Mal Camilla saiu, Ayla correu pelas escadas e vi que foi para seu quarto.
Fiquei preocupada com aquela reação, apesar de a perceber, deve ser difícil para uma criança suportar o abandono de um ente querido, eu sei que é.
Fui pelo mesmo percurso que ela, bati na sua porta.
—Posso entrar?
—Sim...–respondeu-me, apercebi-me de uma mudança em sua voz.
Abri a porta muito cautelosamente, ela estava no chão, suas mãos tapavam o rosto.
—Como sentes-te ?–perguntei-lhe apesar de já saber.
—Bem...–ela respondeu-me
—Não precisas falar disto se não quiseres mas, estou aqui para ouvir-te.
Repentinamente, depois do que falei, ela começou a chorar.
Não sabia ao certo o que fazer, então, fiz aquilo que quis que tivessem-me feito quando estava assim.
Sentei-me ao pé dela, encostada à cama e abracei-a, com todo o sentimento que transbordava por ela.
—Ela não merece as tuas lágrimas, meu amor.—falei a sussurrar enquanto acariciava a parte superior da sua cabeça.
Logo depois, coloquei a sua cara no meio das minhas mãos e enxuguei a água que escorria-lhe pela face.
—Eu sei que a vida pode ser dolorosa e por vezes até cruel, mas acredita em mim, ainda vais ser muito feliz. Por enquanto o mundo está a tentar ensinar-te a ser forte para conseguires enfrentar com muita garra o que está por vir.–disse.
—E se eu cair no meio do caminho?–perguntou-me e deitou-se no meu peito.
—Estarei lá para curar todas as tuas feridas.
Tudo o que havia dito era verdade, sempre iria estar lá para ela independentemente do que estiver por vir.
—O que achas de irmos brincar no jardim ?–perguntei-lhe.
Ela rapidamente sorriu, levantou-se com um ou dois pulinhos, puxou-me a mão e começamos a correr para a porta traseira que ia dar ao jardim.
—Está um dia lindo, não está!?– ela abriu o grande portão, saltou as escadas e quando chegou ao chão abriu os braços para o céu, começou a rodopiar.
—Realmente, está um lindo dia...–andei até chegar a um enorme pedaço de neve.
—Vem!–chamei Ayla com um gesto.
Então, ela colocou-se na mesma posição que eu .
—O que vez ali?–apontei para uma nuvem.
—Tem a forma de um coração.–falou com a maior sinceridade em sua voz.
—Sim, parece um coração.– comecei por dizer.
—Ayla, preciso que ajudes o Daemon e a mim, pode ser?–olhei para ela .
—Óbvio, o que precisam?
—Vamos dizer que o Douglas tem um papel escondido provavelmente aqui no castelo que pertence a Daemon e se nós não o encontrarmos vão acontecer coisas muito más para todos os reinos.
—E quando começamos a procurar?–rime com a atitude dela.
—Por mim, pode ser agora.
Ela levantou-se, eu ia fazer a mesma coisa até olhar para o céu e ver um nuvem com a figura da minha mãe.
—Tem cuidado meu amor, vem por aí algo que quase ninguém poderá controlar, fica do lado que o teu ser diz para tu estares...–sussurrou e desapareceu.
—Aconteceu alguma coisa?–Ayla olha para mim.
—Não, nada, vamos.–levantei-me e dirigimos as nossas atenções primeiro para o quarto de Douglas.—Sebastian!–gritei para que meu guarda ouvisse-me.
—Faz alguns dias que apercebi-me que andas com a cabeça na lua, aconteceu algo, Daemon?–Yasmim falou, ela estava comigo no escritório sentada numa cadeira sem fazer nada.
—Não, não se passa nada, apenas ando preocupado com uns assuntos muito importantes.–respondi-lhe.
—E existe algo que eu possa ajudar?–perguntou-me.
—Sim, se pudesses sair do meu escritório ias ajudar-me muito, lamento dizer mas tu desconcentras-me.–vi que ela não gostou muito mas fez o que eu pedi.
Entretanto, Sebastian chegou.
—Do que precisa, senhor?
—Já chegou alguma correspondência vinda de Douglas?–interroguei.
—Douglas apenas mandou informar que tinha rasgado o papel.
Foi quando ele disse isso que veio-me uma vontade repentina de o aniquilar.
Não faço isto pelo poder que iria ter como rei do segundo reino mas sim pelo meu avô.
—Irei falar com Harry, fique aqui.–falei para o guarda.
Desci as escadas rapidamente e fui ao salão onde normalmente realizavam-se todas as cerimónias, ele estava no trono onde normalmente permanecia, tinha um ar de tédio.
—Desculpe interromper, porém preciso falar consigo.–dirigi-me a ele.
