Yane no Neko Kai

(Yaneko) Capítulo 23

"Olheiros são famosos e raros", dizia a senhora Inoue sempre para seus funcionários e alunos. Ela sempre procurou melhorar sua academia. Sempre a espreita querendo um pouco mais de reconhecimento, mas quem não é assim?

E depois de anos ela conseguiu.

Tinha conseguido fundos do governo com a atual prefeita do estado de Setagaya.
"Uma mulher encantadora", ela falava com um sorriso falso cheio de repúdio por si só, mas fazia de tudo para manter as boas relações com uma aliada tão poderosa.
E valeu a pena.
A academia cresceu e se tornou um ponto importante de cultura para Setagaya. E com seu grande sonho de conseguir os holofotes— mesmo que sejam indiretamente — ela conseguiu.

A menos de um ano, ela fez todos treinarem o máximo que podiam, porque tinha ouvido falar que um olheiro iria passar procurando talentos. Um boato talvez, mas até os boatos tem um pouco de verdade. Então decidiu arriscar.

Agora, mais de seis meses depois da formação da Yaneko, em pleno final de inverno, chegou o famoso dia que Lala tinha se preparado tanto – antes mesmo de conhecer as gêmeas.

Lila olhava no espelho a maquiagem enquanto tentava não se sufocar com o laquê que Suyen, sobrinha da Inoue, jogava no cabelo ao mesmo tempo que andava para todas as direções exibindo seu ego para aqueles que estavam no camarim compartilhado.

Ela tinha o próprio camarim, mas hoje ela insistia em transmitir sua voz irritante para todos. "Melhor vocês não me atrapalharem!" Dizia com egocentrismo.

— Mais uma palavra dela e eu juro que a enforco com as próprias sapatilhas! — sussurrava revirando os olhos com raiva um dos únicos amigos que Lala tinha naquele local — Quer ajuda com o coque?

— Gostaria muito Takeshi! — respondia com um sorriso causado pela imagem de Takeshi tentando um homicídio — Ansioso? — perguntou quando o mesmo pegou a escova para arrumar o penteado.

— Claro! Hoje podemos receber a bolsa dos nossos sonhos. Quem não gostaria de ir estudar na The Royal Ballet School?

O sorriso que Takeshi dava pelo reflexo para a morena de certa forma não a aliviou.
Ela ficou alguns minutos a mais trabalhando na maquiagem, afinal Lala sempre gostou de inovar nas sombras, agora ela pelo menos tinha uma desculpa já que iria subir no palco.

Seria mais fácil com um profissional, mas Inoue recusava a pagar alguns funcionários para fazer isso, "Vocês tem que se virar sozinhos!", argumentava.
Engraçado que para sua sobrinha ela tinha pago um...

Não demorou muito para a maquiagem estivesse pronta e o cabelo estivesse nos últimos retoques.

— Terminei! — Takeshi era rápido com isso, isso porque era irmão do meio de quatro meninas. O único irmão, que por desventura do destino, deu um gosto sexual duvidoso para os pais que almejavam um homem bruto. Mas mesmo assim, felizmente, era amado pela família.

— Você é muito bom nisso!

— Tenho anos de prática, meu amor! — Takeshi sorria enquanto mostrava com um espelho na mão o resultado do cabelo atrás — Vai se vestir que daqui a pouco vai começar o espetáculo e não podemos ficar sem nossa Kitri.

Ele acenou com a cabeça e foi em direção aos figurinos no cabideiro.

Antes, porém, ela decidiu passar do lado do palco como sempre fazia para se preparar para as suas apresentações, era como se fosse um tipo de ritual.
Olhou atentamente o linóleo que brilhava com um pouco de luz à procura de algum desnível no piso ou algo que pudesse atrapalhá-la durante a apresentação.

A cortina grande naquele vermelho sangue deixava o outro lado do palco tão escuro quanto o lado que ela estava.
Não se conteve em passar as pontas dos dedos sobre o pesado tecido, sentindo uma energia invadi-la. Puxou alguns milímetros para o lado para ver as pessoas da plateia começando a se colocarem em seus lugares.