Capítulo 31

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Confesso que não foi a melhor noite da minha vida, mas senti-me mais segura depois de Daemon fazer questão de colocar Augustus nas masmorras, eu pedi-lhe para não fazer nada com o rapaz, se alguém fizer alguma coisa com ele, essa pessoa serei eu.
  O príncipe, ou  melhor dizendo o futuro rei Daemon, ficou comigo em minha cama enquanto eu não dormi, depois estendeu um lençol no pequeno sofá que tinha no  meu quarto e dormiu lá, reparei nisso quando acordei e deparei-me com aquela cena e Ayla enrolada em meus braços.
  Durante estes dias não vi uma vez Douglas, nem sei se ele está aqui no castelo, reparei que as portas abriram ao meio da noite e vinham do quarto de Alana, só espero que esse tal som não tenha sido provocado por meu pai, não sei realmente o porquê de não apreciar o relacionamento de ambos, mas que não gosto, não gosto.
Denise ficou num dos muitos outros quartos do castelo tal como Yasmim, nem quero ver a cara da minha irmã ao saber que Daemon não está ao lado dela.
 Durante estas horas de descanso, consegui refletir em muitas coisas, porém principalmente em como iria acabar com a guerra.
  A minha mãe voltou a aparecer para mim, mas desta vez em forma de sonho, ela disse que seria eu que acabaria com a guerra através dos meus poderes.
Então, sei perfeitamente onde tenho de ir, talvez Edson não ame-me o suficiente para ceder-me os poderes, contudo, tenho de vê-lo para verificar.
  Levantei-me rapidamente, tentei não fazer muito barulho para não acordar as pessoas que estavam junto de mim.
Perguntei aos guardas que estavam perto da porta do meu quarto em que local é que minha irmã estava a dormir, eles facilmente contaram-me.
  O sítio  não era muito longe de onde eu estava por isso, foi fácil de chegar lá.
—Posso entrar,Yasmim?–perguntei-lhe enquanto batia na porta.
—Entra...–disse com a voz um pouco sonolenta.
Ela estava ainda deitada na cama, fechei a porta antes de sentar-me onde ela estava.
— O que queres Isabella?!
— Preciso da tua ajuda, quero ver Edson, quero acabar com a guerra e tirar Douglas do trono.–respirei fundo depois de dizer aquilo tudo.
— E queres que leve-te ao quarto reino, certo?–interrogou-me mesmo já sabendo a resposta.
—Sim, por favor, faz isso por mim...– abracei-a e ela riu-se com aquele ato.
— Dessa forma nem parece que odeias-me.–ela disse.
—Eu não odeio-te, apesar de tudo o que já fizeste, és minha irmã, às vezes só não gosto da maneira como ages.
—Eu também não odeio-te, irmãzinha– ela faz uma carícia na minha cabeça– mas confesso que já tive e às vezes tenho, muita inveja de ti, sei que nunca vou ter o Daemon, ele ama-te, sempre amou-te, dês da primeira vez que viu-te na tua festa de cinco anos, sempre falou de ti, só que como implicavas com ele, o rapaz nunca falou nada.–eu revirei os olhos sem acreditar em nada daquilo.–E é por isso que ontem eu e ele tivemos a cuidar de alguns papéis para acabar com o nosso casamento, e em relação ao trono do primeiro reino, não te preocupes, eu nunca o quis realmente, só pensei em tê-lo para fazer-te ciúmes.– as lágrimas escorreram dos meus olhos e eu abracei a minha irmã ainda com mais força, ela fez o mesmo.
—Vamonos perdoar de uma vez por todas, está bem?–sussurei.
—Esta bem, mas agora vamos deixar-mo-nos disto e ir ao que interessa, vamos para o portal.–fiz que sim com a cabeça quando Yasmim falou aquilo.
Ela levantou-se e eu fiz o mesmo.
Fui para meu quarto, Daemon ainda estava a dormir assim como Ayla.
—Daemon, Daemon acorda...– chamei-o num tom baixo para que a criança não ouvisse, batia-lhe sem nenhuma força no ombro descoberto até ele começar a abrir muito vagarosamente os olhos.
—O que queres baixinha!–ele ainda falava com uma voz de sono.
— Vou conhecer o meu verdadeiro pai, achava que querias vir comigo e com Yasmim,mas presumo que enganei-me.–respondi-lhe com um ar irónico e virei-lhe as costas.
Ele agarrou-me a mão, fazendo com que volta-se a olhar para ele.
