Capítulo 18

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—Sentem-se todos, preciso falar com vocês.–Harry aponta para a mesa cheia de diversos alimentos.
Peguei numa cadeira castanha e sentei-me na mesma, ao lado de Yasmim.
—Tive informações que o vosso avô não encontra-se no seu melhor e gostaria de falar com Daemon em relação a esse assunto.– o pai de minha mulher começou por dizer.
— É provável que haja alguma desavença se algo acontecer a Ablo, temos de estar preparados para o pior, receio que Daemon já que pertence a outro reino possa tentar fazer algo contra nós.
—E porquê que faria isso?Eu estou com sua filha, nunca iria fazer nada que a possa magoar.–relatei.
— Talvez, mas devemos ser prevenidos.E em relação ao seu irmão mais novo Douglas, acha que ele irá fazer alguma coisa para conquistar o segundo reino?
— Não  posso negar essa hipótese, ele só  consegue pensar em duas coisas, em poder e em Isabella.
—Muito bem então, vamos saborear a nossa refeições e depois pensamos melhor no assunto.-disse Harry por fim.
Quando acabou o jantar, dirigi-me para o jardim, a noite estava coberta de estrelas, e o cheiro da brisa  quente fez-me pensar que nunca senti o prazer do que é respirar.
Fui para o meio da vegetação, deitei-me e voltei a respirar, como isto faziam-me falta...
Olhei para todas aquelas constelação, para todo o caminho que elas percorriam.
Nunca tive muito tempo para estas coisas, na maior parte da minha infância estava a fazer o que meu pai mandava-me e agora, agora fico com meu avô enquanto ele  ensina-me a ser uma coisa que eu nunca quis.
Às vezes pergunto-me o porquê de não ser meu irmão o futuro rei , ele sempre quis mandar em tudo, mandar em todos, além disso, ele sempre foi o escolhido por meu pai.
Ele não  importa-se com quem  têm de calcar para chegar ao que quer.Ele é que devia ser o rei, não eu.
Os meus pensamentos só costumavam levar-me a mãos caminhos, então tentei não pensar em nada e apenas olhar para as estrelas.
Lembrei-me dela...
Porquê dela?
Vi naquelas que brilhavam ao escuro todas as suas feições, aquela cara quando está de mau humor que faz-me rir como um louco.
Lembrei-me do cheiro que ela deixa por cada lugar que passa, não sei porquê que lembrei-me dela...
Nunca percebi porquê que ela não  gostava de mim, talvez seja por eu implicar com ela ou chamar-lhe pela alcunha  mais bela de sempre, simplesmente acho que não dei muita importância a isso.
De repente, uma mulher aproximasse de mim e eu sento-me rapidamente.
—Está frio cá fora, vem, vamos lá para dentro.–ela falou.
—Já vou Isa...–respondi.
—Isa?Daemon estás bem? Aconteceu alguma coisa?–noto que era a  voz de Yasmim, ela estava exaltada.
— Desculpa Yas, eu já irei...
Quando a princesa já estava a dormir eu fui para nossos aposentos .
Abri a porta muito calmamente e tentei não fazer barulho, deitei-me ao lado dela a olhar para o teto .

Abri a porta muito calmamente e tentei não fazer barulho, deitei-me ao lado dela a olhar para o teto

