Epílogo

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Faz precisamente cinco meses que os reinos foram reconstruídos, ao longo desse tempo, os preparativos do meu casamento e de Daemon também foram pensados.
  Tenho a dizer que, ele é apenas o melhor homem de sempre, este preenche-me por completo. Sei que ele tem alguns problemas em relação a seu corpo, assim como eu, eles foram criados pelas coisas que  aconteceram-nos no caminho mas, juntos conseguimos que isso fosse afastado quando estávamos apenas a amarmo-nos.
  Além disso, passamos a viver no segundo reino, o meu futuro marido sentia-se mais confortável com as coisas do avô por perto, Ayla estava mais feliz que nunca, fazia questão de ir brincar no jardim com Dorian todos os dias.
   Não consegui dormir a noite inteira, estava tão nervosa que até tinha vontade de vomitar, hoje era o dia, o nosso dia e sei que o casamento, assim como a coroação irão ser fenomenais.
  Eu e Daemon ainda estávamos nos nossos aposentos, deitados na cama quando, ouvimos a porta a bater.
—Senhores, posso entrar?–era uma dama de companhia e com isso, recompôs-me, assim como ele.
—Sim, entre.–falei, já sentada na cama.
—Acabou de chegar uma carta para os senhores.–a dama de companhia disse.
— E de quem é?–Daemon interrogou ao ouvir aquela afirmação.
— Do príncipe Douglas.–ela acabou por dizer.
   Nesse mesmo instante, quando o rapaz retirou a carta das mãos da senhora, ela foi embora.
  Por alguns meros segundos, Daemon ficou  apenas a olhar para o objeto então, peguei nele, rasguei aquele envelope branco e comecei a ler a folha de papel, ajeitei-me na cama.
—"Olá Isabella, olá Daemon, se estão a ler isto é porque felizmente não estou mais aqui, neste mundo." As árvores acolheram-me e foi nelas que libertei-me de mim próprio."– não sei o porquê mas, quando li aquilo, um aperto estabeleceu-se no meu peito.
— "Sei o quão mal fiz-vos, não estava em mim,e só peço que perdoem-me."
— "Sinceramente, no fundo, dês da primeira vez que vi-vos a olhar um para o outro, soube que estavam  unidos por algo maior, porém eu sempre preferi viver num sonho do que apenas aprender a viver."–ao falar aquilo as lágrimas começaram a escorrer-me pela cara.
—" E não culpem-se pelo que aconteceu, sempre fui eu que decidi estragar tudo, deixei-me ser consumido por o que estava dentro da minha cabeça, aquilo que matou-me mesmo antes de eu ter morrido."– não consegui mais ler aquilo então, dei a Daemon para que ele continua-se.
—"Antes de sair do castelo, deixei o pergaminho no local onde o encontraram, apenas acrescentei uma coisa."Sei o quão importante é para vocês então, serão os dois, os herdeiros do trono do segundo reino, além disso, isto tudo não é um adeus, apenas um até breve, sei que iremo-nos encontrar em outras vidas."– Daemon acabou de falar, mesmo depois de tudo, senti-me angustiadas por aquilo, hoje era o nosso casamento e coroação, ao ler a carta de despedida de Douglas, fiquei ainda mais impaciente.
—Vai ficar tudo bem, meu amor...–Daemon abraçou-me, não sei como ele consegue-me deixar assim tão calma.
   Lembrei-me que tinha de preparar-me para as cerimónias.
—Daemon, vou ter de ir, já estou atrasada!–falei um pouco mais alto que o comum.
— Eu também irei arrumar-me, vou buscar o pergaminho agora mas, será que não posso-te ver com o vestido?
— Não!–falei rapidamente, segui para o quarto onde as minhas damas de companhia estavam a dar os últimos retoques no meu vestido.
  No caminho, pedi para que algum dos guardas chamasse Ayla, disseram-me que ela já estava à minha espera, junto com o nosso cão, Dorian.
   Mal abri a porta, consegui ver um belo vestido branco com um tecido fino, ele era longo, com as costas abertas em V, já na parte da frente, as mangas davam pelos ombros e por toda a vestimenta existia flores bordadas.
— Uau!– foi a única coisa que saiu da minha boca, dirigi-me a ele para lhe tocar.
—Gostas-te mãe, fui eu que tive a ideia das flores.– Ayla falou, com Dorian no colo.
