Corri na direção de Jace, ignorando quem quer que fosse que corria atrás de mim. A urgência de chegar no menino falou mais alto.
Era o filho do Daryl, e mesmo eu condenando a traição dele, aquela criança tinha o sangue do homem que eu amava. Isso era tudo o que importava.
Ajoelhei no chão, segurando a cabeça dele, onde um feio ferimento fazia o sangue escorrer como um rio pelo seu rosto, sujando seu cabelo já um pouco grande, semelhante ao do pai.
Daryl ajoelhou do meu lado meros segundos depois.
Jace abriu os olhos a custo e nos olhou, sorrindo de canto, bem fraquinho.
- Pai... Mãe... Eu sabia que viriam. Eu disse ao Siddiq...
Olhei Daryl. As palavras de Jace aqueceram meu coração, mas ao mesmo tempo, me deixaram nervosa. Ele me chamara de mãe... Sorri. No fundo, eu sempre fora, né?
Tirei alguns fios de cabelo do seu rosto.
- E aí, garotão? - Disse Daryl. - Vamos para casa, tá bom? Está a salvo, agora.
Siddiq surgiu do meu lado e ergui a cabeça, o olhando. Ele tremia.
- Eu tentei fazer um curativo. - Indicou a cabeça dele. - Foi o melhor que consegui.
Assenti. - Quem fez isso com o meu filho?
Ignorei o olhar de Daryl, me focando unicamente em Siddiq.
- Alpha. DJ morreu protegendo o Jace. Aliás, todos protegemos, porque ela queria matá-lo. Mas o DJ foi incansável. Até o último minuto.
Senti uma dor forte no meu peito.
- DJ morreu?
Siddiq assentiu e depois pediu para seguirmos ele.
Levantei, trazendo Jace comigo.
Senti a mão de Daryl no meu cotovelo.
- Quer que eu pegue?
- Não, eu levo, está tudo bem. Ajuda o Siddiq.
Daryl assentiu.
Coloquei o peso de Jace na minha anca e Jace colocou a cabeça no meu ombro.
Seguimos um Siddiq trémulo e chorando, até o alto da colina e ninguém estava preparado para o horror que se seguiu.
Alinhadas bem no topo, estavam as estacas que delimitavam o território de Alpha. Espetadas em cada estaca, estavam as cabeças dos nossos amigos, se mexendo e fazendo aqueles sons nojentos de zumbis.
Jace ergueu a cabeça, mas eu tapei os olhos dele.
- Olha em outra direção. - Falei, querendo chorar.
Ele escondeu o rosto no meu pescoço.
Depois percebi que a última cabeça era de Henry e olhei Daryl, indicando Carol.
- Tira ela daqui! Não deixa ela ver!
Daryl entendeu e segurou a amiga, girando ela, mas Carol já havia visto e falara um "Não" sofrido e bem baixo, como se perdesse todas as suas forças.
Olhei a cabeça de DJ e só quis chorar. Ele protegera o Jace. O ex-Salvador, que viveu às ordens do meu odioso irmão, morrera protegendo o filho do Daryl. O meu filho.
Fechei os olhos. Nunca iria esquecer.
Todo o mundo ficou num silêncio sepulcral, não havia palavras para descrever o sentimento.
Alpha deveria estar rindo da nossa cara nesse exato momento. Nos dando Siddiq e Jace, vivos, alimentando nossa esperança de salvar nossos amigos, para depois encontrar-mos eles assim, mortos da forma mais brutal que poderia existir.
- Ela... - Siddiq respirou fundo. - Ela cortou as cabeças deles ainda vivos.
Olhei ele, imaginando cada detalhe e querendo esquecer. Talvez o médico devesse ficar calado, eu já me sentia mal o suficiente sem essas imagens horrendas na minha mente.
Daryl se aproximou de mim, depois de afastar Carol e Yumiko dizer que tomava conta dela. Colocou uma mão nas costas do filho e outra na minha cintura.
- Vamos embora, Magna e os outros levam as cabeças.
Assenti e senti Jace se mexendo no meu colo. Dei as costas e saímos dali, nós e Carol, em direção ao Reino.
O sentimento de raiva e ódio só cresceu dentro de mim. Eu queria Alpha morta, agora mais do que nunca.
- Quer que eu pegue? - Perguntou Daryl.
Sorri. - Não. Aliás, Jace está me mantendo aqui, se não tivesse ele nos braços eu já estaria indo atrás da Alpha.
Daryl assentiu. - Iremos, mas não hoje.
Indicou Carol na nossa frente.
Assenti, imaginando a dor que ela deveria estar sentindo.
Assim que chegámos no Reino, todos nos olharam.
Brianna correu para Daryl, que abriu os braços e segurou ela, apertando forte.
Ela olhou Jace. - Ele está bem?
Jace ergueu a cabeça e sorriu. - Oi, Bri.
A menina sorriu, mas os seus olhos se prenderam no ferimento que sangrava.
Levei o menino para ser tratado, enquanto Daryl tratava de tudo o resto com Ezekiel e contava o que acontecera com Henry.
Eu estava sentada na frente de Jace, segurando suas mãos, enquanto o médico tratava sua cabeça.
- Como está se sentindo, Jace? - Perguntou o médico.
- Bem. - O menino deu de ombros. - Só com um pouco de tonturas.
- Isso irá passar, em todo o caso, não deve correr e nem se esforçar hoje. Não ande sozinho. Aliás, deveria mesmo passar umas horas aqui, só por precaução.
Ele respondeu um "tá bom" sumido e depois me olhou.
Sorri.
- Eu te chamei de mãe...
Tirei alguns fios de cabelo do seu rosto e assenti. - Tudo bem. Pode chamar se quiser.
Ele sorriu. - Isso seria legal.
Toquei no seu queixo, enquanto o médico terminava o curativo.
Saí da enfermaria, passando a mão pelo cabelo, olhando em redor. A feira já era, o clima de festa terminara e agora apenas havia aquele clima de morte e sofrimento.
Carol se fechara, sozinha, num quarto, Ezekiel andava por ali igual alma penada, sem saber como reagir.
Vi Siddiq de pé, diante de todos, falando sobre como tudo acontecera e decidi que aquilo não era para mim, era demais. Me afastei e foi quando percebi a presença dele, afastado da multidão, apoiado com o ombro numa parede, de braços cruzados sobre o peito, olhando.
Minha mente teve uma ideia e me aproximei dele.
- Lara... Lamento pelos seus amigos. - Indicou a enfermaria. - E o garoto?
- Jace está bem. Escuta... - Respirei fundo e depois encarei ele. - O que você faria para que eles parassem de olhar você como um assassino?
Negan franziu o cenho e depois olhou a multidão e depois para mim.
- Qualquer coisa, eu acho.
Assenti. - Está a fim de bancar o herói?
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Bite Your Kiss
FanfictionDaryl nunca achou que se adaptaria a Alexandria, aquele povo que parecia ter esquecido que, lá fora os mortos dominavam o mundo, matando todos os que eles mais amavam. Além disso, os Alexandrinos eram esquisitos, com suas roupas e vidinhas normais...