Yane no Neko Kai

(O começo) Capítulo 6

— Então vou esperar ela no pé do morro. — dizia Kyoko no celular ao sair de uma cabine telefônica pública.

Ela tinha acabado de ligar para os policiais indicando as "demonstrações" de luta que teriam no lixão, como seu namorado chamava aquelas brigas, um deveras linguarudo quando se tratava de conversar com ela. Ele mesmo já havia falado várias vezes que não conseguia guardar segredo dela.
Kyoko não reclamava, achava divertido sempre que ele contava algo que não podia e acabava pedindo para não contar para ninguém.

— Cuidado para ele não te ver. Beijos — disse desligando o celular e olhando para a lua.

Começou a andar tentando parecer calma. Não podia deixar transparecer nada.
O caminho era reto até a usina. Ela não tinha ido tão longe assim do parque, só ficou esperando o tempo certo para que as meninas chegassem em seus devidos pontos e assim conseguir começar sua parte no plano.

Caminhou olhando as pessoas felizes e as lojas cheias de pessoas mais velhas que ela. Passou em frente a bares e restaurantes, a uma livraria e a mais alguns outros estabelecimentos, em que não deu muita importância. A brisa fresca soprava de vez em quando balançando os cabelos loiros longos que tanto chamavam atenção.

Ainda no caminho ela passou em frente a um fliperama grande com luzes em neon. Barulhos de risadas e músicas de jogos com diversas variações enchiam o lugar lotado de adolescente mais velhos do que ela, ou melhor dizendo, não eram adolescentes, e sim delinquentes e suas "marmitas", como ela chamava as meninas que se vendiam por um mísero tempo com eles para se sentirem intocadas ou tocadas, o que muitas vezes acontecia.

Sabia que seu namorado também era um delinquente, coisa que seus pais com certeza desaprovaríam se eles ao menos tivessem ideia dessa relação, o que ela fez questão de guardar até da irmã gêmea por medo da reação dela.
Mas seu namorado era diferente. Amigos de infância e por mais violento que ele fosse, ainda continuava carinhoso e respeitoso com ela e protegia os seus amigos.

Ao passar na frente tentou não olhar para dentro do estabelecimento. Não queria chamar a atenção de ninguém ou se distrair, tinha que ir ver as meninas rápido.

— Kyoko? — chamou uma voz feminina que ela conhecia bem.

Se virou para ver a amiga de sala dela, uma menina padrão japonesa. Com o corpo esguio e pálida, cabelos curtos negros e olhos escuros. Ainda usava o uniforme escolar. A saia bem mais curta do que o permitido e a blusa de botão estava aberta mostrando o cropped colado no corpo

— É você mesmo! Seu cabelo realmente se destaca na multidão, né amiga?!

— Quem é essa No-chan? — um adolescente mais alto que as meninas passou pela porta colocando o braço em volta da cintura da amiga. O menino deveria ter dezessete anos, cabelo descolorido num topete e uma cicatriz do nariz até a boca.

— Amiga da Noriko? — outros meninos saíram de lá, ao todo uns cinco meninos, contando com o que estava com a Noriko, todos com roupas largadas e cabelos chamativos. Todos delinquentes.

— CARAIO Nori-chan! Sua amiga é muito linda.

— Uma estrangeira... sempre quis pegar uma — disse um dos meninos aproximando seu rosto de Kyoko, que não se moveu. Não queria mostrar o desconforto para um bando de valentões.

— Meninos, essa é a Kyoko! — esticou a mão apresentando a amiga — Ela é mestiça e nasceu aqui.

— Mestiça? — dois deles se aproximaram enquanto olhavam para ela com olhares maldosos.

— Ela é bem calada né? — um deles fez uma pergunta retórica.

— Kyoko vem com a gente! Vamos sair para beber. — chamou a menina enquanto era acariciada pelo menino da cicatriz.