— É claro que quero ir, além disso, vou levar Augustus, não conheço o teu progenitor mas tenho a certeza que ele vai odiar saber o que o seu espião querido fez à filha, já que não posso fazer nada naquele verme, talvez ele possa.– não conseguia ouvir mais nem sequer aquele nome, sentir-me estranha era pouco para o que realmente estava a acontecer comigo, não conseguia olhar diretamente para a cara das pessoas sem para a minha filha e Daemon, sinceramente não sei bem o porquê.
  Fiz com que o príncipe se levantasse, saímos porta fora.
— Ele pode ir conosco, mas não ao meu lado, não vai ser o meu pai que irá fazer alguma coisa com ele, vou ser eu, entendido?!– nunca senti tanta sede de vingança como naquele momento.
—Sim senhora, irei fazer tudo o que a menina quiser.
—Acho bem!– ressaltei e ele riu-se quando desci as escadas.
  O barulho que a guerra tinha com certeza era o pior que eu já ouvi em toda a minha vida.
  Fui para o jardim com pelo menos dez guardas atrás, é claro que estava com medo, mas sei que Douglas não iria deixar que fizessem-me nada, mesmo assim, tinha pavor que algo acontecesse aos que amava.
Daemon trazia o meu maior pesadelo pelo colarinho.
Seguimos até uma árvore que guardava o portal, Yasmim segurou a minha mão e fiz o mesmo com a de Daemon.
Ela entrou naquela mancha extremamente brilhante e puxou-nos.
— Tentem não pensar em nada está bem?–ela falou, enquanto eu e o futuro rei fizemos que sim com a cabeça.
  Tentei não olhar para Augustus, porém os meus olhos fixaram-se nele e as lágrimas escorriam por minha cara, Daemon ao ver o que estava a acontecer agarrou ainda com mais força a minha mão.
  A viagem não foi turbulenta e não demorou nada para chegarmos no lugar que presumo ser o quarto reino.
 Caímos no chão coberto  de folhas de diversas cores, castanhas, vermelhas, amarelas e algumas até laranjas.O céu estava nublado e vinha uma brisa do local onde tinha um enorme castelo com torres em forma de cilindro e uma muralha com a mesma cor que o castelo, um cinzento bem claro.
— Bem vindos ao quarto reino.–Yasmim abriu os braços.
Realmente, aquela vista era a melhor que vi em toda a minha vida, cheirava a relva molhada e quando chegamos perto do castelo o som que mais ouvia-se era do povo a trabalhar com imensa dedicação.
Era estranho ver aquilo, dava para ver perfeitamente que as pessoas que vivem nos outros reinos, especialmente no terceiro, não são assim tão felizes.
—O que fazem aqui?!–um dos guardas que estava no portão do castelo começou a falar até que o outro da outra ponta começou a sussurrar, não consegui ouvir nada.
Num instante as portas foram abertas depois daquela ação.
Yasmim virou-se para trás.
— Onde podemos encontrar o rei Edson?
—O senhor está no trono, é só seguir pela porta de entrada e ir para o salão.
—Muito bem, vamos ter com ele e não queremos ser perturbados.
  Depois daquela curta conversa fomos até onde disseram que meu pai estava.
 Quando os nossos pés já estavam firmes no salão, começamos a apreciar aquele local, tinha um tapete enorme e vermelho, que ia até ao trono, o chão aparentava ser de mármore, as paredes eram recheadas de quadros de pessoas que desconheço e as escadas para os andares de cima eram gigantescas.
  Tenho de dizer, estava aterrorizada com toda aquela situação, mas a coisa que mais aprendi depois de tudo o que passei é que, devemos encarar o que nos dá medo e lutar contra isso, assim até ao fim.
  Pé ante pé comecei a caminhar  até onde o homem de cabelo castanho, com bastantes brancas e olhos azuis estava sentado, aparentava ser bastante alto por isso, acho que nesse aspeto devo ser mais  parecida com a minha mãe.
  Ele levantou-se ao ver a nossa chegada, fixou seus olhos nos meus.
— Filha!–o homem começou a correr para onde estávamos.
  Sem eu esperar, ele abraçou-me e apesar de no início parecer um pouco desconfortável, comecei a sentir uma energia nunca antes sentida, era extremamente quente, um autêntico fogo.
—Pai...–sussurei.
— Finalmente estás aqui minha querida, esperei tanto tempo por ti.
— Como conheces-me, além disso, porquê que nunca foste-me ver?–ele fez-me uma festa na cara quando falei aquilo.
— Sempre estive contigo, apenas longe o suficiente, todos sempre acharam que o teu pai era Harry e não queria que pensassem mal de Hanna, além disso, a tua mãe sempre andou de um lado para o outro nos três reinos, tudo lá fazia-me lembrar dela por isso, nunca tive coragem de visitar-te, também  tinha medo que não me quisesses.Eu sei que fui um pai horrível, mas estou disposto a mudar.– senti que estava a ser sincero.
