21-A grande final do intercolegial

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Esqueci de comentar que a Daniela, ex do Caíque, estuda no Pinheiro. A final do intercolegial de vôlei ia ser entre o CEM e o Pinheiro. A organização marcou a final no ginásio de um clube, por ser um local neutro. Não se falava em outra coisa no CEM. O jogo foi marcado para uma sexta-feira e o colégio ia em peso prestigiar as meninas do vôlei. Cinco ônibus foram alugados para levar todo mundo.

Já contei que, de nós quatro, a Susana é a que mais entende de tratamentos de beleza? Como ela treina quase todo dia, sua muito e os cabelos ficam um pouco maltratados por estar sempre presos. Ela mantém uma rotina de beleza, cuidando das unhas, dos cabelos e da pele. É só uma de nós precisar de uma mãozinha em alguma coisa relacionada a estética que a Susana ajuda

dando dicas. Mas durante as semifinais, e especialmente às vésperas da grande final, minha amiga ficou tão nervosa que esqueceu os cuidados com as unhas e as roía sem parar.

- Tira esse dedo da boca, dona Susana! - a Aninha deu um peteleco de leve na mão dela.

- Ai! Não consigo parar de roer. Estou muito nervosa.

- Por quê, Susana? Vocês treinaram bastante e se destacaram durante todo o campeonato - a Mari afagou os cabelos dela. - Vai dar tudo certo.

- O Pinheiro é bem forte. Mas tem outra coisa que está me preocupando. Minha mãe está implicando com os jogos, acha que está prejudicando meus estudos. Fala disso todo santo dia.

- Sério? - perguntei preocupada. - Você sempre conseguiu conciliar os estudos e os jogos e deu tudo certo.

- Estou meio mal em matemática. Preciso me recuperar esse bimestre para ela largar do meu pé. Eu avisei que esse jogo era muito importante, pedi para ela vir assistir. Mas ela disse que não podia. Aliás, ela nunca pode. Isso me deixa bem chateada.

- Tenta não se preocupar com mais de uma coisa agora, amiga - a Aninha falou, enquanto abocanhava uma porção de jujubas. - Se concentra no jogo e depois a gente te ajuda com a matemática. Quando você ganhar a medalha do intercolegial, tenho certeza que a sua mãe vai ficar orgulhosa.

- Isso! - falamos em coro. - Rumo à vitória!

O jogo estava marcado para as três da tarde. Nossos ônibus e os do Pinheiro iam chegando e aos poucos entramos no ginásio. No lado do CEM, o vermelho e branco imperava. Já o outro lado foi tomado pelo azul e amarelo do Pinheiro. Como o trajeto até o ginásio demorou, eu, com essa minha eterna vontade de fazer xixi a cada minuto, fui com a Mari ao banheiro, enquanto a Aninha, o Lucas e o Guiga guardavam nossos lugares. No caminho, vi a Daniela conversando com o Caíque. O clima parecia normal, não notei nenhum sinal de briga, como tinha visto naquele dia ao celular. Eles sorriam um para o outro, e meu coração ficou meio apertadinho.Será que eles iam voltar pela milésima vez?

- Anda, Ingrid! - a Mari me apressou. - Deixa esses dois pra lá um pouco. O jogo vai começar em cinco minutos e temos que voltar logo.

Corremos de volta para a arquibancada. Vi quando o Caíque voltou e sentou na fileira de baixo. Ele olhou para cima e sorriu para mim. Que estranho. Ah, mas que importava? Foi um sorriso lindo e me deixou superanimada para torcer pela minha atleta favorita.

Foi o jogo mais longo e tenso da minha vida! Estava tão difícil quanto o da semifinal. Com um agravante: a Susana se machucou no fim do segundo set e foi para o banco. Ela caiu de mau jeito e saiu da quadra mancando. Que falta de sorte! Imediatamente arrumaram um saco com gelo e ela ficou todo o terceiro set sentada no banco. Foi o set decisivo, e ela gritava, incentivando as outras meninas. Quando o CEM marcou o ponto final e foi declarado campeão, não consegui segurar o choro. Chorei feito bebê. A Susana esqueceu a dor e pulou com as colegas de time.

As Mais - Patrícia BarbozaOnde histórias criam vida. Descubra agora