como você sabe?
- Lara confia em mim.
O caipira ficou olhando a parede, pensando, como se de repente as cicatrizes nas suas costas estivessem queimando.
- Hum. - Respondeu por fim, e deitou para trás.
Assim que percebeu que Aaron estava deitado, Daryl olhou para o lado, vendo Lara dormindo, com uma expressão tranquila, como se o mundo não estivesse acabando.
Enquanto olhava ela, Daryl deu um sorriso de canto, bem pequeno. Lara sabia tomar conta de si, tal como ele, mas assim, dormindo, parecia indefesa.
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Bite Your Kiss
FanfictionDaryl nunca achou que se adaptaria a Alexandria, aquele povo que parecia ter esquecido que, lá fora os mortos dominavam o mundo, matando todos os que eles mais amavam. Além disso, os Alexandrinos eram esquisitos, com suas roupas e vidinhas normais...