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—Para pai, por favor, para !–gritei, enquanto meu pai chicoteava-me no estábulo.
—Tu mereces tudo isto, não és nada para mim, não vales nada, acabaste com a minha vida ao nasceres.– conseguia ver perfeitamente o ódio nos olhos de Roger.
— O teu irmão sempre foi melhor que tu, não serves para nada!– o meu progenitor berrava.
—Eu imploro, para por favor.– as lágrimas não escorregavam por minha face mas corroíam-me por dentro.
Quanto eu mais gritava mais ele batia-me, em meu peito e costas, o sangue escorria sem ter fim.
—Daemon! Acorda, é só um pesadelo, acorda.–Yasmim acorda-me.
O meu corpo estava molhado de suor e parecia que meu coração a qualquer momento iria sair pela boca.
—Já passou, já passou, eu estou aqui contigo.– nesse instante, a minha mulher coloca sua mão em meu peito.
Um ódio muitas vezes sentido sucumbiu-me.
—Larga-me! Nunca mais voltas a tocar-me ,ouviste?! Nunca mais!–retirei com alguma força sua mão de meu peito e sai a correr do quarto.
  Não conseguia que ninguém tocasse no meu corpo, todo aquele contacto fazia-me lembrar do que vivênciei.
Andei pelo castelo, onde apenas algumas velas estavam acesas e os guardas estavam em praticamente todas as portas .
Desci as escadas rapidamente, sem nem sequer preocupar-me com o barulho que estava a fazer para quem dormia.
Talvez Yasmim tenha ficado com medo de mim, mas sinceramente eu já não importo-me...
Muitas pessoas tentam usar as máscaras para agradar os outro, para que elas apenas vejam a parte boa, a parte que todos querem ver.
Nunca pensei nisso, as pessoas já exigem demasiado de mim para eu pensar em tentar ser uma pessoa realmente boa.
  Eu nem sempre fui assim, nem sempre fui frio, nem sempre fui cruel, nem sempre fui quem eles falam que eu sou.
Lembro-me de ser feliz, naquela altura não apercebi-me que realmente era e a sorte que tinha por não sentir-me vazio .
Não lembro-me desse sentimento à muito tempo ...
Mas a falar da minha máscara, a minha máscara é pintada de negro, eu decidi que ela deveria ser virada ao contrário, não sou como os outros e neste momento, nem como eu, eu sou.
Mostro apenas essa parte que todos falam, a parte má. Assim ninguém fica à espera de algo agradável de mim.
Vejo-me ao espelho e não reconheço-me, sim eu mudei, mas também fui mudado, tive que criar as minhas próprias barreiras para poder suportar a dor.
—Onde o príncipe vai a estas horas?–falou um guarda ao ver-me sair pela porta que ia dar a onde os cavalos estavam.
—Não lhe interessa.–respondi.
Felizmente, o guarda não perguntou mais nada e eu continuei a andar até ao estábulo.
Peguei um cavalo que não consegui ver a cor por causa da escuridão, sai do local onde estávamos e cavalguei até ao portal mais próximo para chegar ao segundo reino.
Ele estava escondido num tronco de árvore, eu e o cavalo atravessamos o mesmo.
Quando cheguei ao destino, paramos exatamente nos altos portões que davam para dentro do castelo.
Em cada ponta da porta estavam dois altos guardas que logo reconheceram-me, pegaram no cavalo e deixaram-me entrar.
—Onde meu avô está?–virei-me para trás onde eles encontrava-se.
—O rei estava na sala do trono, ainda lá deve permanecer.
Andei pelos corredores escuros, rapidamente cheguei ao local indicado.
Conhecia aquele castelo como a palma da minha mão, já que passei uma grande parte da minha vida lá.
Bati na porta que dava para a tal sala e como ninguém respondeu decidi entrar.
—Avô, desculpe estar a incomodar a esta hora, mas preciso falar consigo, hoje...–olhei para o trono e Ablo estava lá sentado a dormir, não era nada comum vindo dele.
—Avô ?–sussurrei.
Estava próximo o suficiente para  conseguir sentir a respiração dele, mas não estava a sentir-la.
Coloquei a minha mão em seu peito e não conseguia ouvir seu coração pulsar.
—Avô, avô por favor acorda!
— Não faças isso, não deixes-me sozinho!–gritei.
— Guardas, guardas!
Rapidamente todos os guardas saíram de seus postos e foram socorrer o rei.
Eles começaram a olhar para mim.
—Sinto muito pela sua perda príncipe Daemon, preciso que saia do castelo para podermos tratar de seu avô.
Não podia acreditar no que meus olhos fazia-me ver, não conseguia acreditar.
Ablo era a única pessoa que fazia um esforço para compreender-me, agora estou totalmente sozinho...

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