Capitulo 30

26 16 2
                                    

Estávamos todos dentro de um só castelo, Tarfildes e Morgansteres, confesso que não se vê isso há muito tempo.
  Os reinos nunca foram rivais, até queriam que seus herdeiros casassem para que a paz prevalecesse, mas já passaram mais de dez anos.
A guerra não veio ter conosco porque ninguém se casou, sim por outros motivos desnecessários. 
  Os que não estavam presentes no acontecimento como Alana, descobriram facilmente o sucedido.
  Não consegui reparar em nenhum pingo de tristeza vindo dela, reparei que trocava uns olhares com meu pai, que logo fizeram-me enjoar, porém, tirando isso, mais nada...
Continuava de rastos em relação aos que nos deixaram mas principalmente pela minha avó.
  Durante os primeiros cinco anos da minha vida foi ela quem esteve comigo em todas as noites escuras, enquanto o meu pai bebia ou estava com alguma mulher.
  Só subirei ao trono quando for coroada rainha, enquanto isso não acontece, Harry meu pai vai permanecer no comando.
  Não consigo imaginar como Daemon está a sentir-se, ele nunca quis ser rei, mas agora, provavelmente vai ser de dois reinos.
  Este não disse nada sobre o que aconteceu, mas eu sei o quão mal ele está a sentir-se.
Ao contrário dele, eu chorava ajoelhada, perto da porta principal.
Todos olhavam para mim sem saber o que fazer, Yasmim estava um pouco triste, Denise fingia que lagrimeja-va com a morte de Roger seu pai e com Dorian seu irmão e noivo, Harry abria e fechava a boca mas não saia nenhuma palavra e Alana, por sua vez, apenas estava encostada nas escadas de braços cruzados, nem parece que acabou de perder um filho.
  Em relação a isso, Ayla estava em seus aposentos a desenhar, depois de acalmar-me, fui ver como é que a pequena estava e apesar de muito nervosa com tudo aquilo, ela pareceu-me bem.
Gostava de ser tão forte quanto ela...
 Por mais que tentasse segurar as minhas lágrimas, as mesmas saiam espontaneamente, chegaram a minha boca com um sabor um pouco salgado.
Não queria que os outros vissem ainda mais a minha fragilidade, nunca gostei desse meu lado tão fraco.
 Andei a correr pelo salão até sair pela porta e ir para o corredor que parava na entrada da biblioteca.
Dês que vim para aqui, fui o sítio onde fiquei maioritariamente das vezes.
  Os livros acolheram-me de uma maneira que não consigo explicar, tiravam-me da realidade e apenas com aquelas páginas levavam-me para mundos desconhecidos, eles sempre foram o remédio para toda a minha solidão.
  Peguei num daqueles meus companheiros, este estava pousado numa das enormes estantes na parte de baixo que não era preciso utilizar uma escada para chegar lá.
Aquela capa era dura e demasiado empoeirada, o que fez-me espirrar.
 Logo depois, dirigi-me para uma das tantas mesas redondas que tinha naquele local de pouca iluminação, com janelas coloridas, e sentei-me em cima dela.
  Era assim que escondia todos os meus demônios, colocava-os no meio das páginas, fingia que nenhum deles um dia havia existido.
  Aquele livro era de um romance humano tão belo que mesmo nas primeiras páginas fez-me chorar.
  O meu coração e respiração já tinham acalmado, finalmente voltei a sentir-me normal, isso aconteceu antes de ouvir o som da porta a abrir.
Não sei o motivo mas fiquei demasiado ansiosa.
  Os passos daquele ser eram fortes, suas passadas eram largas o que fez-me ver rapidamente sua face.
Daemon já estava à minha frente quando olhou diretamente para meus olhos.
— O que fazes aqui sozinha, princesa?– perguntou.
— E tu o que fazes...–interrompi-o.
—Perguntei primeiro.– ele sorriu.
— Apeteceu-me ler...
— E é sobre o quê?– o meu corpo arrepiou-se quando o futuro rei colocou-se entre minhas pernas.
—É um romance, tu não gostas destas coisas.– revirei os olhos.
— E porque não? Não sei se sabes mas, adoro ler.–confesso que fiquei admirada com aquela afirmação.
  Apesar dele esconder toda aquela tristeza naquele majestoso sorriso, sei que aquilo não passa de uma barreira para se proteger, eu faço o mesmo.