— Ele é lindo...
   O vestido da minha filha estava pousado  numa cadeira, este era dum rosa claro, com um pequeno laço pela cintura, confesso que não condiz muito com a personalidades da menina.
— Podemos experimentar, princesa?–uma das senhoras falou, eu fiz que sim com a cabeça.
  Ele era bem complicado de vestir, mas depois de algum esforço conseguimos.
  Quando foi a hora de abotoar os botões, estes não queriam fechar.
— Aguente só mais um pouco, está quase.– não sei bem o porquê de tudo aquilo ter acontecido, já que à uns meses atrás, quando o vestido começou a ser feito, aquelas medidas estavam perfeitas.
  Depois de alguma insistência, lá conseguimos fechar o vestido, confesso que estava um pouco desconfortável.
   Pela primeira vez, Ayla despachou-se a arranjar-se e quando dei por mim, até o cabelo dela já estava pronto, fiquei impressionada, ela levava o cabelo preso ao cimo da cabeça, o que deixava-a ainda mais bela.
 Eu calçava uns sapatos extremamente desconfortáveis, eles eram da mesma cor que o vestido, com algumas pérolas na parte superior.
  Quando o meu traje estava pronto, dirigi-me para trás, onde estava uma cadeira e um espelho à frente dela, sentei-me nela, atrás de mim, a dama de companhia começou a fazer o meu penteado.
  Decidi optar pelo cabelo ao natural, apenas pedi para que fizesse duas tranças, uma em cima da outra, de um lado.
  Quando já estava pronta, fui até Ayla, peguei-lhe na mão para irmos para o portal.
— Posso levar o Dorian?–ela perguntou-me, eu estava demasiado atrasada por isso, disse que sim. Corremos as duas pelas escadas, fomos pela porta de trás já que era mais perto para chegar ao destino.
  Ele estava dentro do tronco da maior árvore do jardim, sem pensar muito, atiramo-nos para o interior dele.
  Comecei a imaginar a entrada da floresta das almas, como ela é bela.
  Quando dei por mim, já tínhamos chegado, e pela confusão, os quatro reinos também.
  Vejo ao longe, o tapete que ia até ao altar, ele era dum vermelho lindo, e em cada um dos lados deste, tinha dezenas de bancos feitos de madeira, com flores de variadas cores.As árvores estavam cobertas de algo cintilante.
— Isa, ainda bem que chegaste, já estava a ficar preocupada, os convidados já sentaram-se todos, sabes que estás muito atrasada, não sabes?–Yasmim para ao meu lado com Edson e Harry.
— Sim, eu sei...
— Então de quê que estás à espera, o Daemon já está a aguardar-te!–mal ela diz isso, meus pais pegaram em meus braços, Ayla estava à nossa frente com uma cesta cheia de pétalas que a sua tia acabou por lhe dar.
  Comecei a tremer quando começamos a caminhar, todos olhavam para mim, o que fez-me sentir ainda mais nervosa.
—Tu consegues...– ouvi uma voz suave vinda dos assentos, instantaneamente olhei para onde o som vinha.
  Lá estavam eles, minha mãe e meu cunhado mais novo, eles acenavam-me divertidamente o que fez-me sorrir e não parar de andar.
  Depois duma longa caminhada, avistei Daemon, ele vinha de azul claro, o que lembrou-me do céu, no bolso da parte de cima levava uma flor branca lindíssima.
  Quando os nossos olhares juntaram-se, parecia que faíscas saiam, o que nos fez rir em conjunto.
  Os meus pais largaram-me e deram-me a Daemon que, estava à minha frente.
— Sei que não preciso de dizer para ele cuidar de ti, tu fazes isso sem nenhuma dificuldade.–Harry sussurou-me e assim como Edson, foram-se sentar na primeira fila onde já estava Yasmim, Ayla e o cão.
  Tínhamos uma maravilhosa vista para o lago e à nossa frente estava a feiticeira, ela começou a misturar a resina da maior árvore da floresta com a água sagrada do lago, num enorme copo dourado.
— Estamos aqui para fazer das almas de Isabella Morganster e Daemon Tarfild uma.–a senhora começou a falar, eu e meu futuro marido olhamos um para o outro e demos as mãos.
