6-A imperadora de Roma

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O mês de março passou voando e chegamos ao dia 25, sexta-feira. Era aniversário da Susana, a última do grupo a fazer 14 anos. A mais nova e também a mais alta. Eu, a Aninha e a Ingrid fizemos uma vaquinha com o resto da nossa classe para comprar uma torta de chocolate e cantar parabéns na hora do intervalo.

A Susana não quis festa de aniversário, pois vai fazer uma megafesta quando completar 15 anos, com direito a banda e tudo o mais. De nós quatro, ela é a que tem melhor condição financeira. A mãe é farmacêutica, abriu uma grande farmácia de manipulação aqui no bairro e outra em Copacabana. E o pai é piloto de avião, deve ganhar muito bem.

A Susana é muito querida pelo pessoal da escola. Melhor jogadora do time de vôlei do CEM,deixa todo mundo eufórico em dia de campeonato, fazendo um montão de pontos. A gente teve que pedir autorização para a coordenadora, a Eulália, para comemorar o aniversário da nossa amiga. Senão, de festa surpresa, ia virar festa desagradável. E a Susana precisava mais do que ninguém de uma festinha para se animar.

O Stewart, o americano varapau que veio fazer intercâmbio, tinha voltado para os Estados Unidos. A Ingrid, como é baixinha, adora chamar todo mundo que é mais alto que ela de "varapau", e acabei pegando essa mania. Como a Susana chorou quando ele foi embora! Disse que ia ficar encalhada para sempre, já que todos os garotos da turma eram baixinhos, e que não gostava de nenhum deles.

Perto do colégio tem uma doceria que é tudo de bom! Tem cada torta deliciosa, uma mais maravilhosa que a outra. Sempre que alguém faz aniversário em casa, encomendamos o bolo lá. Fizemos uma investigação básica e descobrimos que a torta favorita da Susana é a de chocolate com doce de leite. Hummm...

— Trouxe os pratinhos e garfinhos. Ah, e uma espátula para cortar a torta — a Aninha falou,tirando tudo da mochila.

— A que horas ficaram de entregar, Mari? — a Ingrid perguntou, toda aflita.

— Pedi para entregarem às 9h30 em ponto. Vão trazer o refrigerante e copos descartáveis também.

— Eu trouxe a vela e o fósforo para acender — dessa vez foi o meu namorado lindo quem falou.

— Bom, acho que está tudo certo, né? Beleza! Reservem um espaço na barriga que falta pouco

— encerrei o assunto já com água na boca.

Quando bateu o sinal para o intervalo, não sei o que deu na doida da Susana que ela saiu correndo para o pátio.

— Estou morrendo de fome! Ficar velha me deu fome!

Assim, a lombriga dela nos ajudou a arrumar melhor a sala. Fui correndo buscar a torta na portaria e o Lucas foi me ajudar, carregando o restante das coisas.

Levei a torta para a sala e abri a caixa em cima da mesa dos professores. Ela estava envolta em um papel de embrulho vermelho, que achei bonito e deixei forrando a mesa, para evitar muita sujeira para a aula seguinte. O Lucas me entregou a vela, os fósforos e ficou encarregado de arrastar a Susana de volta para a sala.

— Pode acender a vela, Mari! O Lucas já está vindo com a Susana!

Mais que depressa, abri a caixa, peguei um fósforo e risquei com tanta força que quebrei o palito ao meio. Peguei outro, risquei e acendi a vela.

O pessoal fez a maior farra, batendo palmas e assobiando, quando ela entrou.

— Aeeeeeeeeee! Uhuuuu! Susana! Susana! Susana!

— Mari, olha! O papel está pegando fogo!

Nossa, que susto! Corri tanto para acender a vela que não devo ter apagado o fósforo direito e provavelmente o joguei ainda aceso em cima da mesa. Como virei de costas para ver a Susana entrando, nem percebi que tinha feito isso. Fiquei com cara de abobalhada olhando para o fogo,sem saber o que fazer. Até que o Caíque pegou um copo de refrigerante e jogou sobre as chamas.

Eu não acreditava! Já era a segunda vez que eu me envolvia num acidente com fogo no mesmo ano. Lembra da festa da Giovana? Será que existia algo de sobrenatural nisso tudo?

Fiquei morrendo de vergonha. Quase botei fogo na escola! Já pensou a manchete do jornal do dia seguinte? "Estudante incendeia colégio na comemoração do aniversário da amiga." Ou quem sabe: "Estudante revoltada põe fogo no colégio". Ou ainda: "Aniversário macabro incendeia o CEM". Era só o que me faltava, além de ser conhecida como uma desastrada, ainda ficar com fama de incendiária...

Depois dos parabéns, a Susana veio me consolar.

— Ai, amiga, relaxa. Deu tudo certo.

— Poxa, Susana. Eu sei que sou a rainha do mico, mas incendiária já é demais.

— Já passou! Pronto! Toma... come esse pedaço que cortei especialmente para você.

— Obrigada — fiz bico. — Desculpa mesmo.

Depois disso, nem quis chegar perto da mesa de novo. As meninas limparam tudo e deixaram um pedaço de torta para o professor Jonas não reclamar tanto da bagunça.

— Opa! Festinha, é? — ele entrou na sala e sorriu de orelha a orelha quando viu o generoso pedaço de torta. — Nossa, que cheiro de queimado!

O pessoal começou a rir enlouquecidamente. A nojentinha da Simone até chorou de tanto rir.E tão nojentinha quanto foi a pergunta que ela fez para me provocar.

— Professor, foi Nero quem botou fogo em Roma, não foi?

Mais risadas. Gargalhadas, na verdade. No fim das contas, tive que rir também.

As Mais - Patrícia BarbozaOnde histórias criam vida. Descubra agora