— O que aconteceu entre ti e Dorian, pareceu-me que algo passou-se pela culpa que os teus olhos guardavam quando olhaste  para ele.– baixei a cabeça ao falar do seu falecido irmão.
—Tivemos uma discussão, ele trouxe um humano para o castelo que é o seu namorado, o meu primeiro impacto foi matar os dois, mas infelizmente só agora percebi que apenas devia ter respeitado e aceitado a decisão de ambos, não cheguei a tempo de desculpar-me, Isa .– ele começou a chorar e eu instantaneamente abraçei-o.
— Sei que em qualquer lugar que ele esteja, Dorian perdoou-te.
— Espero que sim...– ele disse, perto do meu ouvido.
  Mesmo depois daquelas parvoíces que Daemon falou sobre Augustus, o que deixou-me muitíssimo revoltada, estar abraçada com ele era reconfortante.
  Ele levantou a cabeça e começou a olhar para o local onde eu estava sentada.
— Pela primeira vez consegues ser mais alta que eu, não é baixinha?– ele agarrou no meu queixo, riu-se com a situação e por impulso, cheguei-me mais perto da sua face.
  Os meus olhos instantaneamente fixaram-se em sua boca um pouco carnosa.
— Para onde estás a olhar?– disse-me com aquela voz ofegante.
—E para onde estás tu a olhar?– reparei que ele fazia o mesmo enquando umedecia a boca.
  Uma de suas mãos foi posicionada no sítio onde estava sentada para que ele se pudesse equilibrar,  enquanto a outra  rapidamente foi colocada em minha cintura com alguma força, puxando-me para perto daquele corpo.
  Minhas pernas enrrolaram-se perto de sua barriga e meus membros superiores ficaram no seu pescoço.
  Senti a respiração do príncipe perto do meu pescoço, mal seus lábios começaram a beijar o mesmo, a minha cabeça deslizou para trás quando apercebi-me que sua língua deslizava lentamente.
—Daemon...– sussurrei seu nome enquanto assegurava-me naquelas costas robustas.
  Depois que a minha insanidade voltou para meu corpo, voltei a olhar para aqueles olhos azuis, agora mais brilhante que nunca.
Ele tinha um sorriso estampado no rosto ao ver a minha reação depois daquele gesto.
Confesso que tive medo que Yasmim ou Douglas nos encontrassem mas sinceramente, naquele momento não pensei em mais nada sem ser em "nós".
Agarrei a gola da sua camisa branca para que este se chegasse até meus lábios.
Pensei que no início seria calmo, porém foi completamente o oposto.
  A mão que estava apoiada na mesa foi posta na minha nuca que era impulsionada um pouco para a frente enquanto a outra mão mantinha-se fixa em minha cintura.
As nossas bocas chocaram, ele mordeu não muito delicadamente o meu lábio inferior, o que fez-me estremecer.
O meu corpo começou a queimar e só pedia mais daquela emoção.
  As minhas mãos voltaram para aquela camisa mas agora, começaram a abrir-la com alguma ânsia.
 A minha boca foi parar suavemente a seu abdômen extremamente escultural, sentia seus olhos fixos em meu corpo.
 Paramos rapidamente quando ouvimos a porta a abrir-se e apressamos-nos a recompormo-nos. 
Eram duas pessoas, uma delas eu reconhecia perfeitamente as passadas.
— Mãe, Harry?– Daemon espantado gritou ao vê-los chegar perto de nós.
—Precisamos dizer-vos uma coisa, é muito importante.–Alana olhou para nós com um ar preocupado.
  Daemon sentou-se na mesa onde eu estava, enquanto nossos pais posicionaram-se à nossa frente.
— Nunca pensamos em dizer isto porque, sabíamos que tu e Yasmim não teriam nenhum tipo de relacionamento, quando a Isa fez cinco anos, apercebemo-nos dos vossos olhares mas, achamos que era apenas uma coisa de crianças. Ficamos preocupados quando vimos que afinal não era apenas isso, e só usavam o vosso ódio um pelo outro para esconderem o que realmente sentiam.– Harry começou por dizer.
— Onde querem chegar?– Daemon pareceu-me irritado.
— Vocês não podem fazer isso que estão a fazer!–Alana berrou, suas mãos estavam a suar e a voz demasiado tremula.
—E porquê?–apesar de ter consciência que nós os dois éramos casados com outras pessoas, tinha um pressentimento que não era sobre isso que estavam a falar.