—Diz, meu rapaz.
—Sabe tão bem quanto eu que o meu avô nunca iria dar o seu povo para uma pessoa tão desequilibrada como Douglas, eu próprio escrevi aquele documento e sei que aquilo que está lá não é o correto. Enviei uma carta ao meu irmão para que falasse a verdade mas ele não aceitou. Tenho a certeza que pretende começar uma guerra, preciso de todos os seus homens.
—Estarei a teu lado como precisares, os meus soldados estão aos teus comandos, mas peço que não te esqueças que a minha Isa está com teu irmão.
—Não se preocupe senhor Harry, nunca irei fazer nada que possa prejudicar Isabella ou Ayla.
—Então tudo bem, irei falar com Yasmim, com os teus irmãos e com os empregados para prepararem-se para o que vêm por aí.–falou Harry
—E eu irei avisar os guardas.
Voltei a subir as escadas, fui local onde antes estava e Sebastian ainda permanecia à minha espera.
—Diz a todos os soldados que chegou a hora de atacar, não quero ver nenhum arranhão na pele da Isa e muito menos na criança se não, quem vos vai matar a todos sou eu.–disse num tom um pouco mais alto que o habitual.
— Muito bem senhor.–ele saiu do escritório e presumo que foi fazer o que lhe ordenei.
Estou tão preocupado com esta situação que não consigo pensar com muita clareza, irei juntar-me na batalha com os soldados mas, por enquanto apenas irei comandar-los.
Quando as bandeiras do reino estiverem no topo, sei que eles já partiram para o terceiro reino.
Pedi também a alguns dos guardas que ficaram no castelo para avisarem a população do que estava por vir.No dormitório de Douglas não estava o pergaminho então, rapidamente fomos para o local predileto do mesmo, o escritório.
Vasculhamos todas as gavetas e até mesmo dentro dos livros.
Ouvi passos a chegarem perto daquela sala, parei perplexa quando vi uma sobra na porta.
—O que as meninas estão a fazer aqui?– Augustus falou na entrada da porta.
—Augustus fala baixo! Depois eu explico-te tudo mas, agora quero que vigies a porta, se Douglas estiver a vir bate na parede .
Ele sem entender nada fez que sim com a cabeça.
Eu e Ayla continuamos a procurar.
— Encontraste alguma coisa?–perguntei.
—Não, e tu?
—Apenas alguns papéis velhos, toma cuidado com o chão, ele tem algumas rachaduras e podes cair.–avisei-a.
Parece que quando digo para ela ter cuidado, mais aquilo acontece, e assim foi. Ayla tropeça naquele pavimento e ao tentar-se segurar coloca a mão numa parede.
—Estás bem?–digo aflita.
—Estou.–repondeu-me.
Paramos de falar quando olhamos para o que Ayla tinha encontrado.
Nesse mesmo pedaço de parede feita de pedra, abriu-se uma espécie de pequena porta feita de madeira.
—Abro?–ela perguntou-me.
—Abre.
Ali estava ele, o documento para provarmos que Daemon estava a dizer a verdade.
A nossa felicidade durou pouco quando Augustus bate na parede.
—Esconde isso aí !–sussurrei e apontei para que Ayla colocasse o papel dentro da saia.
—O que estão vocês a fazer aqui?Estava à vossa procura.–Douglas riu-se inesperadamente.
—Eu e Ayla queríamos desenhar mas já não havia mais papel no meu quarto então, viemos aqui.– não sei como aquilo veio-me à cabeça mas agradeço por ter vindo.
Ouço espadas a chocarem, o relinchar de cavalos e o gritar de imensas pessoas, infelizmente , já sábio do quê que aquilo tratava-se.
—Era disto que queria falar convosco.–ele riu-se–Acho que devem ir proteger-se, a guerra acabou de começar.
Vejo Ayla a começar a chorar e não consigo ignorar a vontade de querer Douglas fora de nossas vidas.
Peguei na menina, levei-a para o meu quarto e deitei-a na cama para que se acalma-se.
—Não quero ver isto de novo Isa, não quero.–choramingava ao recordar-se do que aconteceu na aldeia dela.
—Não te preocupes, isto vai passar rápido, vamos entregar isto a Daemon e vais ver que vai voltar tudo à normalidade.
Estava a falar aquilo para que ela não ficasse triste com o que estava a acontecer, espero que realmente isso se concretize .
Deitei-me com ela e tentamos adormecer para não ouvir aquele barulho .
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Herdeiros de um só Trono
FantasyMais perto do que todos imaginam um mundo de seres peculiares é escondido por uma barreira feita de uma imensa e poderosa magia. Esse pequeno pedaço de terra, rodeado pelo mar é Clidriam ,constituída por três reinos , cada um com as suas diferent...