13-Completamente Indecisa

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Resolvi convidar o Guiga para a minha festa. Mandei o convite num e-mail conjunto com o resto do pessoal, mas no dia seguinte falei com ele pessoalmente.

- Recebeu meu e-mail? - perguntei, enquanto ele ia para a cantina.

- E-mail? - ele fez cara de quem realmente não sabia do que eu estava falando.

- Eu te mandei o convite da minha festa de aniversário. Queria muito que você fosse.

Ele me encarou quase que sem acreditar. Ficou me olhando bem nos olhos, o que me deixou desconcertada. Se eu tinha terminado o namoro, por que fiquei tão abalada? Nos primeiros dias depois que terminamos, eu estava com muita raiva das acusações dele sobre eu querer participar da eleição do grêmio só para aparecer. Mas a raiva passou e até fiquei com saudades do tempo do namoro. Depois pensei melhor e concluí que não dava mais para namorar o Guiga, mas queria que ele fosse meu amigo. Mesmo assim, aquele olhar me deixou sem fôlego. O que estava acontecendo comigo, afinal?

- Tem certeza que quer que eu vá na sua festa de aniversário?

- Claro, Guiga! Vai ser divertido. Você vai?

- Vou sim! - ele concordou com aquele sorriso lindo.

Nem todos os livros do mundo conseguiam explicar a minha indecisão. De repente a minha cabeça ficou confusa. De um lado, tinha planejado a minha festa de aniversário na casa do Hugo de propósito, só para ficar perto dele. De outro, fiquei toda derretida com o sorriso do Guiga. Por que tudo tinha que ser tão complicado?

Por falar em complicação, se apaixonar pelo primo é realmente querer arrumar confusão.Existe aquela velha história de que primos não podem namorar, mas a gente manda no coração?Ele é quatro anos mais velho que eu, já está na faculdade, e eu ainda nem completei o ensino fundamental. Quando percebi que estava apaixonada pelo Hugo, eu tinha só 11 anos. Ele tinha ido à minha casa entregar um bolo que a minha tia tinha mandado para a minha mãe e eu estava na sala, debruçada sobre um exercício de matemática.

- O que está fazendo, priminha? - ele me deu um beijo e sentou ao meu lado.

- Exercícios de matemática, a matéria mais difícil de todas... - bufei.

- Deixa eu ver - puxou o meu caderno.

Ele leu os exercícios e sorriu, depois me explicou com a maior paciência do mundo. Do jeito que ele explicou fez todo sentido, e fiquei até envergonhada por não ter entendido antes. Olhei em seus olhos e ele se transformou em uma espécie de herói para mim. Ele é filho único, assim como eu, por isso sempre vinha até minha casa e trazia filmes ou me levava ao cinema. E tem essa mania de me dar uns abraços de urso que me deixam sem ar.

Será que ele só me via como prima? Como aquela pirralha para quem ele ensinou matemática? Ou será que também gostava de mim e, pelo fato de sermos primos, escondia isso?Eu estava tão confusa... Pensava em me declarar durante a festa. Já tinha até ensaiado na frente do espelho um monte de vezes. Mas será que a casa dele era o local ideal? E se a gente namorasse, como meus pais iam reagir? E os meus tios? Ah, sei lá! Se ele realmente gostasse de mim, eu ia lutar até o fim. Eles teriam que aceitar.

Meus pensamentos foram interrompidos pelo telefone. Meus pais não estavam em casa, e minha avó estava tirando a tradicional soneca. Corri para atender, para não acordá-la.

- Oi, prima linda!

Era o Hugo. O tom de voz dele estava tão lindo, tão alegre... Aquela voz entrou pelo meu ouvido e fiquei toda arrepiada. Olhei para o espelho e minha cara era a de uma perfeita bobalhona, então precisei virar de costas para conseguir falar com ele de um jeito decente.

As Mais - Patrícia BarbozaOnde histórias criam vida. Descubra agora