Delicadeza

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*AVISO: capítulo pode conter gatilhos sobre agressões, abuso físico e/ou psicológico.

Delicadeza

de-li-ca-de-za

s.f. (substantivo feminino)

1. Característica do que é delicado, sutil, frágil, civil, vulnerável.

2. Fragilidade; o modo ou o material com o qual algo foi criado: a delicadeza da pétala.

3. Sutileza; caraterística pouco perceptível de algo: a delicadeza de uma melodia.

4. [Figurado] Situação problemática; que se apresenta de modo dificultoso.

Sou eu, em toda a minha fragilidade humana, a única capaz de causar o nervosismo que faz meu corpo compreender decisões que poderiam ser estúpidas. Meu corpo... Não meu corpo, mas minha mente tendo reações de auto defesa. O suor na palma das minhas mãos, a tremedeira, todos os pensamentos errados e desagradáveis que fui capaz de ter.

Dessa vez, eu não tomei remédio para controlar a minha crise de ansiedade porque ela voltaria. Não vi necessidade de tomar qualquer coisa para me fazer dormir, se o meu problema ainda iria estar ali no dia seguinte. Era recomendado fazer, mas eu não fiz. Ao que se dizia respeito ao meu comportamento e minhas próprias decisões, eu encarei. Adam e Heaven me distraíram com a noite de jogos, eu escutei música, assisti filmes ruins na televisão e aceitei o que escolhi para mim mesma.

O tratamento durante as semanas se tornam eficazes o suficiente para que eu não recue na decisão, porém ainda existe o medo irracional, a despersonalização que me traz todo esse medo excruciante do que me parece iminente, mas, no final do dia, é o que é: irreal e ilógico. Os remédios funcionam, ajudam, mas tenho que lutar contra algumas coisas por mim mesma.

— Olhe... Se quiser não ir à essa viagem, é seu aniversário, você não anda se sentindo bem... Talvez... – A sugestão deixada no ar por Adam, me faz olhá-lo um pouco perplexa.

— Não está realmente sugerindo que eu usufrua do que tenho com a Camila fora da Vogue, está? – Meu tom de voz é ofendido e incisivo. — Pai... Eu agradeço a preocupação, mas eu quero ir. Não é viajar que me tira o sono, tenho que lidar e parar de fugir. Não adianta um tratamento inteiro, se eu continuar fazer a melhor coisa que sempre soube fazer, que é me esconder.

— Não deixe seu orgulho te cegar quanto aos seus próprios limites, é tudo o que peço. – Meu pai parece justo e centrado em seu pedido. Posso lidar com isso.

— Não estaria fazendo isso, se soubesse que não conseguiria. Está tudo bem! – Prometo, dando-lhe um beijo em seu rosto. — Tem certeza que Heaven vai ficar bem essa semana? Eu não quero ficar longe dela.

Meu suspiro é tristonho. A única coisa que me deixaria triste, é não poder levar Heaven nessa viagem. Como se estivessem arrancando um membro meu. Camila também não levaria Katherine, ela ficaria com os avós. Mal vamos ter tempo para comer, quem dirá cuidar das duas crianças, então é melhor que fiquem em casa e com pessoas de confiança.

— Ela vai ficar bem! Eu sei cuidar de crianças. Normani já está em Milão. No entanto, você vai me ligar em qualquer problema... Promete? – Percebo que Adam está hesitante em me deixar ir.

— Algum problema? – Eu questiono, vincando a testa, demonstrando a minha confusão sincera.

— Jornalismo... Tenho medo de você ir de encontro a ele, e eu não estar presente. – Soube imediatamente do que Adam tem medo, então assinto com a cabeça.

Karla conhece. Normani conhece. No fim do dia, não estou isenta de me deparar com a única pessoa que eu não desejo sob circunstâncias nenhuma. Se é onde quero estar, então tenho que estar pronta para enfrentar tudo aquilo que me cerca. Não sou mais uma adolescente indefesa. Sou uma mulher feita, construindo a própria carreira e que tem orgulho de quem se tornou, já que nunca procurei atalhos para minha vida, por mais merda que ela seja.

O Diabo veste PradaOnde histórias criam vida. Descubra agora