Parte 2-Decida-se Ana Paula!

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  10-Oi! Eu sou a Aninha, a A das MAIS!


Todo mundo me chama de intelectual, alguns até de nerd. Não é bem assim, o pessoal meio que exagera. É que eu adoro ler! Sou frequentadora assídua da biblioteca do CEM e, como a minha mesada anda meio curta, aproveito para pegar livros emprestados por lá. Eu viajo nas histórias, fico imaginando os cenários, os personagens e fico aflita enquanto não termino de ler. Gosto muito dos clássicos, como Romeu e Julieta. Ah, outra coisa: sou viciada em cheiro de livro novo.Hummm, adoro!

Meu gosto pela literatura virou paixão quando li O mistério da fábrica de livros, do Pedro Bandeira. Ele fala, ao mesmo tempo, do primeiro amor de uma garota e de como se produz um livro. Eu tinha 9 anos quando a professora indicou esse título em sala de aula, porque a gente ia visitar uma gráfica. Aí não teve jeito! Depois daquela visita, a paixão virou amor eterno.

Outra coisa para o pessoal pegar no meu pé é que eu como muito e não engordo. Sou gulosa assumida! Não adianta, posso comer o fim de semana inteiro e na segunda-feira estou igualzinha. Aquela famosa expressão, "magra de ruim", se aplica perfeitamente a mim. As meninas morrem de raiva, mas o que eu posso fazer? Então, aproveitando essa dádiva de Deus, quando não estou usando o uniforme do colégio, estou sempre de calça jeans de cintura baixa e blusinha colorida. A família do meu pai é de Santa Catarina, e foi dele que puxei os cabelos loiros e os olhos azuis, por causa da ascendência alemã. Mas de alemão mesmo eu não falo uma só palavra.

Sou filha única, e acho que foi isso que me estimulou a gostar de livros. Eles foram meus grandes amigos e companheiros na infância, já que eu ficava muito tempo sozinha. Com a maioria dos parentes morando em Blumenau e meus pais trabalhando fora, desde cedo aprendi a me virar. Meu pai é administrador de empresas e minha mãe trabalha como secretária. Depois que ficou viúva, minha avó veio morar com a gente, há dois anos.

Daqui a alguns dias vou fazer 15 anos. Minha cabeça está a mil! Mas, infelizmente, ainda não sei se vou ter festa. Meu pai ficou desempregado por vários meses e só agora conseguiu emprego. E ainda por cima briguei com meu namorado. Que coisa chata terminar um namoro pouco antes do aniversário. Acho que vou pedir umas indicações de incensos de limpeza astral para a Ingrid, para ver se a minha sorte melhora!

Hora do intervalo. Hora de correr para a cantina e garantir aquela coxinha de frango com catupiry bem quentinha. Uma coisa que ninguém entende: por que a dona Zilda, dona da cantina do CEM, insiste em fazer pouquíssimas coxinhas? Todo dia é aquela briga para garantir o lanche mais gostoso do cardápio.

Coxinhas à parte, a hora do intervalo também é ideal para contar as últimas fofocas, dar aquela paquerada básica e ir ao banheiro, afinal ninguém é de ferro.

— Como você consegue, Aninha? — a Mari perguntou dando um longo suspiro, enquanto eu abocanhava a tal coxinha dos sonhos, já tendo, claro, um pacotinho de jujubas reservado para a sobremesa.

— Como eu consigo o quê, Mari?

— Ser tão fria! Olha lá o Guiga. Não para de olhar pra cá, tadinho!

— Tadinha de mim! — respondi bufando e fazendo bico, coisa que sempre faço quando algo me incomoda. — Não tem jeito, a gente não combina mais.

— Ah, mas ele é tão bonitinho... — dessa vez foi a Ingrid quem falou. — E o melhor: é caidinho por você.

— Eu sei que ele é bonitinho. Mas não dá, por isso pedi um tempo. E estou chegando à conclusão de que esse tempo será eterno.

— Sorte da Amanda, olha lá — a Susana apontou enquanto eu limpava a boca com um guardanapo, muito contrariada com o fim do meu salgado preferido.

As Mais - Patrícia BarbozaOnde histórias criam vida. Descubra agora