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BAIZE

Eu sabia que Poul nunca mudaria, e eu sempre achei que conseguiria lidar com ele ao longo dos anos.
Todas as brigas, todas confusões no ensino médio, na faculdade, nada festas, sozinhos, eram sempre as mesmas, Poul tinha ciúmes e surtava, eu surtava junto e a gente acabava se agredindo, verbalmente e fisicamente desde sempre.
O que eu não achei era que algo dentro de mim se quebraria um dia.
E quebrou.
Assim que vi Alissa no chão.
Ela estava sempre juntando nois dois, estava sempre falando bem de Poul, ela era minha irmã. A única com quem eu sabia que podia confiar depois de Poul.

Senti meu coração doer só de relembrar a cena dela no chão tentando se levantar pra me defender.
Nunca ia conseguir me desculpar por isso direito.
Poul tinha ultrapassado a droga do limite. Se é que tinha um.


Ouvi quando Iron foi trabalhar de mansinho e ouvi Alissa e Noah na cozinha falando baixinho.

Eu tinha metido todos na bagunça que era minha vida. Iron tinha razão afinal... Eu não passava de uma confusão.

Tomei um banho de banheira sentindo os músculos do pescoço e da cintura doerem.
Meu rosto não inchou. Mais minha boca estava cortada, por dentro e por fora. E isso nem era o pior. Eu conseguia lidar com isso.
O que eu nunca ia conseguir lidar era com os estragos internos.

Meu celular tocou e eu sabia quem era.
Fechei os olhos afundando.
Silêncio... Silêncio... Eu não gostava muito do silêncio.

- Você tem que comer alguma coisa. - Ali disse me fazendo subir de uma vez.

Ela estava parada na porta do banheiro com uma bandeja.

- Você é incrível sabia? - Ela vestia um moletom rosa bebê e um avental florido.
E deu um sorriso pra mim.
Os sorrisos de Alissa limpavam a alma.

- Você é mais... Come tudo isso, é uma ordem! - Ela disse e saiu encostando a porta.

Demorei mais alguns minutos no banheiro saindo pra comer um pouco.

Vesti uma camiseta preta com uma calça de moletom na mesma cor. Era sábado e eu iria passar o dia afundada na cama.

Meu celular tocou outra vez.
Dessa vez um número desconhecido.
É claro que era ele.

Revirei os olhos e fui até a varanda respirar.

- Baize... A gente tem que ir. - Vi o rosto pálido de Alissa e de Noah mais atrás e senti o chão sumir dos meus pés.

- O que foi Alissa? O que foi? - Meu coração saltou e senti que ia cair.

Alissa se aproximou sem sangue nenhum nos lábios.

- O Poul... Ele bateu o carro e...

- Ele... tá vivo? Ele tá vivo não tá? - Ela balançou a cabeça que sim e eu corri atrás dela até o carro parado lá em baixo.

- Eu vou de moto é mais rápido. Você vai com Noah encontro vocês lá.

- Cuidado. - Ela disse seguindo Noah que falava no celular.

Ele tem que estar bem... Tem que estar bem.
Droga!

Ele tinha me ligado a noite toda.
E se ele estivesse morto e ninguém falou nada? E se ele nunca mais acordasse?
Tremi ao subir na moto.

Calma Baize... Calma..

Dei partida e disparei pro hospital.

O médico ainda estava cuidando dele enquanto a gente esperava no corredor.

Noah abraçava Alissa e eu me perguntei como ela ainda conseguia se preocupar com ele depois de ontem.
Eles deviam estar se perguntando o mesmo sobre mim eu sabia, era o que os olhos de Noah diziam.

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