— Porque são irmãos!–os dois possíveis amantes falaram em uníssono.–Isa, antes de ti eu e Alana tivemos um relacionamento, disso surgiu Daemon, como Alana era obrigada a manter-se com Roger mantemos isto em silêncio.
—Não sabemos como é possível que Daemon tenha herdado os poderes dos Tarfild mas a verdade é que isso aconteceu, talvez seja pelo facto do teu pai adotivo não saber a verdade, ele amou-te como um filho.– Harry respirou fundo depois de ter falado tudo aquilo e olhou para o rapaz.
  Olhei para Daemon, ele não tinha reação e eu também não.
  Alana começou a chorar e apoiou-se no ombro de meu pai, tenho de confessar, isso deu-me uma espécie de agonia.
Tinha a certeza que aquilo não podia ficar pior até ver Yasmim a sair de trás da porta.
— Por mais que odeie falar isto, também tenho de dizer a verdade, eu queria deixar-te em sofrimento por ter inveja de ti, mas sei que és a única com possibilidades de acabar com esta guerra.– a minha irmã começou a falar enquanto andava para onde já estávamos. 
— Do que estás a falar?–interroguei-a.
— Entendi que tudo fazia sentido quando Daemon contou-me sobre aquela tal conversa misteriosa de Augustus, tive a pesquisar nos registos do primeiro reino e  encaixa tudo plenamente.
— Agora sou eu que não estou a entender nada.–Harry interferiu.
— O pai biológico do guarda Augustus é Jonas, o antigo melhor soldado de nosso pai, quando foi descoberto a relação que o mesmo tinha com a filha da curandeira, ele foi executado.O problema está nos próximos anos de vida do rapaz, ele teve treinamento no castelo em pequeno mas  existem alguns anos que não se sabe  nada da existência dele. Reparei nesse pormenor com a aproximação que Isa e Augustus tiveram de um momento para o outro. Depois disso, foi fácil de descobrir o porquê disto tudo, apenas tive de juntar o que já sabia com o que Daemon havia-me contado.–Yasmim acabou por falar.
— Não estou a entender...– disse, muito mais preocupada que intrigada.
— Onde eu realmente quero chegar querida irmã, é que não tens poderes vindos de Harry porque,  Harry não é o teu pai biológico e sim o homem que cuidou de Augustus praticamente a vida toda, ele chama-se Edson e provavelmente já deves ter ouvido no quão poderoso ele é, Augustus não passa de um espião que cumpre ordens do teu verdadeiro pai.
   Naquele momento, não sei o que atormentava-me mais a cabeça, se era o facto de Daemon estar certo o tempo todo, de Harry não ser meu pai, de na verdade não ser irmã do príncipe ou o facto da minha irmã saber de tudo aquilo.
— E como eu posso ter esses poderes que dizes se ele não é herdeiro dos três reinos?!–perguntei-lhe, eu ainda não tinha conseguido absorver toda aquela informação e por isso, nem dei-me ao trabalho de chorar.
— Porque ele é, o teu pai é a coisa mais poderosa de toda esta terra, ele é o rei do quarto reino, onde o vento prevalece, o céu são as nuvens e as folhas caem numa dança profunda.Praticamente ninguém sabe da existência desse reino, só apenas  os mais poderosos vivem ou sabem daquele local, até mesmo o povo tem outras capacidades que o nosso.
Sei da existência dele porque um dia, quando Hanna ainda estava grávida de ti, ela levou-me lá para que eu te contasse tudo isto, e acredita, a beleza daquele sítio é incomparável a todos os outros.Espero que conheças Edson, com certeza os teus poderes vão aparecer.– por instinto abracei-a, acho que só fazíamos isto quando eu ainda era demasiado pequena para entender tudo à minha volta, ela retribuiu.
  Olhei para os outros que estavam no ocorrido e vi que estavam muito mais chocados que eu, não sei  porquê mas senti-me feliz ao saber aquilo.
— Preciso sair.– falei.
— A onde vais?– Yasmim perguntou-me.
— Tenho de esclarecer tudo com Augustus, nunca pensei que ele estivesse comigo apenas porque era um espião.– uma gota escorreu por meu rosto.
— Então estiveram juntos?!–vejo a raiva nos olhos de Daemon.
— Depois falamos disso.–corri até meus aposentos e pedi a um dos guardas que estava no corredor que chama-se o impostor até meu dormitório.
