#Conto001

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*Aviso: O conto é do ponto de vista da Aurora, quando ainda não sabia que o Gabriel era trans, então a narrativa inicial é ainda no feminino e se altera quando Gabriel conta que ele é menino.

#Conto001

(Play) Dandelions – Ruth B

Aurora chegou de viagem não muito tempo. Passou sete meses completos na Holanda, por causa dos novos estudos que Lauren abriu sobre investigação criminal entre curso e doutorado, e claro que seus irmãos e Karla também estavam com elas porque praticamente tiveram que se mudar por um curto período de tempo até Lauren concluir seus estudos. E para ser honesta, ela própria também começou uma especialização nova na Holanda. Voltar para Nova Iorque estava sendo estranho, depois de tudo porque já havia se acostumado com a rotina de outro país e agora, de volta ao seu, se adaptava novamente a uma outra rotina.

Foi uma surpresa quando recebeu mensagem de Gabrielle. Engoliu saliva quando percebeu que não havia trocado mensagens com ela, e estava disposta a não ter mais contato ou recaída naquele relacionamento em específico. Não que as duas estivessem em um tipo de relacionamento tóxico. Aurora lembrava-se do relacionamento de idas e vindas e sucessíveis abusos que sua mãe sofreu em um relacionamento de uma década e meia, e ela não queria parecer com sua mãe naquele aspecto, considerando que era parecida em quase tudo. Elas apenas não... Conseguiam dar certo, entrar na mesma página e nenhuma conseguia entender o motivo.

Acontece que sua ex-namorada pediu para vê-la, se isso fosse possível. Aurora hesitou em responder a mensagem por motivos totalmente seus e um pouco egoístas de não querer correr mais nenhum risco sobre ela. Acabou respondendo e em uma conversa, acabaram marcando de se encontrar, Aurora alegou para si mesma que era por amizade, que não deu certo, mas ela ainda se importava e não via motivos para não ser amiga de Gabrielle. Eram amigas antes de tudo.

Elas saíram três vezes e se divertiram tanto quanto sempre foi entre elas, quando não estavam com problemas se colocando entre elas. Aurora não contou nada para nenhuma de suas mães sobre isso. Na quarta vez, Aurora foi para o apartamento de Gabrielle, completamente consciente do que estava querendo novamente, e só por isso, ela pensou em se embebedar e colocar culpa na bebida no dia seguinte. Ela não fez.

— Eu senti sua falta, você sabe. Falta da sua companhia, da sua rigidez tão estranha para alguém da sua idade. ─ Gabrielle confidenciou, quando as risadas pararam de encher a sala pelas lembranças compartilhadas e a segunda taça de vinho. Aurora sentiu a mudança de assunto e deixou a taça em cima da mesinha de centro e olhou para Gabrielle.

Ela sorria, e seu sorriso era tão bonito quanto se lembrava de ser. Os cabelos estavam curtos, e antes, lembrava-se sempre estarem longos, crespos, batendo na cintura. Olhando bem, ela estava tão mudada... Enquanto a própria Aurora só via a imagem mais jovem de sua mãe no espelho. O estilo havia mudado, cabelo, roupas... Ela não se importava com isso porque fazia muito tempo que não se viam e ela própria havia mudado seu estilo várias vezes naquele tempo.

Aurora pensou que conheceu pessoas, namorou, chegou a ter casos insatisfatórios de uma noite só e só parou quando Karla a chamou para uma conversa séria e preocupada sobre seu comportamento, apesar de já ser uma mulher adulta. Aurora redescobriu até sua sexualidade naquele tempo separada de Gabrielle, algo que ela não teve tanto tempo para explorar por ter entrado naquele relacionamento de anos quando era muito jovem. Quando viu Gabrielle tão mudada, ela não estranhou.

Aurora pegou a taça novamente porque, ao invés de falar alguma coisa, virou todo o resto do conteúdo em sua boca, fechando os olhos com força. Colocou de lado e se virou para Gabrielle, que nem ousava interromper quando a Cabello entrava naquele silêncio insuportavelmente longo. Acontece que Aurora gostava de romper com expectativas e sempre caminhava para qualquer caminho que não fosse o imaginado por Gabrielle.

O Diabo veste PradaOnde histórias criam vida. Descubra agora