Capítulo 21

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Peguei na minha pena e comecei a escrever o meu primeiro desejo.
— O quê que escreveste?–interrogou Ayla depois de ver que tinha escrito as primeiras palavras no papel e, eu li-lhe.
— Dormir ao sabor das estrelas, gostaste da ideia?– perguntei.
Não sei bem o porquê de ter este fascínio pelo céu, pela lua, pelas estrelas mas o que é certo é que sempre o tive.
—Adorei! Também posso escrever esse?
—Claro!–respondi.
Peguei no material que encontrava-se nas pequenas mãos de Ayla e escrevi o que a mesma pediu-me.
A pena escorregou-me das mãos e acabei por sujar o vestido com tinta, Augustus encostado à árvore riu-se discretamente e eu revirei os olhos com a situação.
Correr descalça pela terra com uma pessoa especial, viajar até ao mundo humano, foram as seguintes frases que coloquei.
—Podes escrever, ver dragões?–Ayla falou numa voz angelical.
Então eu escrevi.
O guarda chegou mais perto do local onde estávamos deitadas e colocou uma cesta de fruta .
—Sirvam-se.– disse ele.
—Depois eu como, agora estou a fazer isto.–apontei para a folha.
Que um dia meu pai ame-me, encontrar a pessoa certa para mim, dançar com minha mãe pelas nuvens.Sei que o último é impossível mas, seria a melhor coisa do mundo se isso acontecesse.
—Já pensei em mais alguns, voltar a ver a minha mãe, ter um irmão para poder brincar, viver para sempre com a Isa e com o Daemon, ter um animal humano.
Tentei colocar as palavras no documento o mais rápido que pude mas, praticamente paralisei quando ouvi o nome "Daemon". Olhei de relance para a criança.
— Eu posso explicar essa parte, bem, como sabes foram vocês os dois que ajudaram-me quando eu mais precisei, que acolheram-me, por isso este é um dos meus maiores desejos, além disso adorava voltar a ver o príncipe.–dirigiu-se a menina a mim.
— Sabes não importo-me nada que estejas com ele mas, Douglas não vai gostar.–relatei.
— E que importância tem Douglas?– demandou Ayla.
— Logo veremos. Mas então, já acabamos a nossa lista?
— Sim!–gritou a pequena.
Peguei na mão de Ayla e levantamo-nos da relva, fiz sinal para que Augustus permanece-se no lugar onde estava.
—Então, vamos ver os dragões?–questionei a doce jovem.
— Vamos!–Ayla correu já à minha frente.
Felizmente, consegui chegar perto dela e voltei a agarrar-lhe a mão.
Andamos até onde já não via-se mais arbustos, onde as árvores eram maiores e praticamente não dava para ver o céu.
Ao olharmos para baixo, estavam inúmeras margaridas que expeliam um odor magnífico para o ar.
—Agora é só esperar, eles só irão ter conosco depois de sentirem-se completamente seguros  e não te assustes quando eles desaparecerem.– afirmei.
— Combinado!
Deitei-me e respirei todos aqueles aromas, senti como estivesse a viajar para outros mundos, parar para respirar é uma das melhores sensações que já senti.Ayla colocou-se deitada em meu peito.
_Já pensaste em fugir daqui, Isa, deste reino, deste pedaço de terra?– a menina perguntou-me.
—Todos os dias, todos os dias ...
Eram silenciosas mas se tivéssemos atentas conseguíamos ouvir as passadas de uma criatura bastante grande.
Elas eram calmos, sem nenhuma preocupação dentro do ser.
Conseguimos avista-lo quando ele começou a caminhar para perto de nós, a sua cor era de um transparente um pouco azulado com umas asas belíssimas encostadas ao seu dorso, tinha olhos claros e mais brilhantes que todo o corpo.
Andou lentamente e sentou-se de frente para nós, começou a cheirar nossos cabelos e de seguida deu uma espécie de carícia na cabeça da menina.
Ele era tão belo que não conseguia tirar meus olhos dele, já vi dragões em livros mas nunca consegui que algum chegasse assim tão perto, li tudo sobre eles...
—Vou-lhe chamar nuvem.–falou Ayla.
—É um nome lindo.
A criança tocava na enorme cabeça do dragão e sorria radiante .
—Obrigada...– sussurrou a menina.
— Obrigada de quê?
—Por tudo, por ajudares-me em tudo, dês daquele dia, tu prometeste e realmente cumpriste, és como uma mãe para mim Isa...
Fiquei sem palavras, as lágrimas escorriam-me pelos olhos  mas, não eram lágrimas de tristeza e sim de alegria, de orgulho por saber que iria cuidar de uma criança como ela .
Nunca imaginei em ser mãe, nunca tive uma para seguir as passadas e, por isso nunca senti-me com capacidades disso.        Ela fez-me perceber que por ela eu posso ser qualquer coisa, a vontade de protege-la de qualquer obstáculos que a possa magoar é uma das minhas maiores missões .
Sinto em mim que ela já faz parte do meu ser, da minha essência e com a mais sincera das palavras , só espero ser uma boa mãe para a magnífica filha que ela é.
—E tu como uma filha Ayla...
Abracei-a com toda a força que tinha, como ela pode-se fugir por meus dedos,tenho sorte por ter uma pessoa como ela perto de mim...
Quase não apercebemo-nos mas, felizmente conseguimos ver a tempo o que estava a acontecer.
O dragão muitíssimo de vagar começou a tornar-se numa poeira extremamente luminosa que subia para as nuvens até se tornar uma.
Olhamos para o céu e ali estava ela, a sorrir mesmo ao cima de nossas cabeças.
—Já podes riscar isto da tua lista, pequena.– sorri .
Ayla estava radiante porém, apresentava certas características que demonstravam a sua sonolência.
—Anda, vamos ter com Augustus.–comuniquei.
Caminhamos de mãos dadas pelo meio da plantação.
Augustus estava no mesmo local onde eu disse para ele ficar, cheguei mais perto dele e encostei no seu ombro.
Ele rapidamente virou-se para ver o que havia-lhe tocado e apontei para Ayla.
Apercebeu-se da situação e muito calmamente pegou na criança ao colo e colocou-a em cima de Penélope.
O rapaz tirou o casaco que tinha vestido e colocou nas costas da menina.
Decidi chegar mais perto para ver Ayla dormir tão melancolicamente.
Beijei sua mão.
—Bons sonhos , filha...

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