O Diabo veste Prada

Caos

Caos

ca-os

s.m. (substantivo masculino)

1. Confusão geral dos elementos da matéria, antes da suposta criação do Universo, do aparecimento de seres, da realidade, ou da natureza; cosmos.

2. [Figurado] Estado de completa desordem, confusão de ideias; amontoados de coisas que se misturam; desorganização mental ou espacial.

Quando saio do carro, começa a trovejar. Eu tenho que pegar uma encomenda para Karla Camila rapidamente e levar até a casa dela. Não questiono mais o motivo dela ser tão imediatista. Se é isso que ela precisa que eu faça, farei e ponto final. Com um pouco de sorte, consigo pegar a melhor joalheria da cidade ainda aberta, porém quase fechando as portas. Eu sinto os pingos da chuva cair e molhar minha pele suavemente enquanto aperto os passos e quase escorrego no chão molhado.

O tempo chuvoso não é minha maior aliada porque escorrego em coisas lisas por natureza, e isso é um hábito que está começando a se tornar incômodo também. Existem muitas coisas sobre mim que parecem mais incômodas do que antes. Agora, estou ciente do quão desajeitada eu sou, tal como desastrada. Não gosto de receber os olhares de desprezo que recebo na Vogue enquanto estou só trabalhando.

Camila é uma mulher difícil, e apesar das diversas distorções e auto sabotagem que minha mente faz, parece estar interessada em mim. Não sei qual o objetivo, mas soa até mesmo paciente quando eu derrubo algo ou simplesmente caio na frente dela (na maior parte das vezes). Não é como se eu me incomodasse com os olhos castanhos únicos para mim, quentes, selvagens e enlouquecedores. Esses olhares não causam mais efeitos negativos. São diferentes das outras pessoas da Vogue.

Trabalhar na revista me deixa com a sensação de não gostar de estar na minha própria pele... Não que eu ame ser eu o tempo inteiro, porém isso já diz muito sobre o quanto me encaixo. Eu quero tentar fazer funcionar, mas não tenho a mínima ideia de como. Como eu posso deixar de ser menos desastrada?

Olho para o balcão de vidro, cheio de alianças de casamento, colares de diversas pedras preciosas... Tudo muito lindo e caríssimo que apenas o dinheiro de Karla Camila poderia pagar tranquilamente. Eu quase sempre me esqueço do quanto minha chefe é endinheirada.

— Senhorita Jauregui? – A atendente, que foi buscar os pedidos de Camila, me chama. Eu vou até ela, colocando uma mecha de cabelo úmido atrás da orelha. — Aqui está! Tome muito cuidado, são peças delicadas e não acho que a senhorita vai querer estragar.

A moça me aconselha gentilmente. Eu dou um sorriso e assinto com a cabeça, mostrando compreensão. Espero mesmo não ocorrer nada porque o preço desses produtos me fariam abandonar meu apartamento para conseguir pagar.

— Eu imagino que Camila Cabello compre aqui quase sempre? – Questiono a atendente, com curiosidade.

— Sempre! Ela comprou as três alianças de casamento, e também costuma a comprar presentes para as mulheres que ela sai aqui. – Explica a moça, me fazendo encolher os ombros.

De imediato, penso em Dominic, na certeza que a jornalista tinha quando disse que eu não era boa o suficiente, e Camila acabaria voltando para ela. Me dá ânsia de vômito em pensar que minha chefe provavelmente quer agradar a ex dela para voltar ou coisa do tipo.

Também poderiam ser jóias para ela mesma, é claro! Ou algo para compor algum look que estava preparando para usar em algum evento próximo. Entretanto, minha mente insegura só consegue ser atormentada com a ideia de que ela pode estar querendo voltar com a ex.

Não me leve à mal, eu sei que existem motivos para se terminar um relacionamento de anos e não faz o menor sentido voltar com um ex, mas a verdade é que, não sabendo nada, tenho a sensação que Camila vivia em um relacionamento ioiô que, a qualquer hora, ela poderia voltar a ter um relacionamento sério com uma mulher que a tratava como se não valesse o tempo. Não existe motivos para se voltar com um ex, mas Camila volta.