Capítulo 24

23 19 1
                                    

Senti-me desconfortável no meio de tantos olhares reprovadores.
Era tão estranho estar ali tendo noção  que todos sabiam que não tinha poderes mesmo nascendo de uma família real.
  Do meu lado direito, estava Daemon e do outro Douglas, reparei em seu olho e lembrei-me do dia em que tive de o cegar para defender-me, ele estava com  uma cara que não conseguia decifrar.
  Conseguia aperceber-me que as pessoas sussurravam entre si sobre algo que não consegui ouvir, mas presumo que o assunto principal fosse eu.
  Augustus permanecia no local onde já estava, sem nenhuma expressão. Não o conhecia à muito tempo, porém tinha a impressão de saber o que ele estava a pensar.
  Por incrível que pareça, senti um conforto imenso apenas por saber que Daemon estava ao meu lado, espero que esta coisa acabe rápido, não me consigo imaginar gostar nem um pouco dele.
  Yasmim ainda ria-se e agarrava o braço do marido como ele fosse fugir.
  O conselheiro de meu avô, começou a abrir um pequeno pergaminho levantando a mão para que todos ficassem atentos.
—Estamos aqui para homenagear o nosso rei, ele que sempre, em tudo o que podia, ajudava o seu povo e enfrentou todos os inimigos que tentavam magoar os seus cidadãos.
—Um homem bravo e guerreiro que sempre teve o amor dos três reinos.–o senhor de estrutura média suspirou ao ver quarto fortes guardas que seguravam um esbelto caixão com um enorme pano em tons de verde claro e com uma borboleta  no meio, o símbolo do segundo reino.
 Os homens passaram pelas portas do castelo enquanto todos atiravam pétalas e choravam de uma maneira desesperada até ele desaparecer dos tantos olhares.
  Depois de alguns segundos, com as pessoas já mais calmas, o senhor volta a prenunciar-se.
—Irei falar agora sobre o que está aqui escrito.–apontou para o pergaminho em suas mãos.
—"Os meus dias foram incríveis, aqui, nestas terras invisíveis, a cuidar de um povo explendido". "Mas como tudo, esses dias acabaram e eu vim despedir-me, renunciar o meu título."– o homem começou a falar.
—"Para a querida Yasmim, ela ficará com os meus cavalos, os gêmeos ficaram com a mansão na floresta das almas para quando casarem-se –reparei que Dorian revirou os olhos—  à doce Isa, a ela dou-lhe todos os meus livros pois sei que ela adora, também gostava de a presentear com o labirinto do segundo reino apesar dele pertencer ao castelo.
—"Para o Daemon, as minhas melhores armas e por fim, ao ser que mais confio, o meu neto Douglas, darei um dos meus bens mais preciosos, o castelo e o meu povo".–acabou por falar.
  Senti Daemon a tremer, os olhos estavam fixos naquele papel agora lido, quase como o quisesse desfeito.
Nunca o tinha visto naquele estado, o olhar dele estava recheado de algum imenso sentimento que não consegui decifrar.
—Estas bem?–agarrei em sua mão debaixo da multidão.
Ele não ouviu-me...
Rapidamente, ele passa por mim dando-me um pequeno empurram e atirando-se tão de força contra o meu marido que os dois caem no chão, as pessoas ao redor afastam-se e os guardas saem dos seus postos para acabar com a situação.
—Foste tu não foste, seu canalha!–consigo ver o poder de Daemon a sair do seu corpo no mesmo instante que é colocado na cara de Douglas que fica a sangrar.
O irmão mais novo tinha a mesma magia, mas com certeza muito menos poderosa.
Ouvi os ossos dos braços de Douglas a partir quando tentou defender-se, fechei os olhos perante aquela situação.
 Os guardas meteram-se no meio mas foram todos levados ao ar quando Daemon esbofeteou-os de uma só vez, voltando para seu irmão já um pouco inconsciente.
—Não é este o documento, não é! Eu escrevi com meu avô antes dele morrer, e não era isto que estava lá escrito!–gritou, tenho a certeza que os três reinos conseguiram ouvir.
 Apesar de Douglas já não se mexer, o seu irmão mais velho ainda continuava, então, decidi interferir.
 Sinceramente, não ia fazer isso por Douglas, o nosso casamento acabou mesmo antes de ter começado e não consigo sentir nada por uma pessoa como aquela, violenta, compulsiva, obsessiva...
Fazia isto por Daemon, por mais que não goste dele, sei que é o oposto do irmão e não consigo imaginar que as pessoas o vejam como um monstro, que por sinal não é.
 Quando estava já perto deles, lembrei-me de Augustus, que provavelmente estava estendido no chão, olhei para o lado direito e lá estava ele, junto de todos os outros guardas, na forma que eu tinha a certeza que ia ficar.
  Tinha de escolher, mesmo não querendo, eu tinha...
Eu realmente amava Augustus, nunca pensei dizer isto, mas amava. Sei que ele irá ficar bem.
—Seu mentiroso!–Daemon berrou para Douglas.
 Yasmim, Dorian e Denise chegaram primeiro ao ocorrido, porém não  aproximaram-se com medo de Daemon.
 Não aguentava-o mais ver naquele estado então, aproximei-me dele muito lentamente e coloquei a minha mão em seu ombro.
—Daemon, Daemon olha para mim.– e ele olhou.
—Não és esta pessoa que todos acham que és...– baixei-me e  ajoelhei para o conseguir ver melhor.
Aos poucos ele foi largando o rosto de Douglas.
—Eu acredito em ti, sei que não és assim.– as minhas mãos foram parar em seu rosto ensanguentado.
—E sei que não és um monstro como finges ser...
  Repentinamente ele agarrou-me com alguma força, abraçou-me e eu retribui.
  Ele chorava, parecia que estava-se a esconder no meu corpo o que fez-me sentir tão bem ao saber que ele encontrava conforto em mim.
— Vem, vamos sair daqui.–levantei-me e ele fez o mesmo.
  Reparei que a multidão olhava para nós quando demos as mãos, sem falar com ninguém, saímos daquele local.

Herdeiros de um só Trono Onde histórias criam vida. Descubra agora