Mascarados

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*Aviso: depressão e tentativa de suicídio. O capítulo tem descrições de cenários que podem conter gatilhos.

(Talvez não seja necessário pedir isso porque é óbvio, mas sejam gentis com a Camila nos comentários. O mundo não é preto e branco.)

Mascarados

mas-ca-ra-do

adj. (adjetivo)

1. Mascarados é o plural de mascarado. O mesmo que: disfarçados, dissimulados, embuçados, encapotados, oscos...

2. Que usa máscara...

3. [Figurado] Disfarçado, Simulado...

A ficha do que aconteceu, caiu no dia seguinte do evento que encontrei Carlos. Eu tive pequenos acessos não muito admiráveis de crises de ansiedade. Quando a adrenalina passou, eu percebi o que realmente tinha acontecido.

Carlos teve coragem de tocar no meu corpo e falar comigo como se ainda fosse algo meu. Como se eu pertencesse à ele em um nível doentio que me sufocou. Se não fosse por Camila e sua ameaça tão explícita e insana, ele teria me beijado. Por dias, senti-me como se nada no mundo pudesse me manter à salvo de um desastre.

Alcançar uma nova normalidade não foi fácil, e tive dias difíceis. Aumentei minha carga horária no terapeuta quando os pesadelos com aquele homem vieram e não iam embora. Adam me ofereceu todo o suporte de sempre, cuidou de mim e ajudou que eu não sentisse crises de ansiedade após os sonhos. Foram dias muito intensos.

E no meio disso tudo, tinha Camila. Nos primeiros dias, ela sofreu sem dizer uma palavra, apenas me compreendeu e apoiou. Por diversas vezes, eu usei roupas largas, me desvencilhei das mãos dela e até beijos rejeitei. Ela aceitou até as recusas rudes, por mais simples que seus atos fossem. Eu me tornei arisca na primeira semana. E por fim, comecei a me sentir bem o suficiente para não reagir mal com ela. Uma semana de quase um retrocesso.

Meu maior medo, passou a ser o tipo de retrocesso que eu poderia ter. Cheguei muito longe no tratamento, eu superei tantas coisas que é um escárnio que Carlos tenha me feito recuar tanto. De maneira geral, eu não tive pressão de nenhum lado para reagir de maneira diferente. A única pessoa que conseguia ter contato físico comigo sem estresse, era a minha filha. Me ocupei bastante com a festa de aniversário de Adam, ajudando na decoração.

Camila nunca se aproximou sem autorização, e a cabeça dela parecia sempre bem longe. Estava com outras preocupações e repetia com frequência de que precisávamos conversar quando eu estivesse bem o suficiente para isso. Ela não quis adiantar o assunto, só que não precisava sofrer por antecedência com o que tínhamos para conversar.

Na segunda semana, eu acordo na manhã de segunda-feira, depois de um fim de semana sem vê-la, sinto saudades dela. No trabalho, Camila não faz questão alguma de ter qualquer contato físico, apenas pega o café sem agradecer (com uma leve reclamação) e toma. Eu volto para minha mesa depois de algum tempo observando-a trabalhar totalmente distraída.

— Senhorita Jauregui. – Minha chefe chama de sua sala, um pouco antes do almoço. Eu vou atendê-la. — Não é necessário buscar meu almoço hoje, cancele o pedido no restaurante.

— Mas não vai almoçar? – Pergunto, confusa com sua ordem.

Eu estranho isso. Brevemente, me recordo que não é a primeira vez que ela recusa almoçar. Semana passada, ela fez isso com frequência e não estive atenta o suficiente.

— Não! Estou sem fome. – Uma explicação simples e não muito significativa porque a fome dela não importa. Se dependesse de Karla Camila para comer, ela estaria sendo um esqueleto ambulante.

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