— Todos aqui presentes sabem o quão difícil foi a união de ambos, mas por obra de algo que ainda desconhecemos, os vossos caminhos continuaram alinhados.
  No tronco onde todas as coisas estavam pousadas, a feiticeira pegou numa faca, eu já sabia o que ela iria fazer, é uma tradição dos três reinos, é aquela que eu menos gosto.
  Colocamos os nossos braços para a frente para que a mesma cortasse e pudesse retirar um pouco do sangue de cada um.
—Que este sangue agora derramado seja fruto da vossa união e que nele juntem vossas  almas.– ela abriu um pequeno corto no nosso antebraço, achava que iria doer mais, ela colocou o copo debaixo de onde o sangue estava a ser derramado, depois, a senhora voltou a mexer.
  A feiticeira apresenta-nos o copo, Daemon pega nele rapidamente, bebeu-o sem  pensar duas vezes, de seguida olha no fundo nos meus olhos.
Foi nesse momento que tive a certeza que seríamos nós para o resto da eternidade.
 Faço o mesmo que ele fez, quando ingeri o líquido, a minha barriga começou a doer, o gosto não é nada bom.
 Quando fizemos isso, todos que estavam ali, ajoelharam-se quando a feiticeira ergueu no cimo de suas mãos uma enorme raíz.
—Unir-vos-ei para que sempre estejam juntos, com ela iram curar as vossas feridas e fazer delas cicatrizes da vossa união.
  A velha senhora coloca a raiz na parte em que nossos braços estavam cortados, ela dá um nó no meio.
  Partículas saem daquela junção e são levadas ao ar, elas são tão belas e de variadas cores que, só consegui parar de olhar quando, a anciã coloca sua mão em cima da minha cabeça e de Daemon.
—A floresta aceita-vos como filhos dela  e  proteger-vos-à  do que poderá  vir, assim como vocês, com a vossa junção darais a ela o vosso corpo que passa a ser só um. Assim sendo passais a ser marido e mulher.– ela diz por fim.
  Daemon não esperou por o que ela iria dizer depois, ele atirasse a mim, as suas mãos saem disparadas a minha cintura e preenche a minha boca com um beijo caloroso, é claro que eu retribui.
  As pessoas levantam-se e começam a bater as mãos com o fim da cerimônia.
— Eu sempre soube que os meus pais iriam ficar juntos!– ouço a voz de Ayla e todos desatam a rir com aquilo.
   Os presentes, voltaram-se a sentar quando, os meus pais, Ayla, Yasmim e Denise chegaram ao pé de nós.
Com eles traziam duas almofadas em tons de vermelho com duas belíssimas coroas em cima.
Voltei a tremer ao saber a responsabilidade que recaia-me quando colocasse a coroa.
   Os cinco posicionaram-se atrás de nós virados para as pessoas, nós fizemos o mesmo
— Infelizmente, não pude ver de perto o crescimento da minha filha mas, das pequenas coisas que presenciei, vi que ela seria a melhor coisa que iria acontecer  ao quarto reino.–as pessoas não ficaram alarmadas ao ouvirem falar do quarto reino já que, depois da guerra, fizemos questão que todas soubessem da presença do mesmo, muitas delas passaram até a viver lá–por isso, irei conceder-lhe o meu trono com todo o orgulho.–Edson coloca sua mão em meu ombro.
— Pelos mesmos motivos, o segundo reino também é teu, minha querida.–Harry acaba por falar.
  As lágrimas começaram a escorrer-me pela cara.
—Querido irmão, infelizmente o nosso pai já não está aqui para ver este momento mas, em homenagem a ele, concedo-te o terceiro reino.–Denise disse, vejo a mão de Daemon a tremer, agarrei-a, ele voltou a olhar para mim.
—Mãe, pai...–Ayla começa por falar mas pede ajuda a Yasmim para continuar, todos riem-se com a situação–como o bisavô não está aqui para fazer isto, serei eu a dizer que o segundo reino é vosso!–todos batem palmas, eu e Daemon ajoelhamo-nos, as coroas são posicionadas em nossas cabeças.
   Voltamos a levantar-nos e começamos a andar com nossos familiares, quando passávamos, as pessoas faziam uma espécie de vénia e felicitavam-nos pelo trono.
  Quanto mais caminha, mais sentia o meu corpo a desequilibrar-se, saí de perto de onde estavam e fui-me encostar numa árvore.
