(Yin) Capitulo 18

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Novamente acordei sem fôlego, procurando o ar e tentando me acostumar com o movimento brusco que me fez sentar, enquanto meus olhos se acostumavam com a claridade que vinha da janela e das lâmpadas.
Aos poucos percebi que ainda estava naquele quarto branco com cheiro característico de medicação.
Faziam exatas duas semanas que estava lá e já conseguia mover minhas mãos. Os dedos não doíam tanto assim quando eu os mexia, apenas sentia uma fisgada quando insistia em fechá-los em um punho. Eles estavam com uma camada grossa de queratina na área das unhas, mas não ardiam mais quando os encostava em algo ou os molhava.

Levantei procurando Lala pelo quarto. A bolsa dela estava no quarto, mas só isso. Pensei que ela poderia estar falando com os médicos ou indo pegar algo para comer, então não me preocupei.

Respirei fundo tentando me concentrar e deixar aquele maldito pesadelo de lado. Quantas vezes eu teria ele novamente?

Não importava como, eu ia dormir e independente do que eu pensasse ou visse antes, era sempre o mesmo pesadelo. Era apenas ele naqueles dias, naquelas semanas.

Ele estava lá...

Ran estava lá...

Ele sempre estava lá! Nessas merdas de pesadelos que eu tinha desde o dia que entrei no hospital.

Eu odeio isso!

Eu odeio ele e como ele me fez ficar fraca, como ele fez eu me sentir, como ele tinha me machucado.
Mesmo assim, depois de tudo ele ainda estava lá, a cada piscada profunda de olhos que meu corpo cansado dava e em cada canto escuro daquele hospital. Ele estava lá!

Não gosto de dormir, por isso insistia em ficar acordada o máximo que podia, mas os remédios eram fortes, então era difícil evitar. Não gostava de olhar para o escuro, pois era como se eu visse seus olhos e o sorriso na escuridão profunda daquele quarto. Não gostava de ficar sozinha lá, sempre achava que ele estava presente para acabar com tudo.

A única coisa que me impedia de enlouquecer era a Lala e as gêmeas, que vinham sempre uma ou a outra quando era de manhã até à tarde, intercalando os horários de aulas entre elas.
Elas sempre me faziam rir e sempre estavam comigo o máximo que podiam. Por mais que eu não conseguisse dar um real sorriso feliz.

Me levantei calçando o chinelo de flores amarelas novinho que Kyoko havia comprado em uma das visitas dela. "Esse chinelo tá mais careca que os médicos daqui" disse ela quando trouxe eles duas semanas antes.
Eu só consegui pensar "poderia ser preto" , mas cavalo dado não se olha os dentes, né?!

Me alonguei respirando fundo e vi a porta aberta mostrando uma ou outra enfermeira que passava de vez em quando. Não me incomodava ela estar aberta, eu que comecei a pedir para as meninas não baterem na porta, pois isso me assustava um pouco- claro que não falei isso. Falei que o barulho era chato... mas a verdade é que estava com medo, e eu sabia que era irracional, mas não conseguia parar de pensar que quem estava do outro lado da porta era o Ran, e que ele viera dar um fim em tudo, afinal ele disse que voltaria.

Contudo aquele dia eu ganharia alta e poderia sair. Eu ia morar com a Lala e a tia Nara, então não ficaria mais sozinha em uma casa, isso era bom por um lado.

E como eu ia finalmente sair, as meninas realizariam 10 desejos meus, assim como eu pedi. Foi chantagem eu sabia, e elas não tinham ideia de que era uma chantagem absurda para concordarem com a minha ideia maluca. Um pouco de adrenalina ia fazer bem, e se acabasse me matando... Bem, que fosse.
Olha só! Não tinha lado ruim: se divertir ou morrer. Só vi vantagens!

Fui até o banheiro que tinha naquele quarto, fiz minhas necessidades básicas e lavei as mãos e o rosto com a água fria. Me sequei e olhei a minha aparência que estava já sem os machucados, não estava mais com as colorações verde e roxa do inchaço da batalha.

Yane no Neko KaiOnde histórias criam vida. Descubra agora