  Continuo a considerar Harry como antes, não mudou nada, porém senti uma imensa conexão com Edson.
  Ele olhou para o lado onde estava Yasmim e sorriu, depois para o outro onde estava Augustus e Daemon.
— Filho o que te aconteceu?–perguntou ao ver o estado que o guarda estava.
— Acho que não o vai querer chamar de filho quando descobrir o que este ser nojento fez a Isa.– Daemon interrompeu.
Sem mais nem menos, o rapaz larga o que estava agarrado a ele e larga-o no chão, vai ter com o meu pai.
A conversa não demorou muito tempo e vejo o rei com uma estrema ira a ir em direção a Augustus, notei em seus olhos o que ia fazer, sem mais nem menos coloquei-me à sua frente com a minha mão em seu peito para que parasse.
  Fiquei arrepiada quando vi fumo a sair daquele local, retirei meus dedos dali, naquele sítio, aquela vestimenta estava completamente queimada, todos olharam para mim.
— Eu faço isso.–disse.
Virei-me para onde Augustus estava, o meu braço estava em direção ao rapaz, sinto uma energia tão poderosa, senti-me tão preenchida, um fogo começa a sair das minhas mãos.
  Eu queria acabar com a existência dele, tentei, tentei muito mas não consegui fazer aquilo.
Baixei a mão, e ajoelhei-me para conseguir encarar a cara dele.
— Mereces pagar pelos teus erros, mas não irei-te matar, vais ficar preso para sempre.
 Os guardas do castelo ao ouvirem aquilo, pegaram-no pelos ombros e levaram-no provavelmente para as masmorras.
  Voltei a levantar-me, com a cabeça mais erguida que nunca.
Senti que tinha poder, que controlava o meu poder, como se ele estivesse sempre comigo.
—Depois do que vi, tenho a certeza...– Edson começou, agarrou no meu ombro e eu olhei para ele
— A certeza do quê?– questionei-o.
— Que és a rainha que este reino precisa, o trono é teu querida.– ele sorriu.
—Pai...– foi estranho dizer aquela palavra em voz alta–neste momento só preciso de duas coisas.
— E quais são?
— Que estejas comigo e que ajudes-me a acabar com a guerra, pode ser ?
— Claro que pode!Vamos lá, agora!– num pestanejar de olhos já estávamos dentro do portal e a cair na neve do terceiro reino.
  Vejo que Edson ficou de boca aberta quando viu toda aquela explosão de ódio.
 —Tenho um plano, só fui obrigado a usar isto muito antes de nascerem, numa guerra entre o primeiro e terceiro reino, bem parecida com está, algumas pessoas descobriram o quarto reino e as coisas tornaram-se ainda piores.
— Que plano é esse?
— Nunca vi uma pessoa a controlar os poderes tão bem e em tão pouco tempo como tu por isso, quero que imagines duas enormes aves feitas fogo, pensa que elas têm algo que quando o vento passa em suas asas, faz com que as pessoas vejam perfeitamente o que está a acontecer, assim paravam com a guerra.
— Não sei se sou capaz de fazer tal coisa.– baixei a cabeça.
— É claro que és baixinha, nunca duvides disso!– Daemon irritou-se quando disse aquilo.
— Sendo assim, podemos começar?– meu pai interrompeu-nos.
— Sim!
— Lembra-te do que disse-te.– falou por fim.
  E foi isso que fiz, comecei por concentrar-me, imaginei duas aves imensas com uma pelagem em tons de cores quentes que esvoaçavam pelos três reinos, elas voavam tão rápido que mal  conseguia-se vê-las, quando o vento batia naquelas asas vistosas, uma espécie de pó brilhante era atirado pelo ar e caía nos soldados que, instantaneamente paravam de lutar.
  Decidi abrir os olhos, primeiramente olhei para meu pai e para a sua criação maravilhosa, olhei para a minha frente e lá estavam as minhas. Passado alguns segundos,  todos aqueles seres que estavam em guerra pararam.
 Senti-me tão grata por aquilo, a guerra acabou, acabou finalmente!
  Estava prestes a abraçar os três, Yasmim, Daemon e Edson, de uma só vez quando, reparei nas portas do castelo do terceiro reino a abrirem-se.
  Douglas corria para fora do castelo num cavalo negro, ele levava uma capa vermelha e seu cabelo estava completamente descabelado, não consegui entender para que local foi, apenas que fugiu.
  Mas depois disto tudo, paramos e pensamos.
Por vezes o que nos parece não ter fim, que não existe um pingo de luz, pode ser iluminado se nós lutarmos e  criarmos em nós próprios a luz mais bela de todas.

 

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