Comecei a sentir enormes pontadas no fundo da barriga e nas costas, eram tão fortes que comecei a gritar de dor, Daemon veio a correr para socorrer-me.
Posiciono as minhas mãos no local da minha dor quando, vejo um pequeno pedaço de sangue a descer da parte inferior.
  O ar parecia que estava a acabar e tinha a certeza que ia desmaiar a qualquer momento.
  Como um vulto, consigo ver Daemon a levar-me ao colo, todos começaram a correr, o portal foi aberto.
Não sei bem quanto tempo demorou até chegarmos ao segundo reino, apenas que  aquilo que estava a sentir doia-me ainda  mais.
  Ouço o barulho dos portões a serem abertos e a entrarmos pelo salão.
—Levem-na para os aposentos, irei chamar a curandeira, aparecem-se, já!–Daemon grita, sinto outras mãos masculinas a pegarem-me e levarem-me pelas escadas.
Quando a porta que presumo ser do meu quarto abre-se, sou colocada vagarosamente na cama.
O meu corpo extreme-se com a dor.
—Ahhhhh.–grito, logo depois ouço enumeras pessoas a entrarem no local.
—Vai correr tudo bem, meu amor.–Daemon agarra a minha mão.
  Uma senhora chega perto de mim, com suas mãos ela arranca parte do meu vestido, sinto seus dedos frios em minha barriga.
Rapidamente ela para.
—Ela está grávida,senhor.–ao ouvir aquilo, todos ficamos completamente chocados, confesso que durante este tempo engordei um pouco, mas nada de mais.
— E porquê que ela está assim?–Edson pergunta preocupado.
—Ela terá de ter a criança agora ou morrerá.–a curandeira fala.
  Foi naquele instante que pensei no que poderia acontecer, e se realmente tudo acabar como começou?
Senti algo molhado a descer por minha intimidade.
 Na mesa, vejo a curandeira a mexer algumas plantas, ela coloca aquela mistura em minha boca o que faz-me engolir tudo.
— Não vai acontecer o mesmo erro que aconteceu com a tua mãe mas, agora preciso que puxes com toda a força que tiveres está bem?–ela perguntou-me, eu mal conseguia falar mas fiz que sim, o suor caia-me pelo rosto, a minha garganta estava seca e tudo em mim tremia.
— Mas a criança só tem cinco meses, ela pode sobreviver?–Yasmim pergunta.
—Sim, existe possibilidades.
A senhora coloca uma toalha por baixo de mim, posiciona as minhas pernas em cada canto da cama.
—Puxe!–ela falou bem alto.
Assim o fiz, com toda a força que restava-me puxei, Daemon não saiu de perto de mim, e agarrava em minha mão.
—Só mais um pouco, está quase!
Com o resto do folgo que tinha, voltei a fazer isso.
  Senti um alívio imenso, logo depois, ouvi um dos sons mais belos de toda a minha vida, o bebê chorava.
— É uma menina, princesa.– a curandeira diz, vejo que ela pega num pano, limpa-lhe todo o sangue, embrulha-a e coloca-a no meu peito.
Começo a chorar, mas desta vez de alegria, ela era bem pequenina, mas tão linda.
  A curandeira volta, chegasse perto de nós, coloca uma coisa verde na boca da criança.
— Não tem de preocupar-se com nada, as duas vão recuperar, com isto que lhe acabei de dar, ela vai crescer uma menina linda e forte.–sorri ao ouvir aquilo.
Daemon aproxima-se, deita-se conosco na cama e acaricia a cabeça da nossa pequena.
Os outros que estavam no local, apenas vêm o momento por enquanto, de longe.
 Vejo a porta a tentar se aberta, os guardas tentam impedir a entrada da minha outra filha.
— Deixem-me entrar,  quero ver a minha mãe e minha irmã!–ouço a menina gritar.
— Ela pode entrar.– falo ainda a recuperar as forças.
Quando eles deixam-na, ela corre para ao pé de nós, salta para a cama e posiciona-se de forma a conseguir tocar na criança.
  Ela pega na mão da irmã, dá um beijo na minha bochecha e de Daemon.
—Como é que ela chama-se?–pergunta-me.
—Hanna, ela chama-se Hanna, meu amor...
 

                                 FIM  

 
 

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