  Quando cheguei lá, sentei-me na cama e fiz de tudo para não desabar.
—Isa, posso?– a porta foi um pouco aberta e ouvi a voz rouca de Augustus.
— Podes, fecha a porta.– ele fez o que pedi.
— Isabella nem sabes, estava com tantas saudades tuas.– ele ia abraçar-me mas empurrei-o para traz, levantei-me da cama.
— Porquê que nunca disseste-me que não me amavas, que não és quem dizes ser, porquê Augustus, porque?– voltei a empurrar-lo.
— Eu queria explicar-te, juro que queria, não penses que não te amo, eu amo-te mais que tudo meu amor.–ele tenta beijar-me.
Com aquele ato, elevo a minha mão ao alto e bato em sua face que logo ficou extremamente vermelha.
— O quê que contaste ao me pai seu traste, diz-me!
Depois daquilo, ele agarra nos meus pulsos e empurrou-me para a cama.
— Nunca mais chamas-me isto, ouviste!?
— Larga-me seu nojento, larga-me?—ele arrancou um pedaço da parte de cima do meu vestido e começou a beijar o me peito.
— Tu és minha, só minha!– começou a tocar nos meus cabelos com uma de suas mãos enquanto a outra puxava a minha vestimenta para cima.
— Solta-me!–gritei para que alguém pudesse-me ouvir mas isso não aconteceu.
As suas mãos repugnantes foram para minha intimidade o que fez-me ficar ainda com mais nojo.
  Comecei a chorar e quanto mais eu tentava-me soltar mais ele prendia-me debaixo do seu corpo, naquele momento senti que ia morrer.
Aquilo era uma mistura de sentimentos, ódio, raiva, repulsa...
  Apesar daquilo tudo, isso fez ressuscitar algo que já tinha-me acontecido.
O meu corpo começou a aquecer tanto que até deixei de o sentir, posiciono as minhas mãos contra o peito do guarda, ele levantou-se e caiu. Com as poucas forças que restavam-me, fugi daquele lugar em lágrimas.
  Reparei nas queimaduras que causei ao rapaz, por um lado tenho pena de não ter feito pior, por outro, ainda bem que não o fiz, não sei o que acontecia se ficasse ali mais um minuto.
  Fui diretamente para a casa de banho, desci as escadas e passei pelo corredor onde Daemon estava a sair da biblioteca, ele seguiu-me mas eu fechei a porta primeiro.
A maior parte das coisas que tinha lá dentro era do mundo humano como o belíssimo espelho que refletia a minha cara vermelha de tanto chorar.
—Porquê comigo, porquê comigo, porquê comigo!– gritei e bati com os meus punhos no objetivo, o sangue escorria pelas minhas mãos, mas pela primeira vez em toda a minha vida, as minhas feridas começaram a sarar, muito lentamente, mas estavam.
Voltei a olhar para o espelho agora partido, e para aquela pedra que cobria o local.
— Isa, deixa-me entrar!– Daemon irritou-se.
  Eu não queria abrir, principalmente por ele ver-me naquela situação, porém senti a preocupação mesmo atrás da porta.
Abri-a e ele atirou-se para meus braços.
— O que aconteceu, estás bem?– ele ainda estava agarrado a mim quando olhou para o espelho e de seguida para meu vestido rasgado.
  Voltei a ver aquele sentimento em seus olhos que deixa-me arrepiada.
No início fiquei um pouco cautelosa com aquele toque, depois daquilo tudo, mas logo aconcheguei-me em seu ombro.
— Eu vou mata-lo, nunca mais ninguém vai tocar em ti, eu prometo!– coloquei a minha mão em sua boca para que ele se calasse.
— Já não há nada a fazer...– sussurrei e voltei a olhar para o espelho, comecei a chorar com nojo do meu próprio corpo.
— Eu sei que deve ser difícil ver isso agora, mas acredita, és a mulher mais bonita que eu já vi em toda a minha vida e só espero que um dia voltes a conseguir ver o quão linda e incrível és assim como eu consigo ver-te neste momento, estarei sempre contigo, sempre.– depois dele falar aquilo,  colocou suas mãos em meus ombros, o que fez-me esboçar um sorriso e voltar a abraçar-lo.
— Obrigada por estares aqui comigo...

 

  

Herdeiros de um só Trono Onde histórias criam vida. Descubra agora